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Faltam intérpretes para acompanhar pacientes indígenas no setor público

Folha de Boa Vista - http://www.folhabv.com.br/
07 de Fev de 2012

A falta de intérpretes para acompanhar indígenas tradicionais, como os Yanomami, em consultas médicas e internações em hospitais, é algo preocupante. Sem a presença do profissional, médicos e pacientes não se entendem, prejudicando o tratamento de saúde.

O problema é que a quantidade de intérpretes é insuficiente para atender a demanda. A situação se agrava ainda mais quando o profissional falta ao serviço ou está acompanhando pacientes em estado de saúde grave em hospitais e não pode sair para auxiliar em outras unidades de saúde.

No Hospital Materno Infantil Nossa Senhora de Nazareth, existe uma coordenação indígena justamente para facilitar o atendimento aos índios. Contudo, o setor conta apenas com uma funcionária e ainda oferece apoio ao Centro de Referência da Mulher, que fica em um prédio ao lado, no bairro São Francisco.

Para se ter uma ideia da dimensão do problema, ontem, por exemplo, somente no Centro de Referência da Mulher, havia sete índias Yanomami à espera de atendimento ginecológico e apenas uma profissional que falava a língua dos índios para fazer o "meio de campo" entre o médico e as pacientes.

Para complicar ainda mais, as indígenas chegaram à unidade de saúde próximo ao meio-dia, quando as consultas estavam marcadas para começar a partir das 16h. Às segundas-feiras um ambulatório é reservado para elas.

Com a demora, as indígenas ficaram impacientes e com fome. Algumas delas também estavam acompanhadas de filhos recém-nascidos. Sem ter algo adequado para oferecer, a direção do Centro de Referência improvisou um lanche, segundo informou a diretora Hérica Soares. A saúde indígena é de competência da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai). Todas foram atendidas e fizeram exames de ultrassonografia.

Mas, segundo uma funcionária ouvida pela Folha, essa não foi a primeira vez que as pacientes indígenas chegaram muito cedo. Na sexta-feira passada, o problema foi outro: não havia intérprete para acompanhar as consultas e uma indígena foi embora sem fazer um procedimento cirúrgico que necessitava, pois o médico não conseguiu convencê-la sobre a importância.

"Os médicos precisam que alguém explique às indígenas o que elas tem e qual procedimento será feito. Só que muitas vezes elas ficam sem o intérprete e se recusam a receber atendimento médico porque não entendem. Ainda existem as que voltam para suas malocas e levam três meses para voltar a Boa Vista", disse.

A diretora Hérica Soares admitiu que, se a paciente não entender nenhuma palavra da língua portuguesa, não há condições de realizar o atendimento médico. Mas negou que um eventual tratamento seja interrompido. "Geralmente a paciente volta no outro dia com o intérprete e é atendida", disse.

CASAI - A coordenadora da Casa de Saúde do Índio (Casai), Rosiane Azevedo, disse que os indígenas fazem refeições antes de serem levados para atendimento médico e que é da natureza deles reclamar por comida.

As pacientes de ontem, segundo ela, tinham almoçado. Mas, para evitar problemas, informou que as indígenas somente serão levadas a partir de agora para as consultas perto do horário de começar. No caso do Centro de Referência da Mulher, onde há horário fixo, disse que elas serão levadas às 14h30, e não mais ao meio-dia.

Rosiane confirmou que faltam intérpretes para auxiliar no atendimento de saúde. Somente três técnicos não-índios falam a língua Yanomami e um fala o Sanumã. Dois índios Ingaricó e um Yekuana trabalham como intérpretes e dois Yanomami estão em fase de contratação. "Quando há necessidade, fazemos a remoção de intérpretes de um local para o outro, vamos adequando o serviço", disse.

Apesar de saber a necessidade de aumentar o número de profissionais que entendam as línguas dos indígenas, a coordenadora da Casai disse que não há previsão de novas contratações. "Por enquanto, não temos condições de contratar mais ninguém. Até lá vamos fazendo o que podemos. Às vezes até nos comunicamos por meio de mímicas, porque no dia a dia aprendemos a entender o que eles querem", relatou.

A Casai é responsável por levar pacientes indígenas aos hospitais bem como acompanhá-los durante consultas e internações. A casa também acolhe os indígenas doentes e cuida deles lá até que apresentem melhoras e possam retornas às comunidades indígenas.

http://www.folhabv.com.br/noticia.php?id=123969

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