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A FOME MATA CRIANÇAS INDÍGENAS

Correio do Povo-Porto Alegre-RS
14 de Mar de 2005

A mortalidade entre os índios, principalmente as crianças, tem aumentado em 13 dos 34 Distritos Sanitários Especiais Indígenas, divisão que o governo federal faz das nações indígenas, entre os anos de 2003 e 2004. Os óbitos ocorrem por desnutrição, por falta de alimento. Apesar dessa tragédia continuada, na média nacional a quantidade de óbitos está caindo desde 2002, informam os relatórios. A cada mil crianças nascidas vivas naquele ano, mais de 55 morriam de fome antes de completar 1 ano. Em 2004, foram 44,4 por mil. As crianças índias morrem muito mais do que as não-índias, que, conforme dados mais recentes, têm 24 mortes para cada mil nascidas vivas.

No ano passado, morreram quase 150 bebês indígenas no país, principalmente no Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Roraima. Aqui, no RS, há sérios problemas entre os guaranis e os caingangues. Os dados estatísticos divulgados pela Fundação Nacional da Saúde, a Funasa, responsável pela saúde indígena há seis anos - quando as ações da Fundação Nacional do Índio, a Funai, foram descentralizadas - mostram que esse número de mortes é impressionante e revelador de que são necessárias ações emergenciais e de mudanças radicais na política indigenista do governo, também demonstrada pela inoportuna declaração do ministro da Saúde, Humberto Costa, de que as mortes estariam dentro dos números que normalmente acontecem.

Desde o início do século XX, o monopólio das ações do Estado direcionadas para os povos indígenas foi exercido pelo Serviço de Proteção aos Índios, o SPI, criado em 1910, sendo sucedido pela Funai, a partir de 1967. Hoje o Brasil tem pouco mais de 381 mil índios de 216 povos. Já foram, segundo especialistas, mais de 1,5 milhão antes do contato com o homem dito civilizado. Apesar de os governantes demonstrarem preocupação com os índios desde o Império, o que se vê, porém, é uma ignorância generalizada dos tomadores de decisão a respeito da situação indígena. Esse desconhecimento está entranhado na vida pública, sendo resultado da metódica ausência dos índios, pouco presentes nos livros escolares e até mesmo das matérias oferecidas em cursos de graduação, além da formação ineficaz de gestores capacitados a conhecer esses povos e interagir com eles. É preciso mudar. Crianças não podem morrer de fome, índias ou não. É uma indignidade.

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