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Floresta perdida

O Globo, Ciência, p. 35
18 de Dez de 2008

Floresta perdida
Rio de Janeiro e São Paulo aceleram destruição da Mata Atlântica

Soraya Aggege

O desmatamento da Mata Atlântica voltou a crescer nas regiões metropolitanas de Rio, Espírito Santo e São Paulo. Levantamento concluído ontem pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e pela Fundação SOS Mata Atlântica revela que as três regiões desmataram um total de 793 hectares (7,9 mil km2), o equivalente a 990 campos de futebol como o Maracanã, entre 2005 e este ano. Há três anos, a tendência era de redução no desmatamento. A causa do aumento está relacionada principalmente à especulação imobiliária.

- Nós comemorávamos uma queda no desmatamento, mas a situação se tornou muito grave rapidamente. Esperamos que o estudo sirva de alerta para as autoridades. Se a mata próxima às metrópoles for suprimida, a vida das pessoas ficará comprometida. Estão envolvidos nisso, por exemplo, o abastecimento de água, os deslizamentos - disse a diretora da SOS Mata Atlântica, Márcia Hirota.

O caso mais grave foi identificado em São Paulo. Nos últimos três anos, foram derrubados 437 hectares de floresta na região metropolitana, nove vezes mais que entre 2000 e 2005.

Além da grande quantidade de floresta remanescente destruída, mais de 200 hectares foram desmatados na região do Sistema Cantareira, responsável pelo abastecimento de água de mais da metade da população da região metropolitana de São Paulo. Outros 201 hectares foram desmatados na região do Rodoanel.

- O pior é que os satélites mostram apenas as áreas desmatadas maiores. Não falamos da construção de uma ou outra casa. E não falamos de queimadas. Podem ser grandes condomínios, por exemplo - disse Márcia.

Já na região metropolitana do Rio de Janeiro, o desmatamento dobrou, de acordo com a pesquisa.

O número absoluto de derrubada de floresta nativa na região é de 205 hectares nos últimos três anos, contra os 94 relatados entre 2000 e 2005.

Os municípios de Itaboraí e Nova Iguaçu são os mais críticos, este último com desmatamentos no entorno da Reserva Biológica do Tinguá. A taxa anual de desflorestamento nos últimos três anos aumentou 3,6 vezes se comparada com o período entre 2000 e 2005.
- Nós não sabemos as causas do desmate. Não notamos queimadas, mesmo no entorno do Tinguá. O mais provável é que seja a pressão imobiliária - afirmou o pesquisador do Inpe Flávio Jorge Ponzoni.

A diretora da SOS disse que, ao analisar as imagens dos satélites, ficou impressionada também com o desflorestamento perto da Pedra Branca e nos morros junto à Baía da Guanabara.
- Nós encaminharemos o estudo para as autoridades. Tudo leva a concluir que se trata de especulação imobiliária e ocupação irregular. E não podemos ter mais mortes por causa das ocupações irregulares- disse Márcia.
Os dados anunciados mostram que na região metropolitana de Vitória, no Espírito Santo, 150 hectares foram suprimidos, contra 86 no período anterior.

Neste levantamento concluído ontem não foram identificadas alterações em áreas de mangue e restinga, apenas em florestas nativas. Em maio de 2009 a SOS e o Inpe divulgarão os dados do "Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica", com os 3,4 mil municípios abrangidos pela Mata Atlântica.

A idéia, segundo a ONG, é que os prefeitos eleitos e os vereadores possam contribuir para a proteção da Mata Atlântica. A SOS Mata Atlântica e o Inpe, passarão a anunciar o monitoramento a cada dois anos e, a cada quatro anos, farão um balanço correspondente às gestões, sejam elas municipais ou estaduais.

Distribuída ao longo da costa, a Mata Atlântica abrangia 1.300.000 km², ou 15% do território brasileiro.

O Globo, 18/12/2008, Ciência, p. 35

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