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As Farc podem vir, adverte general

OESP, Nacional, p, A6
20 de Abr de 2008

As Farc podem vir, adverte general
Segundo comandante da Amazônia, guerrilheiros têm entrado no lado brasileiro, mas como cidadãos comuns

José Maria Tomazela

A narcoguerrilha é hoje a principal ameaça à região amazônica brasileira, na opinião do general Augusto Heleno Ribeiro Pereira, chefe do Comando Militar da Amazônia. O Exército acompanha com preocupação as crescentes atividades das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) na área fronteiriça. Além de bem treinados e adaptados à selva, os guerrilheiros colombianos têm armas modernas, financiadas pelo narcotráfico.

"Não há uma intenção explícita das Farc de entrar em território brasileiro, mas pode ser que eles venham", afirma o general. A presença desses guerrilheiros no lado brasileiro aumentou, mas eles entram como cidadãos colombianos comuns e o Exército nada pode fazer. "Eles vêm para se abastecer no comércio e muitas vezes a moeda é pasta de cocaína."

Segundo análise feita pelo militar durante visita ao 34o Batalhão de Infantaria de Selva, em Marabá (PA), o território brasileiro é usado para escoar drogas não mais por aviões, suscetíveis de controle pelo Sistema de Vigilância da Amazônia (Sivam), mas por via fluvial. "O tráfico mudou a estratégia e passou a usar os rios penetrantes, com barcos e lanchas rápidas. É um transporte mais demorado, mas, depois que se cria um fluxo, a droga chega."

O general diz que a Polícia Federal já constatou que há mais cocaína entrando em Belém pelo Rio Amazonas, de onde vai para o exterior. Já a droga consumida no Brasil entra principalmente pela Bolívia. Além da falta de recursos para ampliar a vigilância nos rios com embarcações mais rápidas, o comandante da Amazônia reclama da ausência de outros órgãos de repressão ao tráfico, como a Polícia Federal. Ele disse que o militar não tem treinamento para reconhecer a cocaína, por exemplo. "Estou pleiteando que nossas escolas de formação de oficiais e sargentos incluam no currículo o reconhecimento de drogas."

Entre as razões que transformam a Amazônia em "hipótese alfa" - alta prioridade - no sistema brasileiro de defesa, o general aponta a tensão que cerca algumas relações bilaterais, como entre a Colômbia e a Venezuela. "Os dois países estão comprando armas", diz.

CONTENCIOSOS

O movimento de emancipação da região de Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, os contenciosos desse país com o Equador e entre Uruguai e Argentina são outros focos de preocupação. Há ainda uma campanha pela internacionalização da Amazônia, agora focada no desmatamento. Segundo o general, há exagero no que se divulga de desmatamento. "Sou contra isso (o desmatamento), mas a divulgação exagerada leva ao ponto de dizer que não sabemos cuidar."

O ambientalismo radical, segundo o comandante da Amazônia, trava o desenvolvimento. "É discutível não construir estradas, pois é por onde chega o desenvolvimento." E observa que a ausência do Estado agrava os problemas da região. "A extração de madeira precisa ser acompanhada pelo Ibama, mas o Ibama tem mais gente em Brasília do que na Amazônia."

Ele também considera grave, do ponto de vista militar, a transformação de extensas áreas contíguas de fronteira em reservas indígenas. Nessas áreas proliferam organizações não-governamentais (ONG) bancadas pelo capital internacional que agem fora do controle brasileiro. A questão indígena, segundo o general, está sendo dissociada do processo histórico de conquista e colonização do território que levou à miscigenação, um traço marcante da cultura brasileira. "Querem isolar os índios nas terras, mas o índio não quer viver isolado. Ele quer usufruir das benesses da civilização."

Para o general, a cooperação é a tese mais equilibrada: permite que o indígena tenha sua terra para viver, mas também interaja com o não-índio. Ele se considera no direito de "dar palpite", pois essa questão afeta a soberania nacional. "Enquanto eu for comandante, eu entro em todas as terras indígenas, quer queiram ou não."

OESP, 20/04/2008, Nacional, p, A6

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