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Fazendeiros desmatam area de 100 mil campos de futebol no PA

OESP, Vida, p.A19
19 de Out de 2005

Fazendeiros desmatam área de 100 mil campos de futebol no PA
20 milhões de árvores foram derrubadas e queimadas em dois pontos do Estado
Carlos Mendes Especial para o Estado BELÉM
A maior devastação dos últimos anos da floresta amazônica foi descoberta em dois pontos do Pará. Numa área equivalente a 100 mil campos de futebol, cerca de 20 milhões de árvores foram derrubadas e queimadas para dar lugar a pasto para criação de gado na Terra do Meio, sudoeste do Estado, e em Cumaru do Norte, no sul. A expansão da pecuária paraense, onde vive o quarto maior rebanho do País, com 18 milhões de cabeças, é uma das causas de invasões e desmatamento de áreas públicas onde antes existia apenas mata densa. Frigoríficos do sul do Estado chegam a abater 3 mil bois diariamente.
Em três meses de operação ainda não concluída, os fiscais do Ibama aplicaram mais de 90 autos de infração, apreenderam tratores, motosserras, caminhões, armas, um avião, além de 2 mil metros cúbicos de madeira serrada e em toras. O total de multas alcança R$ 100 milhões, um recorde. O gerente-executivo do órgão em Marabá, Ademir Martins dos Reis, informou que na Terra do Meio os grileiros e fazendeiros destruíram 50 mil hectares de floresta, metade do total constatado - um campo de futebol tem aproximadamente 1 hectare.
No município de Cumaru do Norte, no sul do Estado, os fiscais desceram no helicóptero do Ibama numa imensa clareira quase 60 vezes maior que a cidade de Belém. Não conseguiram conter o espanto: em oito fazendas próximas umas das outras, uma área do tamanho de 50 mil campos de futebol foi toda colocada no chão e transformada em cinzas. Nem as castanheiras, protegidas por lei, escaparam do fogo.
A terra seria preparada por tratores e nela seriam atiradas as sementes de capim para o gado. Em áreas públicas onde não há autorização para derrubada de árvores, a mata nativa estava sendo transformada em pasto.
"A floresta que eles destruíram tem mais de cem anos. Colocaram tudo no chão e queimaram em questão de meses. Isso é inaceitável", disse Martins.
O fazendeiro Evandro Teixeira Campos foi multado em R$ 2,8 milhões, a maior aplicada pelo Ibama. Ele é acusado de derrubar 2 mil hectares de mata virgem. A área foi comprada do traficante Leonardo Dias Mendonça, preso em 2002 pela Polícia Federal acusado de fazer parte da quadrilha de Fernandinho Beira-Mar. Mendonça cumpre condenação por outros crimes numa penitenciária de Goiânia (GO).
Outro apanhado pela operação do Ibama foi um deputado federal do Tocantins, o pastor evangélico Amarildo Martins da Silva (PSC), que terá de pagar R$ 525 mil de multa por destruir 350 hectares em São Félix do Xingu.
Para a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, o combate aos predadores da Amazônia está sendo feito pelo Ibama dentro do que foi planejado pelos técnicos do órgão. Na região da rodovia Santarém-Cuiabá, onde se localiza a Terra do Meio, o desmatamento chegou a crescer 500%. Agora, porém, sinaliza para uma queda de 91%, segundo ela. "O Pará era o campeão do desmatamento, mas provavelmente vai ter uma queda de mais de 40%."

OESP, 19/10/2005, p. A19

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