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Fazendeiros impedem ampliacao de area de protecao ambiental na Bahia

O Globo, O Pais, p.14
01 de Fev de 2004

FAZENDEIROS IMPEDEM AMPLIAÇÃO DE ÁREA DE PROTEÇÃO AMBIENTAL NA BAHIA

Decreto que preserva região que une cerrado à caatinga está parado no PlanaltoBRASÍLIA.A ação de donos de grandes fazendas na divisa da Bahia com Minas Gerais está impedindo a ampliação de um parque nacional criado em 1989 para a preservar uma região que une o cerrado à caatinga. Preocupados em não perder terras tidas como improdutivas, fazendeiros da região mobilizam-se para barrar o aumento da área de proteção ambiental do parque Grande Sertão Veredas.O projeto de ampliação da área está pronto: o parque deverá passar dos atuais 84 mil hectares para 230 mil hectares, a maior parte dentro da Bahia. Na nova área que o governo pretende anexar ao parque já foram catalogadas 480 novas espécies da flora e descobertas cinco novas espécies animais. Ali vivem também diversos animais ameaçados de extinção, como a onça-pintada, a jaguatirica e o pato-mergulhão, uma das espécies mais ameaçadas do país, com apenas 250 animais vivos hoje.Um ecossistema riquíssimo, importante para o país”O território em que o parque deveria ser criado dentro da Bahia — na região dos municípios de Coco e Formoso — é formado basicamente por latifúndios improdutivos. Por isso, o Ministério do Meio Ambiente avaliou que não haveria grandes dificuldades para ampliar a área de preservação permanente.— É um ecossistema riquíssimo e dos mais importantes para o país, altamente preservado — diz o secretário de Biodiversidade e Florestas do ministério, João Paulo Capobianco.Mas a ampliação do parque acabou ganhando contornos políticos. Fazendeiros da área procuraram o governador da Bahia, Paulo Souto, pedindo que interviesse para evitar a aprovação. Ao apresentar o caso ao Palácio do Planalto, o governo da Bahia argumentou que a região teria potencial para o agronegócio e seria importante para o estado, apesar de até hoje nada ter sido desenvolvido ali.Com o decreto pronto para ser assinado na Conferência Nacional do Meio Ambiente, em dezembro do ano passado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu reavaliar a questão. Disse na conferência que acredita na necessidade de mais discussão sobre o projeto.— Houve muita discussão. Nas audiências públicas em todos os municípios da região, todos puderam se manifestar. Há estudos sendo feitos há 14 anos — diz Cesar do Espírito Santo, coordenador da Fundação Pró-natureza (Funatura), organização não governamental que trabalha na região há vários anos.A hipótese de a vegetação natural dar lugar a grandes plantações assusta também a população da região. Na área do parque estão as nascentes dos rios Formoso, Carinhanha e Itaguari, que abastecem vários municípios da região.
— A demora na demarcação põe as nascentes em risco — diz o fazendeiro Teodoro Machado, defensor da ampliação da reserva ambiental cuja propriedade fica no corredor ecológico do parque.
ESTRADAS ABERTAS NA ÁREA DO PARQUE
Para evitar ampliação, fazendeiros recorrem até a desmatamentoBRASÍLIA. Desde que se iniciaram as discussões para ampliação do parque, fazendeiros da região começaram a se movimentar para evitar a decisão final do governo. Áreas ainda nas mãos de ruralistas, apesar de já estarem sob proteção do Ibama, começaram a ser desmatadas e estradas foram abertas. Até mesmo a promessa de uma doação para trabalhadores sem-terra surgiu, como forma de cooptar agricultores para evitar a demarcação do parque. Um fazendeiro da região, dono de 20 mil hectares no meio do que será o parque, disse à presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Formoso, Raimunda Muniz, que doaria três mil hectares à Superintendência do Incra na Bahia para fazer um assentamento. — Ele nos prometeu que assim que a área fosse liberada seria feito o assentamento e nós seríamos os responsáveis por escolher as famílias — conta Raimunda. Marcelino Galo, superintendente do Incra, afirma que não houve contato de fazendeiros da região ou oferta de terrenos: — Mas não aceitaríamos sem antes ver se há impedimentos legais ou ambientais. Desde que soube da criação do parque, esse mesmo fazendeiro começou a desmatar e abrir estradas.— Ele pretende criar um fato consumado para evitar a criação do parque. E quanto mais demorar, maior será o estrago — diz Cesar Espírito Santo, da Funatura. (L.P.)

O Globo, 01/02/2004, p. 14

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