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Fome cresce no mundo, mas cai no Brasil: relatorio da FAO aponta reducao de famintos na populacao brasileira principalmente durante a gestao FHC

FSP, Brasil, p.A10
26 de Nov de 2006

Relatório da FAO aponta redução de famintos na população brasileira principalmente durante a gestão FHCFome cresce no mundo, mas cai no Brasil
FERNANDO CANZIANDE WASHINGTON Houve um aumento do número de pessoas que passam fome no mundo na década passada (de 1990 a 2001), mas o Brasil conseguiu reduzir de 12% para 9% o percentual de famintos entre a população. No início dos anos 90, 18,6 milhões de pessoas eram consideradas subnutridas no país. Hoje, esse número caiu para cerca 15,6 milhões de pessoas.Em termos proporcionais, o Brasil tem hoje quase a metade do percentual de subnutridos em relação à média dos países em desenvolvimento, de 17%.Os dados são de relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) sobre subnutrição no mundo divulgado ontem em Washington (Estados Unidos).Segundo o documento, o número de famintos no mundo soma hoje 842 milhões de pessoas, a maioria na África e na Ásia.No Brasil, boa parte da redução na década passada ocorreu durante sete anos do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. A prioridade dada pelo governo de Luiz Inácio Lula da Silva ao programa Fome Zero é elogiada no relatório da FAO, mas o órgão afirma que "ainda é muito prematuro para dizer se o programa terá sucesso".Previsão"Acreditamos que o Fome Zero tem todas as condições e medidas para ser bem-sucedido quando estiver implementado. Até aqui, não temos indicações das conquistas já obtidas", afirmou Hartwig de Haen, diretor-geral-adjunto da FAO durante entrevista.Questionado pela Folha sobre no que o Fome Zero poderia diferir das políticas do governo anterior, Hartwig de Haen afirmou não ter "como responder".Haen disse, no entanto, que Lula vem demonstrando "vontade política" e que o problema da fome trouxe um novo "envolvimento nacional" no Brasil.Apesar dos avanços, o Brasil continua tendo mais famintos do que países como o Chile (4%), Equador (4%) e Uruguai (3%).América do SulNa América do Sul, a Bolívia segue no primeiro lugar em número de desnutridos, com 22% da população, apesar de uma redução de quatro pontos percentuais na década passada.Entre 1990 e 2001, a Argentina figurou como o único país sem subnutridos na região, mas a FAO ressalta que o relatório apresentado ontem não mediu os efeitos da crise econômica por que passou o país nos últimos dois anos.Com exceção da Venezuela, todos os países da região tiveram redução ou mantiveram estável o número de famintos. Os subnutridos na Venezuela passaram de 11% em 1990 a 18% em 2001.A FAO já considera impossível atingir a meta de reduzir pela metade (tendo 1990 como base) o número de famintos no mundo até o ano de 2015.RetrocessoO estudo mostrou a reversão de uma tendência de melhora na primeira metade dos anos 90, quando a população subnutrida no mundo foi reduzida em 37 milhões. Na segunda metade da década, no entanto, houve um aumento de 18 milhões.Entre os 126 países pesquisados, apenas 19, incluindo a China, tiveram redução no número de subnutridos entre 90 e 2001.Entre os 842 milhões de famintos do mundo, 798 milhões estão nos países pobres ou nas nações em desenvolvimento.Segundo o relatório, as nações que reduziram a fome em geral também tiveram um crescimento econômico mais acentuado, diminuíram a taxa de natalidade, melhoraram indicadores de saúde e educação e registraram menos infecções por HIV.Embora a ONU quantifique em 2.800 calorias diárias a nutrição ideal, o órgão informa que o critério adotado pela FAO leva em conta "um número significativamente menor de calorias e de refeições diárias consumidas" nos países pesquisados.
Para governo, relatório é importante e incentiva
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA DA FOLHA ONLINE O ministro José Graziano (Segurança Alimentar e Combate à Fome) considerou importante o reconhecimento da FAO (Organização das Nações Unidas para a Agricultura e a Alimentação) ao programa de combate à fome do governo Luiz Inácio Lula da Silva."A nossa missão é mais radical do que reduzi-la. Propusemos acabar com a fome no país, e esse é o objetivo do programa Fome Zero", disse o ministro, antes da reunião do Consea (Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional), no Palácio do Planalto.Graziano afirmou que ainda não havia lido o documento.A FAO, sediada em Roma, na Itália, tem como objetivo aumentar os níveis de nutrição, melhorar a produtividade agrícola e também as condições de vida das populações rurais.Em seu relatório, a organização apontou redução do número de famintos e subnutridos no Brasil de 1990 a 2001. O documento das Nações Unidas também citou o Fome Zero e a promessa de Lula de erradicar a fome como um dos "sinais encorajadores".Ao ser questionado sobre as críticas que o Fome Zero já recebeu desde o início do ano de especialistas e de políticos, Graziano disse que "é bom recebê-las"."Temos recebido muitas críticas construtivas, que nos ajudam a encontrar o caminho certo. Mas também há muitas disputas eleitorais", afirmou o ministro, reiterando que o programa é um dos mais bem avaliados do governo em pesquisas de opinião.Graziano afirmou ainda que na próxima semana participará da reunião anual da FAO para expressar o apoio do governo brasileiro ao combate à fome.GenoinoO presidente do PT, José Genoino, afirmou que o relatório da FAO incentivará o programa Fome Zero, do governo federal."É uma notícia positiva que fortalece a vontade do presidente [Luiz Inácio Lula da Silva] de colocar a questão social no centro das ações de governo. O nosso governo tem o compromisso radical de combate à fome e de defesa da inclusão social", disse o presidente nacional do PT.Ele também fez uma defesa do programa do governo. Disse que o Fome Zero está começando a se estruturar e vai produzir mais resultados positivos na medida em que estiver organizado nacionalmente e as ações forem mais coordenadas e eficazes.
FSP, 26/11/2003, p. A10

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