Diário de Cuiabá
28 de Jul de 2003
Ibama desconfia que ocupação de uma das áreas mais ricas em biodiversidade da Amazônia tenha sido incentivada.
(Vista aérea dos barracos montados dentro do Parque do Cristalino, no extremo-norte de Mato Grosso)
As cerca de 60 famílias descobertas em um acampamento nas imediações do Parque do Cristalino, há pouco mais de um mês, já ocupam áreas dentro da unidade de conservação, localizada entre os municípios de Alta Floresta e Novo Mundo, no extremo-norte do Estado.
A invasão, que ameaça o futuro de uma das mais importantes reservas da biodiversidade da Amazônia, foi detectada em recente operação da força-tarefa que reúne o Ministério Público, Polícia Federal e uma equipe de fiscalização - 12 agentes e três helicópteros - enviada pelo Ibama de Brasília à região.
"Desde a última operação, percebemos que o acampamento avançou para dentro do parque", confirmou o diretor de Proteção Ambiental do Ibama, Flávio Montiel, que esteve em Alta Floresta (município a 800 quilômetros de Cuiabá) nesta semana.
Há indícios de que a ação seja obra de terceiros. Segundo Montiel, já no primeiro contato com a fiscalização, as famílias acampadas disseram ter sido incentivadas a buscar lotes no parque. "Algumas pessoas teriam dito a eles que o parque seria desconstituído, o que não é verdade", afirma.
A força-tarefa já investiga uma lista de suspeitos, repassada pelos próprios invasores. "Eles nos deram os nomes, tudo, mas ainda não há provas seguras para que eu possa citar algum", desconversou o diretor. "Isso, porém, reforça a hipótese de uma ocupação dissimulada".
Mais 17 agentes do Ibama devem chegar a Alta Floresta nos próximos dias. A idéia, segundo Montiel, é manter uma equipe de prontidão na cidade por pelo menos um ano, sob o comando de Brasília.
O clima é de tensão. Em operação de patrulha na área (feita a partir de indicações de satélite), um dos helicópteros do Ibama foi atingido por um tiro, mas sem provocar grande dano. "Não é a pior situação que já enfrentamos, mas algo tem de ser feito o quanto antes", avalia o piloto Rodolfo Lobo, agente do Núcleo de Operações Aéreas.
Em duas áreas contíguas que somam - oficialmente - 185 mil hectares, o Cristalino abriga centenas de espécies de aves (algumas endêmicas), mamíferos e répteis, algumas delas ameaçadas de extinção.
Desde dezembro de 2002, por ordem da Justiça Federal (ver matéria), passou a ser do Ibama a tarefa de proteger seus limites. A missão é muito espinhosa, relata o piloto. "Trata-se de uma unidade totalmente desprovida de segurança fundiária, sem demarcação, com áreas ocupadas em seu interior".
Ainda não existe um plano de desintrusão, diz o agente. Por enquanto, explica, a fiscalização tenta convencer as famílias a deixar espontaneamente a área. "Se houver desintrusão, será o último recurso. Mas esperamos que antes disso eles entendam que foram induzidos por uma informação falsa".
De acordo com Montiel, o "clima melhorou" após o contato mantido com as famílias acampadas. "Isso não significa que a situação esteja solucionada. Enquanto não houver respostas do Incra e o do Intermat, a tendência é que a tensão aumente".
(RODRIGO VARGAS-Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT-28/07/03)
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