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Família diz que reconheceu objetos de vítimas em Humaitá

Amazônia Real - http://amazoniareal.com.br
Autor: Kátia Brasil
06 de Jan de 2014

Depois de oito dias de buscas aos três homens desaparecidos no interior da Terra Indígena Tenharim Marmelos, no sul do Amazonas, a Polícia Federal comunicou no domingo (05) às famílias deles que encontrou peças incendiadas de um veículo da marca Volkswagen, modelo GOL, e uma caixa de medicamento, objetos que poderiam ser das vítimas. A família de um dos rapazes afirma que reconheceu as peças achadas pela polícia em uma área de floresta da reserva.

Nesta segunda-feira (06) completou 22 dias que o professor Stef Pinheiro de Souza, 43, o agente da Eletrobrás Aldeney Ribeiro Salvador, 40, e o comerciante Luciano da Conceição Ferreira Freire, 30, desapareceram na rodovia 230, na Transamazônica, em um trecho próximo a aldeia Taboca, no quilômetro 137 da reserva, em Manicoré (a 322 quilômetros de Manaus).

Segundo a Polícia Federal, as equipes continuam vasculhando a região à procura dos desaparecidos. Mais policiais e equipamentos serão encaminhados para o local, na tentativa de agilizar as buscas.

As famílias acusam os índios tenharim de sequestro e homicídio motivados por vingança pela morte do cacique Ivan Tenharim, que morreu no dia 02 de dezembro. A Polícia Federal diz que o cacique foi atropelado, mas não apresentou um laudo conclusivo. Os índios negam envolvimento no caso.

A professora Irisneia Santos Azevedo de Souza, 36, esposa de Stef Pinheiro de Souza, disse em entrevista ao portal Amazônia Real que as peças descobertas da Polícia Federal no interior da reserva são dos desaparecidos. Ela tem acompanhado as buscas em casa e, em companhia da amiga Adriana Lopes, esposa de Luciano Freire, em Humaitá (a 591 quilômetros de Manaus).

"Nós confirmamos à Polícia Federal que os medicamentos para asma e bronquite eram os (remédios) que o Luciano carregava sempre na bolsa para o filho dele, de 2 anos. As peças são do carro GOL 2010/2011 Volkswagem. Eles vão analisar se o carro é realmente dele (Stef), mas provavelmente era o carro sim", afirmou.

Irisneia de Souza, que tem três filhos com o professor Stef de Souza, disse que as famílias acompanham as buscas com pouca esperança de que a PF os encontre vivos.

"Na minha cabeça e no meu coração eles estão mortos. A pergunta que faço é: por que? Se eles estiverem vivos, é um milagre de Deus. Só espero por isso. Quero que a Polícia Federal diga quem são os culpados, conte o porquê e paguem pelos erro que cometeram", afirmou a professora.

Em nota divulgada nesta segunda-feira (06) a Polícia Federal informou que, as peças do veículo GOL encontradas no local periciado estão sendo submetidas a novos exames para identificação da numeração.

Segundo o delegado Alexandre Alves, que coordena as investigações, as peças encontradas são um farol, pedaços de chassis, garrafas de plástico e um facão. Com esses objetos os peritos podem encontrar impressões digitais das vítimas.

As quatro principais testemunhas do caso são integrantes da Polícia Militar do Amazonas. Foram eles que levaram agentes da Polícia Federal ao local próximo da aldeia Taboca, onde viram índios empurrando o carro Gol preto.

O major Franciney BO., chefe da Seção de Operações do Comando Especializado da Polícia Militar do Amazonas, disse ao portal Amazônia Real os policiais disseram que não acharam estranho os índios empurrando o carro, porque eles são proprietários de veículos.

Outra versão que consta das investigações da PF, é de que os militares não abordaram os índios que empurravam o Gol porque haviam mais de 40 indígenas no local e ficaram intimidados. A PM não confirma essa versão.

Conflito

A falta de investigações sobre o desaparecimento dos três homens provocou uma revolta em Humaitá, no dia 25 de dezembro. Durante os protestos, cerca de 3.000 manifestantes atearam fogo em carros e barcos da Funai, na sede do órgão, na Casa do Índio da Funasa (Fundação Nacional de Saúde), único local de tratamento de saúde indígena. Cerca de 140 índios foram ameaçados de morte e alojados num quartel do Exército na cidade.

Na sexta-feira (27), cerca de 300 pessoas, entre fazendeiros e madeireiros, invadiram aldeias da Terra Indígena Tenharim com a justificativa de buscarem os corpos dos homens desaparecidos. Em outro ponto da reserva, eles destruíram com machados, facões e fogo o posto de cobrança de pedágio ilegal e casas dos tenharim. O pedágio seria também um dos motivos da revolta popular em Humaitá.

Os conflitos em Humaitá levou o governo federal a realizar a maior força tarefa já vista no Amazonas. Cerca de 500 homens estão na região integrantes do Exército, da Força Nacional de Segurança, das Polícias Federal e Rodoviária Federal, além d Polícia Militar do Amazonas por tempo indeterminado por ordem da Justiça Federal do Amazonas.

Ainda na nota divulgada hoje à imprensa, a Polícia Federal solicitou à população das cidades de Humaitá e de Apuí, além da Vila de Santo Antônio do Matupi (em Manicoré), que mantenha os ânimos serenos, para que a polícia possa concentrar seus esforços na investigação do caso.

"Boatos e notas apócrifas lançadas através de sites e redes sociais não devem ser levadas em consideração, visto que nada acrescentam às investigações e ainda tomam tempo dos policiais para desmenti-las", diz a Polícia Federal.

"Criminalização coletiva"

O advogado particular dos índios tenharim, Ricardo Albuquerque, afirmou que não vai comentar sobre o resultado das últimas buscas da Policia Federal. "É muito cedo para comentar", disse.

Segundo ele, os índios tenharim negam participação no desaparecimento dos três homens. "Eles negam veementemente. Me reuni com eles em conversa confidencial, eles dizem que não viram esses três homens na reserva", afirmou o advogado.

Sobre a morte do cacique Ivan Tenharim, o advogado Ricardo Albuquerque disse que a família dele não responsabilizou ninguém pelo caso. "Não existe um laudo de necropsia porque a família não deixou fazer por questão cultural. A família acredita que aconteceu um acidente e deu por encerrada a questão. Eles não têm espírito de revanchismo", afirmou.

O advogado também demonstrou preocupação com o que ele chama de "criminalização coletiva" dos índios tenharim. "Não existe criminalização de uma sociedade ou de uma etnia. Se a polícia encontrar os corpos nas terras dos índios, ela não poderá dizer que foram os tenharim. O delegado terá que investigar e apontar o culpado, mas não se pode culpar todo um povo", disse Ricardo Albuquerque.

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