VOLTAR

Fome afeta 90% das vilas quilombolas

PrimaPagina
04 de Jan de 2005

Descendentes de escravos refugiados, assim como seus ancestrais, fazem parte da camada mais baixa da escala social, aponta pesquisa

As 144 comunidades quilombolas do Brasil formadas por descendentes de escravos refugiados vivem, assim como seus ancestrais, na camada mais baixa da escala social brasileira. Um levantamento do governo federal indica que em 126 (86,11%) comunidades quilombolas predominam famílias que tinham, em 2003, uma renda de no máximo dois salários mínimos por mês. Na população brasileira, a proporção é menor: 32,71% dos domicílios vivem nessa faixa de renda, de acordo com a PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) de 2003.

O rendimento dos descendentes de escravos vem sobretudo de transferências de recursos públicos, como aposentadoria (fonte de renda familiar em 126 comunidades quilombolas, ou 87,50% do total) e programas sociais (48, ou 33,33%). No Brasil, apenas em 73 cidades há mais de 30% da população dependente de transferências de verbas governamentais. A produção agrícola é um dos meios de sustento em 87 comunidades quilombolas (60,4%).

O levantamento do governo federal foi feito a partir de um questionário elaborado pelos Ministério do Desenvolvimento Social, da Agricultura, da Saúde, da Educação e do Desenvolvimento Agrário, e também pela Secretaria Especial para Política de Promoção da Igualdade Racial e pela Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura. O resultado deu origem ao Sicab (Sistema de Informações das Comunidades Afro-Brasileiras), no qual foram investidos R$ 69 mil. Algumas informações, porém, estão incompletas, já que nem todas as comunidades dispõem dos dados requisitados no questionário — das 144 localidades, 20 não sabem, por exemplo, quantas famílias abrigam.

O Sicab aponta que, apesar de a agricultura ser a atividade principal de boa parte das comunidades, 129 locais abrigam pessoas que passam fome em 27, a fome atinge todas as pessoas da comunidade e em 55, a grande maioria. O problema é atribuído à insuficiência da produção local para garantir a alimentação da população. Em 188 comunidades (81,94%), o grupo mais atingido são as crianças.

O sistema também reúne dados sobre educação, criação de animais e pesca, cultura, direitos do cidadão, fontes de alimentos, população, meio ambiente, programas sociais, saúde e caracterização da terra.

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.