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Farc rondam a pacata Tunuí, no Amazonas

OESP, Nacional, p. A8
25 de Nov de 2003

Farc rondam a pacata Tunuí, no Amazonas
Forças Armadas e PF prepararam ocupação da vila, onde índios viram guerrilheiros

Tunuí - Isolada na floresta, ao noroeste do Amazonas, a pequena vila de Tanuí viveu anos de tranqüilidade até o momento, há pouco mais de dois meses, em que alguns de seus habitantes, os índios baniwas, começaram a ver pessoas diferentes rondando o vilarejo. Eram guerrilheiros das Forças Amadas Relucionárias a Colômbia (Farc), que odem estar em território basileiro - uma suspeita que cresce a cada dia - e está obrigando as Forças Armadas e a Polícia Federal a organizarem uma operação conjunta para pôr em prática um plano de ocupação da área. Um base do Exército já está sendo construída no local.
Apesar da presença ainda misteriosa dos visitantes indesejados, a vida em Tunuí transcorre na normalidade. Os adolescentes se dividem entre as partidas de futebol ou de vôlei, até as 18 horas, quando todos se reúnem em uma casa - que tem o único aparelho de televisão da vila - para assistir aos noticiários e novelas. Muitos que moram ali nunca viram carro, mas alguns já conhecem um fuzil AR-15, como o usado pelo grupo de desconhecidos, que usam bandanas parecidas com a de guerrilheiros.
Há poucas semanas um integrante do grupo abordou um índio à procura de caça. "Eles obrigaram o rapaz a voltar, disseram que ele não poderia prosseguir na trilha onde estava", conta o pastor Sérgio Rodrigues. Temerosos, os índios falam pouco sobre o assunto. Muitos, inclusive, já foram abordados pelos supostos guerrilheiros, cuja presença poderá ser confirmada na próxima semana, quando retorna da selva um grupo de policiais federais e soldados que foram apurar uma denúncia.
Aviões - "Vários índios viram um acampamento com pessoas vestidas com roupas camufladas. Não se sabe quantos são, mas estão fardados e não pertencem a nenhuma polícia brasileira", relata o chefe do posto da Fundação Nacional do Índio (Funai) em Tunuí, Edson Caldas. "Nossa suspeita é de que sejam guerrilheiros."
Para evitar surpresas, a PF deslocou um grupo de agentes para a região, enquanto o Comando do Exército começou a construir uma base no local, talvez o mais distante destacamento militar que se tem notícia. A cidade mais próxima de Tunuí é São Gabriel da Cachoeira, cuja ligação só é feita por via fluvial, numa viagem que pode chegar a mais de cinco dias.
"Temos de mostrar a quem for, sejam guerrilheiros ou traficantes, que o poder público está presente", afirma o delegado federal Mauro Spósito, coordenador-geral das operações de fronteiras da PF. A primeira demonstração da presença foi dada há duas semanas, quando a Força Aérea Brasileira (FAB) enviou para o local oito aviões de bombardeio AMX e F-5, que destruíram uma pista que estava sendo usada por traficantes ligados às Farc.
"Temos medo. Eles podem aparecer a qualquer hora"
Localizada no alto de um morro, Tunuí fica à beira do rio que leva o mesmo nome. É ali, às margens do rio, que a população da vila fica sabendo o que ocorre "lá do lado de cima", como chamam o território colombiano, onde também está um grande número de índios baniwa. A cachoeira obriga a maioria dos barcos a pararem no barranco, momento em que todos se reúnem para conversar sobre a guerrilha, quase sempre em linguagem nativa, por precaução. "Nós temos medo, eles podem aparecer a qualquer hora", diz Edmar Delgado, da etnia baré, que relata casos contados por outros integrantes da aldeia.
Os índios ouvem dos viajantes relatos que mostram a presença próxima da guerrilha. É o caso de uma índia baniwa, que estava visitando os pais havia um mês, trajando as mesmas roupas usadas por integrantes das Farc. Ela estava em Mitu, região ocupada pela guerrilha, e voltou de lá com trajes que ganhou dos guerrilheiros. A população costuma receber bem os poucos visitantes, mas a maioria se cala quando alguém pergunta sobre a guerrilha. "Não tenho notícias disso", desconversa o morador Gentil Garcia, que logo se retira da conversa. Outros não conseguem disfarçar o medo, mesmo diante dos policiais federais e do Exército.

OESP, 25/11/2003, Nacional, p. A8

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