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Festa da Carnaúba reafirma cultura da etnia Tapeba

O Povo-Fortaleza-CE
21 de Out de 2003

Uma festa para reafirmar as origens e ser intercâmbio entre as diversas realidades culturais da etnia Tapeba. Com esses objetivos foi realizada ontem a Festa da Carnaúba. Uma celebração pela vida que já está no quarto ano consecutivo e que reúne o melhor da culinária, artesanato e esportes indígenas

Criança Tapeba durante a Festa da Carnaúba: evento reuniu arte, culinária e cultura (Foto: Eduardo almeida)

A arte, a culinária e os ensinamentos da cultura Tapeba reunidos por estudantes das escolas indígenas com a orientação de professores da própria etnia. Assim, com muita paçoca, mocororó (bebida fermentada a base do caju), tapioca, cocada e mel de abelha foi realizada ontem a IV Festa da Carnaúba, às margens da Lagoa dos Tapebas em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza. A celebração é mais que uma homenagem a árvore considerada base da economia e cultura daquela região. Representa o intercâmbio entre as diversas realidades presentes nas comunidades Tapeba e a reafirmação de um povo que resiste.

A Festa da Carnaúba marcou o encerramento da III Feira Cultural Tapeba e II Jogos Indígenas Tapeba, promovidos nos dias 18, 19 e 20 últimos. Índios, índias e curumins disputaram provas como arremesso de lança, queda de braço, arco e flexa, cabo de força, natação e triathlon e corrida com a tora da carnaúba. Nessa prova, equipes de quatro integrantes se revezavam levando um tronco de carnaúba por mais de um quilômetro. Ganha a equipe que concluir o percurso primeiro.

Cada uma das oito Escolas Diferenciadas Tapeba de Ensino Fundamental e a única creche da comunidade montou uma oca a partir da fibra da carnaúba para exposição de material na feira. Lá, eram vendidas plantas medicinais, artesanato produzido pelos próprios alunos (bolsas, colares, peças decorativas de cerâmica), comidas típicas, como o acunhambá (bebida indígena a base de frutas) e outras nem tanto, como refrigerantes e sorvetes.

Os índios e visitantes também puderam comprar material de higiene, cosméticos e medicamentos feitos a base de plantas medicinais na oca da Farmácia Viva Tapeba. Óleo de juá, shampoo de babosa, xarope, pomada milagrosa (para coceira e feridas) e a já conhecida Garrafada. Já no rótulo, o produto promete resolver problemas ginecológicos a base de ipê roxo, aroeira, ameixa e raiz de chanana. Os preços variavam de R$ 1,50 (para a pomada milagrosa pequena) à R$ 4,00 (shampoo grande).

''Os professores passam esses ensinamentos aos alunos, que não sabiam fazer as peças antes'', explica o vice-presidente da Associação de Professores Indígenas Tapeba (Aproint), Weiber Tapeba. Segundo Weiber, parte da renda arrecadada com a venda das mercadorias será destinada às escolas diferenciadas Tapeba. ''Falta estrutura de ensino. Em algumas escolas, as professoras não têm condições de escrever no quadro. Esse dinheiro será para sanar algumas dificuldades, como comprar uma cadeira, um birô'', exemplifica.

Ele diz que há escolas que esperam por recurso para realização da festa do Dia das Crianças, que ainda é esperada pelos alunos por falta de condições financeiras. Weiber acrescenta que a merenda escolar é outro problema enfrentado por estudantes e professores. ''Tem aluno que não come nada antes de ir para a escola e quando falta merenda as professoras têm que liberar a turma mais cedo. A merenda resolveria um dos graves problemas que temos, que é a evasão escolar'', alerta. Ele informa que estão matriculados 902 alunos, mas que ainda não se estimou os números da evasão escolar. O valor da merenda por cada aluno é de R$ 0,18 por dia. Os índios querem que esse valor passe para R$ 0,34.

A assistente técnica do núcleo de educação escolar indígena da Seduc, Rosa Carlota Freitas, disse que a merenda escolar é um programa federal e que portanto a reivindicação de aumentar o valor para R$ 0.34 não cabe à Seduc. Quanto à falta de infra-estrutura nas escolas, Rosa disse que o problema já vem sendo discutido com a comunidade e as providências estão sendo tomadas.

Os eventos esportivos e culturais e a festa da carnaúba foram realizados pela Aproint e escolas indígenas, com apoio da Fundação Nacional do Índio (Funai), Associação Missão Tremembé (Amit), Fundação Nacional de Saúde (Funasa), Secretaria da Educação do Estado (Seduc), dentre outras entidades. O Conselho Regional de Enfermagem também participou da Feira Cultural montando uma tenda (em vez de oca) para realização de exames de glicemia, prevenção do câncer de mama, colo de útero e verificação da pressão arterial. Os índios eram orientados ainda sobre Doenças Sexualmente Transmissíveis (DSTs) e como combater a Dengue

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