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Federais vão investigar índios

CB, 27/04/2004, p.20
27 de Abr de 2004

Federais vão investigar índios
Corpos de 15 garimpeiros encontrados na selva são enterrados sem identificação. PF recebe relação com nomes de 12 cinta-larga que teriam participado do massacre

Nos últimos dez dias, cerca de 70 garimpeiros prestaram depoimento a agentes da Polícia Federal (PF) em Rondônia. A maior parte deles mora em cidades como Espigão D'Oeste, Pimenta Bueno e Cacoal, municípios próximos à reserva indígena Roosevelt. Durante a Semana Santa, um confronto entre índios da etnia cinta-larga e garimpeiros deixou 29 mortos na área. Dezesseis foram enterrados ontem - um em Pimenta Bueno, e 15, que não foram identificados por familiares, em Espigão d'Oeste. Os demais já haviam sido enterrados.

Nos caixões foram anexados placas com o número do processo da PF, que investiga as mortes. O sindicalista Celso Fantin disse que o número do processo pode facilitar a identificação futura, já que médicos do Instituto Médico Legal (IML) de Porto Velho recolheram amostras dos corpos e de sangue de pessoas que procuraram parentes desaparecidos para exames de DNA. Cerca de 300 pessoas, segundo a Polícia Militar, participaram do enterro em Espigão d'Oeste.

Depoimentos
De acordo com o representante da PF no estado, Marco Aurélio Moura, os depoimentos dos 70 garimpeiros serão úteis na investigação dos assassinatos e das atividades ilegais praticadas na região. ''Vamos interrogar os índios também. Mas ainda não há uma data definida para isso acontecer. Estamos planejando onde e como será esse interrogatório'', afirma Moura.

Coordenador da força-tarefa enviada pelo governo federal a Rondônia, o delegado Mauro Spósito conta que o Sindicato dos Garimpeiros entregou no final de semana uma lista com nomes dos 12 índios que teriam liderado os assassinatos. ''Estamos com essa lista, mas nossa investigação não se restringe a ela. A lista, inclusive, tem vários nomes repetidos'', diz Spósito. Segundo o delegado, a PF e o Exército continuam na mata em busca de possíveis novos corpos. Oito barreiras foram montadas ao redor da reserva. Cerca de 280 agentes de 23 órgãos federais diferentes atuam na área neste momento.

Cinco representantes do Sindicato dos Garimpeiros do Espigão d'Oeste, em Roraima, reuniram-se ontem com o senador Waldir Raupp (PMDB-RO). Eles pedem apoio aos garimpeiros que vivem na região próxima à reserva indígena Roosevelt. Os garimpeiros acusam os índios de estabelecer contratos que autorizavam entrada na reserva com o apoio da Funai. A assessoria da Funai nega as acusações.

Desaparecidos
Desde o dia 8 deste mês, a Polícia Federal mantém agentes dentro da reserva Roosevelt, em busca de corpos de garimpeiros mortos no confronto com índios cinta-largas no dia 7 passado. Desde então, a PF já retirou 29 corpos da área - três no dia 11 e 26 no dia 19.

Segundo o sindicalista Celso Fantin, do Sindicato dos Garimpeiros de Espigão d'Oeste, a 534 km de Porto Velho, pelo menos 14 homens ainda estão desaparecidos na reserva. A PF diz não ter uma lista oficial de garimpeiros desaparecidos. ''Como era um garimpo clandestino, quem tem coragem entra. Não existe essa lista oficial'', afirmou François René, assessor de imprensa da Polícia Federal.

De acordo com a PF, as buscas na reserva passaram a fazer parte da fase Mamoré da Operação Rondônia - que foi deflagrada no dia 20, com prazo de 180 dias e objetivo de coibir o crime organizado no estado. A última etapa será focada na fronteira com a Bolívia. De acordo com René, a fase Mamoré assumiu uma prioridade por conta das mortes dos garimpeiros. Segundo ele, 480 funcionários de 23 órgãos do governo federal, incluindo as Forças Armadas, participam da Operação Rondônia.

OEA cobra explicações
O governo brasileiro foi convocado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) para uma audiência pública sobre o presídio Urso Branco, de Rondônia, por não ter cumprido o acordo para impedir a superpopulação e novos motins no local. Junto com a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da OEA, a Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Porto Velho e o Centro de Justiça Global, representantes do governo terão que comparecer na sede da corte, na Costa Rica, em 28 de junho, dar explicações sobre o não cumprimento das medidas acertadas em 2002, após motins com morte no presídio. Na época, o Brasil ficou de informar, a cada dois meses, a situação do Urso Branco: número de presos, de condenados dos liberados, novos detentos, mortos e feridos.

CB, 27/04/2004, p. 20

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