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FAZENDA DEPÓSITO - Funcionários reclamam de excesso policial

Folha de Boa Vista
Autor: Andrezza Trajano
08 de Mai de 2008

Depois de uma terça-feira turbulenta, o dia seguinte à prisão do rizicultor e prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, e funcionários da fazenda Depósito foi de contabilizar prejuízos e "lembrar os momentos difíceis enfrentados", segundo informaram os funcionários que foram colocados em liberdade.

Eles apresentaram à Folha os danos patrimoniais que teriam sido causados pelos policiais durante o cumprimento dos mandados judiciais realizados na terça-feira, na fazenda Depósito. O escritório de Quartiero, um hangar e todos os alojamentos, tiveram portas e janelas arrombadas.

"Oferecemos as chaves das portas da fazenda e dos quartos onde moramos na propriedade, mas eles recusaram e arrombaram tudo", disse o funcionário de irrigação Benedito Magalhães, 32.

O operador de máquinas agrícolas, o índio Wapixana Daniel de Paula, 22, disse que "além do despreparo apresentado pelos policiais, ele foi agredido". "Os policiais chegaram logo nos jogando no chão, nos algemando. Depois me levaram para os fundos da fazenda e diziam que iam me afogar caso eu não apresentasse as armas de fogo, que acreditavam estar na fazenda. Os policiais também engatilhavam e desengatilhavam armas nas minhas costas para me intimidar", denunciou.

Aliviado, o tratorista José Nolmar, 35, escapou da prisão, já que estava na sede da Vila Surumu com seu filho menor de idade. Questionado de saberia fabricar bombas, disse que "a única bomba que sabe construir é a de chimarrão, já que é gaúcho, ou bombas de irrigação de lavouras".

PF - Por meio da Assessoria de Comunicação, a Polícia Federal negou qualquer excesso dos policiais. Disse que todas as pessoas foram submetidas a exames de corpo delito e que peritos da instituição acompanham o caso para avaliar possíveis danos físicos e materiais.

Sobre o pequeno efetivo de policiais na terra indígena, disse que ainda não há necessidade de reforço, embora existam equipes prontas para atuar em qualquer situação.

TIROTEIO NA INVASÃO - Famílias de índios feridos querem indenização do produtor Quartiero

As famílias dos nove índios feridos à bala durante confronto com funcionários do rizicultor e prefeito de Pacaraima, Paulo César Quartiero, na segunda-feira, vão pedir indenização ao empresário pelos danos sofridos por seus familiares. A informação foi repassada ontem pelo tuxaua Martinho Macuxi de Sousa, 37 anos.

Martinho Macuxi é o responsável pelo acampamento montado por indígenas ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), a sete quilômetros de Surumu. A concentração dos índios não pára de crescer no local. Ontem já havia mais de 25 barracos de lona, com cerca de 300 pessoas entre homens, mulheres e crianças. Segundo Macuxi, chegam indígenas a todo o momento. O líder indígena informou que vai a Boa Vista hoje para acompanhar a situação dos indígenas que foram feridos.

Além de exigir indenização, ele anunciou que o grupo vai retomar a ocupação, mas não informou a data. Anteontem o grupo deixou a fazenda Depósito, cuja ocupação provocou o confronto com funcionários do rizicultor e deixou nove índios feridos à bala. Agora, eles estão acampados do outro lado da estrada.

A prisão de Quartiero, segundo os indígenas, não os tranqüiliza. "Só vamos ficar tranqüilos quando ele deixar a nossa terra", frisou Martinho Macuxi.

Aulas nas escolas indígenas serão suspensas por tempo indeterminado

O clima de tensão na terra indígena Raposa Serra do Sol fez com que os professores indígenas decidissem que não vão dar mais aulas nas escolas localizadas na região enquanto houver intranqüilidade e insegurança.

Cerca de onze mil alunos das mais de 200 escolas localizadas nas terras indígenas ficarão sem aula nos próximos dias. A decisão foi tomada por nove organizações indígenas, que apoiaram a paralisação das atividades por tempo indeterminado por causa da insegurança.

Em documento que será encaminhado às autoridades, as organizações indígenas sustentam que "por causa da violência praticada pelos arrozeiros e do terror que espalham entre as comunidades, as ações didático-pedagógicas das escolas encontram-se completamente afetadas e inviabilizadas".

As lideranças das organizações afirmam que "pais de alunos, professores, gestores e a comunidade escolar indígena em geral temem pela segurança e integridade física de todos".

Na manhã de hoje as lideranças irão conceder entrevista coletiva para esclarecer as razões que levaram a decidir pela paralisação. A coletiva está marcada para as 10 horas na sede do Conselho Indígena de Roraima (CIR).

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