VOLTAR

Farinha de pupunha e mais nutritiva do que as outras

OESP, Vida, p.A12
14 de Mar de 2005

Farinha de pupunha é mais nutritiva do que as outras
Segundo estudo do Inpa, ela é riquíssima em vitamina A e fibras
Liege Albuquerque
MANAUS - A farinha de mandioca para a farofa do churrasco pode estar com os dias contados. Uma farinha riquíssima em provitamina A e em fibras, e mais pobre em calorias do que a de mandioca, só precisa de mais divulgação para decolar no mercado. Essa é a visão de pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), que investigam os benefícios nutricionais da farinha da pupunheira (Bactris gasipaes Kunth) há 20 anos.
"Consumir quatro pupunhas (o fruto da pupunheira) por dia é o suficiente para suprir as necessidades de um adulto em vitamina A", garante o pesquisador Jaime Aguiar, da equipe coordenada pela cientista Lúcia Yuyama, que estuda o fruto no Laboratório de Nutrição e Físico-Química de Alimentos do Inpa.
A mais recente das pesquisas no grupo de estudos está produzindo um sorvete feito com a farinha da pupunha, a farinha eclética.
De acordo com Aguiar, a farinha de pupunha, na culinária, substitui tanto a farinha de trigo quanto a de mandioca. Fazer farofa de churrasco, segundo ele, é a receita mais rudimentar, já que qualquer um pode produzi-la em casa: basta cozinhar o fruto, triturar e controlar o tempo de assá-la em um forno convencional. "A farinha de pupunha pode ser usada para fazer doces, bolos, pães e uma infinidade de receitas", explica.
Há cinco anos, o Inpa editou o livro de um pesquisador americano da equipe. Cozinhando com Pupunha, de Charles Clement, ensina até a fazer geléia do fruto.
A pupunha foi cultivada pelos ameríndios e hoje é plantada em países de clima tropical. "Na Costa Rica, a farinha de pupunha é comum nas mesas", conta Aguiar. Embora o fruto seja encontrado em mercados em toda a Amazônia e até no Estado de São Paulo, a farinha não é industrializada.
Também no Amazonas, a farinha da pupunha não é produzida em larga escala, sendo mais comum encontrar o fruto à venda. O município onde a produção e o consumo são mais comuns é Benjamim Constant, a 1.116 quilômetros de Manaus. As equipes de pesquisa do Inpa costumam se deslocar para a cidade para as pesquisas.
NA MERENDA
Há cinco anos, entretanto, uma pesquisa feita em uma creche de Manaus foi o que trouxe um dos ingredientes mais fortes na tentativa dos cientistas de emplacar a pupunha na alimentação do dia-a-dia: o uso na merenda escolar de crianças desnutridas.
Em testes com 113 crianças desnutridas de 2 a 7 anos, verificou-se que a vitamina A da pupunha é tão eficiente quanto em sua forma artificial. "Seria uma excelente alternativa para enriquecer a merenda escolar das crianças", constata Aguiar. "O que falta é interesse político e industrial para a disseminação dessa farinha de forma industrializada, pronta para o consumo."
Segundo ele, a regra para escolher as pupunhas mais ricas em vitamina A é pela cor: quanto mais pigmentada, no caso, mais vermelha, mais rica é a farinha. "O fruto da pupunheira maduro pode ter a casca verde, branca, bege, amarela, laranja até um vermelho forte", destaca.
O teor de lipídios encontrado na pupunha é importante para o processo de absorção da vitamina A - eles atuam tanto como carreadores como estimuladores do fluxo biliar.
Em 1999, uma pesquisa em laboratório feita pela equipe do Inpa em ratos destacou a alta concentração e biodisponibilidade da vitamina A. Além da vitamina A, outro estudo publicado em 2003 também encontrou potássio, cálcio e zinco em amostras da pupunha colhida em Benjamim Constant.
O estudo que mais empolgou o pesquisador foi o que produziu um macarrão enriquecido com farinhas de pupunha e de peixe. "Além de um gosto sem igual, a riqueza em proteínas, vitaminas e minerais do macarrão o faz um prato completo em termos nutricionais."

OESP, 14/03/2005, p. A12

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.