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FBI acompanha no Pará investigação da morte da freira

OESP, Nacional, p. A10
26 de Fev de 2005

FBI acompanha no Pará investigação da morte da freira
Agentes visitaram na prisão os dois pistoleiros e o acusado de ter intermediado a contratação dos matadores de Dorothy

Leonel Rocha
Enviado especial
Colaborou: Tânia Monteiro

Altamira - Dois agentes do Federal Bureau of Investigation (FBI, a polícia federal dos Estados Unidos), chegaram ontem ao Pará com o objetivo de obter informações sobre o assassinato da missionária Dorothy Stang. O governo dos EUA enviou os dois agentes porque a freira é de origem americana e naturalizada brasileira.
Ricard Cavalieros, adido substituto do FBI no Brasil, e Oscar Montoto, agente especial de Miami, visitaram Rayfran Sales, Clodoaldo Batista e Amair Feijoli da Cunha na penitenciária de Altamira, onde estão presos. Os dois primeiros são acusados de serem os matadores; o outro, o intermediário, a serviço do grileiro Vitalmiro Bastos, o Bida.
Os agentes americanos estavam acompanhados do delegado Walame Machado, responsável pelo inquérito na Polícia Federal. Eles fotografaram os presos e vão receber, já traduzidas para o inglês, cópias dos inquéritos que estão sendo concluídos amanhã pelas polícias Federal e Civil.
Os dois policiais americanos disseram aos policiais brasileiros que o interesse do FBI pelo assunto é alimentar o arquivo da instituição com as informações sobre a morte da missionária. Eles não tomaram depoimentos dos acusados, apenas conversaram com os presos sobre o tratamento que receberam das polícias brasileiras para evitar, no futuro, qualquer denúncia de maus tratos ou outras ilegalidades que possam anular os depoimentos já prestados.
Cavalieros e Montoto também irão a Anapu, onde a missionária foi morta e está enterrada.
Segundo o delegado Waldir Freire, responsável pelo inquérito na Polícia Civil, a visita dos dois agentes do FBI não significa qualquer tipo de interferência no resultado dos inquéritos. Apenas foi atendido um pedido da embaixada lastreado, de acordo com o delegado, em acordos internacionais dos quais o Brasil faz parte.
Estratégia
O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Jorge Armando Félix, vai se reunir na terça-feira com o governador do Pará, Simão Jatene (PSDB), para definir a estratégia de atuação conjunta entre os governos federal e estadual na região. O general segue depois para Altamira, onde acompanha as ações federais na região, que pode enfrentar um novo período de tensão nos próximos dias, em decorrência de medidas destinadas a regularizar a situação fundiária.
No encontro com o governador do Pará, em Belém, o general vai tentar restabelecer o diálogo entre os governos federal e estadual. Existem claras dificuldades nas conversações entre Jatene e os ministros do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, e do Meio Ambiente, Marina Silva.
Embora não haja previsão de saída do Exército da área, o governo quer preparar o terreno para que as forças do Estado reassumam a segurança. Em uma fase intermediária, a Força Nacional, criada pelo governo para atuar em situações de crise, entrará no Pará.
Homens da Força Nacional vão substituir militares
Prontidão: O governo federal colocou de prontidão um efetivo de 408 integrantes da Força Nacional de Segurança Pública para substituir as tropas do Exército na Terra do Meio, no Pará, região onde foi assassinada a irmã Dorothy Stang. O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, informou que não há data prevista para retirada dos militares pois, conforme destacou, eles estão realizando "um trabalho de cooperação sério e de extrema importância" no restabelecimento da segurança pública na região, palco de conflitos agrários. Bastos disse que a missão enviada à Terra do Meio desde o assassinato da religiosa, formada por contingentes das Forças Armadas e das Polícias Federal, Civil e Militar do Pará, está atingindo plenamente os objetivos. Depois da captura dos três primeiros suspeitos, o próximo passo, conforme destacou, será a prisão do mandante e identificação de todos os membros do consórcio de grileiros e fazendeiros que planejou e financiou o crime. O ministro reconheceu que houve atraso na liberação dos recursos para despesas das tropas mobilizadas na região. Mas assegurou que o dinheiro chegará o mais rápido possível.

Para irmão de Dorothy, punição deve ser exemplar

Carlos Mendes
Especial para o Estado

Belém - O norte-americano David Stang, irmão da missionária Dorothy Stang, assassinada no dia 12, disse ter "esperança de que o governo brasileiro vai punir exemplarmente quem praticou esse crime e proteger a vida" daqueles que trabalhavam com a freira e também estão sofrendo ameaças de morte.

David viaja hoje para Altamira e depois para Anapu, onde pretende visitar o túmulo da missionária. Ele disse que os oito irmãos de Dorothy que vivem nos Estados Unidos sabiam do perigo que a rondava no Brasil. "É horrível que qualquer pessoa tenha que pagar com a própria vida um preço por defender suas idéias e a justiça social." O que a família dizia à irmã Dorothy quando ela contava que estava sofrendo ameaças?

Ela tinha muito amor pelo povo do Brasil. Nessas horas, o que se pode dizer para alguém que ama dessa forma?

Qual foi sua primeira reação ao saber da morte?

A minha foi de raiva. Eu e ela éramos muito próximos. Ela sempre foi um ser humano cheio de vida e disposição para ajudar quem dela precisava. Como é que outro ser humano pode matar uma pessoa do jeito como fizeram com Dorothy?

A família tem algum ressentimento dos brasileiros que praticaram este crime?

Qualquer pessoa que tira a vida de alguém que está dando vida cria raiva nas pessoas. Não acho que essas pessoas que mataram a nossa irmã represente o povo fantástico do Brasil. Os sonhos que a Dorothy tinha vão semear outros corações e mentes. O povo continuará o projeto que ela idealizou e o governo fará aquilo pelo qual ela tanto lutou, que é assentar as famílias no PDS. Será preciso que os pobres morram para que os ricos se sintam melhor?

OESP, 26/02/2005, Nacional, p. A10

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