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Formigas sao indices da riqueza da mata atlantica

OESP, Vida, p.A20
25 de Ago de 2005

Formigas são índices da riqueza da mata atlântica
Onde há muita formiga, há muito de tudo, afirma pesquisador do Programa Biota, que fez um levantamento e catalogou mais de 550 espécies do inseto no bioma
Herton Escobar
Quando se trata de descrever a biodiversidade da mata atlântica, poucas pessoas escolheriam uma formiga no lugar de uma onça-pintada ou de um mico-leão-dourado - duas grandes espécies-símbolo do bioma. Os pequenos insetos, no entanto, estão se mostrando ótimos "organismos índices", usados para representar a diversidade biológica de um ecossistema. É o que demonstra um levantamento feito por pesquisadores do Programa Biota, que mapeou toda a imensa biodiversidade de formigas no pouco que resta da mata atlântica.
O resultado é uma lista de mais de 550 espécies - várias delas novas para a ciência -, com médias regionais que chegam a 30 espécies de formiga por metro quadrado de solo. "Isso sem contar as espécies que vivem enterradas, dentro de troncos ou na copa das árvores", conta o pesquisador Carlos Roberto Brandão, coordenador do trabalho e diretor do Museu de Zoologia da Universidade de São Paulo (USP). "Escolhemos o ambiente mais rico, que é o chão da mata."
O estudo foi feito em fragmentos de mata atlântica primária com área superior a 450 hectares. Ao todo, foram coletadas 1.400 amostras em 26 localidades, de norte a sul do bioma. Para se ter uma idéia de grandeza, as ilhas britânicas juntas possuem apenas 36 espécies de formiga. "Temos quase isso em um metro quadrado de solo na mata atlântica", compara Brandão.
O mapeamento das áreas de maior ou menor ocorrência, segundo ele, pode servir de guia para programas de conservação. "Os insetos são excelentes indicadores de biodiversidade. Normalmente, se tem muita formiga, tem muito de tudo."
Os resultados, ainda parciais, também levantam uma série de questões sobre o passado biológico e geográfico da mata atlântica - bioma que originalmente cobria 15% do território nacional e hoje está reduzido a cerca de 1%. "Uma das questões que queremos estudar é como os insetos se comportam nesse eixo norte-sul", explica Brandão. "Imaginávamos que o ambiente mais rico seria no Nordeste, mas é no norte do Rio." Lá, o ponto que produziu o maior número de espécies foi o Parque Estadual do Desengano: quase 130 tipos de formiga.
A distribuição da biodiversidade dos insetos confirma a existência de três dos quatro sub-biomas da mata atlântica: 1) da Paraíba até o Recôncavo Baiano, 2) do Espírito Santo ao Rio de Janeiro e 3) de São Paulo até Santa Catarina. Faltou identificar uma quebra entre o Espírito Santo e a Bahia. As diferenças podem ser baseadas em formações atuais ou do passado, como antigas barreiras geográficas. "À primeira vista parece tudo uniforme, mas, quando você olha a diversidade de espécies, percebe essas descontinuidades", explica Brandão. "Podemos inferir coisas do passado que não deixaram marcas geológicas, mas deixaram marcas sobre a biodiversidade."
COLEÇÃO
Amostras de todas as espécies coletadas estão sendo adicionadas à coleção de formigas do Museu de Zoologia, que já soma cerca de 2 mil espécies, em quase 1 milhão de exemplares. Cuidadosamente catalogadas e presas a alfinetes, elas funcionam como uma biblioteca biológica da biodiversidade. "Se eu quiser descrever a mata atlântica, tudo de que preciso está nessas gavetas", diz Brandão. "Elas expressam a biodiversidade tão bem quanto as árvores ou qualquer outro organismo."
O projeto envolveu cerca de 30 cientistas de dez instituições ao longo de cinco anos. Também foram estudados vários grupos de vespas e cupins. O Programa Biota é financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).

OESP, 25/08/2005, p. A20

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