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FILHA DE APOENA EM DESABAFO, CRITICA ECA E ELOGIA PROMOTORIA QUE MANDOU ASSASSINO CONFESSO DE VOLTA PARA CADEIA

Rondoniagora-Porto Velho-RO
Autor: Tainá Maldi S. de Meireles
29 de Out de 2004

Em contato com o RONDONIAGORA, a filha do sertanista Apoena Meirelles, assinado no último dia 9 em Porto Velho, revela a indignação de parte da família em relação a conclusão do caso. Tainá Meirelles mora atualmente em Genebra, na Suíça, tem 28 anos e trabalha como assistente financeira. Ela e parte da família não concordam com o perdão dado pela mãe de Apoena ao adolescente que tirou a vida do sertanista durante assalto em banco eletrônico. CONFIRA NA ÍNTEGRA O DESABAFO DE TAINÁ MEIRELES, QUE SE INICIA COM ALGUNS ESCLARECIMENTOS:

"Permito-me escrever esse e-mail à você depois de discutir o assunto com amigos da família e companheiros na indignação com a qual o caso do assassinato do meu pai tem sido tratado e da forma que estão correndo à revelia. Não se salienta, por exemplo, que no dia do crime meu pai não sacara nenhum dinheiro no caixa eletrônico; que o celular de meu pai desapareceu, quando deveria estar de posse do delegado (meu irmão chegou a telefonar para o número, um homem atendeu e desligou em seguida) da polícia; que a polícia de Porto Velho recebeu outras queixas de furtos cometidas pelo menino, mas pelo fato dele ser menor, essas informações não são difundidas.

Resta-me contar com a imprensa para ajudar-me com que esse caso não caia no abandono. Mais do que como filha, a minha indignação é como cidadã. Cidadã de um país de leis ambíguas, como se feitas para gerar a possibilidade de duplas interpretações, como no exemplo do assassino de meu pai que foi solto e que, graças à Promotoria Pública, foi preso de novo. Não sou advogada, mas o artigo do Estatuto da Criança e do Adolescente reza no Artigo 106 do Capítulo II dos Direitos Individuais que:
"Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente. "

Mesmo sendo réu confesso, o menor não pode ser preso!!! Segue abaixo um desabafo que escrevi. Deixo-lhe à vontade para editar, se necessário, o artigo e o e-mail, juntando ou omitindo partes, o que você achar como melhoria para um melhor entendimento do público sobre o meu ponto de vista.

Um grande abraço,

Tainá Meireles"

O DESABAFO DA FILHA DE APOENA

"É extremamente revoltante o sentimento de impunidade que reina neste País. É árduo e penoso descobrir que crimes hediondos terminam por ser adjetivados de banais, tamanha a profusão de violência a qual somos expostos-e pior- tamanho descaso com o qual os mesmos (não) são julgados.

Hoje o que tenho em mim é uma mescla de repúdio e indignação. Indignação pela violência inescrupulosa com a qual tiraram a vida de um pai. Repúdio pela crueldade com a qual aniquilaram a vida de um indigenista cuja missão maior era dedicar-se àqueles que só foram lembrados no Brasil quando se comemorou os 500 anos do descobrimento ou quando traz-se ao saber público a riqueza de suas terras. Apoena não deixou somente órfãos seus quatro filhos - deixou também órfão etnias e povos que já não têm mais em quem acreditar.

O mais duro, o mais difícil de suportar, o que me deixou com o peito destroçado de tanta mágoa e dor é que esse crime não foi fruto da miséria do país. Não foi um menino de rua, desses sem eira nem beira, que não tem uma família para amar e ninguém por quem ser amado. Não. Essa atrocidade foi cometida por alguém provido de pai e mãe, de amor, de saúde e educação. Alguém me explique, meu Deus, o que leva um menino como este a cometer um assassinato a sangue frio? Seria cachaça com Coca-Cola razão suficiente para dar coragem a um adolescente a levá-lo a tamanha barbaridade? Se for este o caso, por favor, proprietários de bar, não vendam mais Coca-Cola nem cachaça. Também fui adolescente e também ingeri bebidas alcoólicas, e digo mais, também houve diversas ocasiões em que meus pais não me deram dinheiro para sair com os amigos, mas nem por isso matei alguém.

Não sou advogada e nem uma exímia conhecedora do código penal ou do Estatuto da Criança e do Adolescente, mas não sei o que leva um juiz - advogado por profissão - e provavelmente também pai de família , a colocar na rua um assassino confesso, frio e sem escrúpulos, que tirou a vida de um ser humano hoje e que pode a qualquer momento fazê-lo novamente.

Não sei o que leva um menino saudável a cometer um crime como este, mas imploro ao poder judiciário brasileiro, que, por favor, não deixe que este crime seja esquecido nas manchetes dos vários jornais onde foram publicados. Não deixe os filhos de Apoena -e aqui incluo todas as nações indígenas deste País - acreditarem que a justiça não existe ou que não irá até o fim com as investigações, trazendo à tona a verdade por detrás dos relatos ambíguos que discorreram sua morte.

Ou terei eu que, diante dos Suruí, dos Cinta Larga, dos Krenakarore, dos Gaviões, dos Xavantes, dos Karajás, pedir perdão pelo governo relapso e inconfiável que rege este País?"

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