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Falta reparação efetiva

O Globo, País, p. 7
Autor: LEITÃO, Míriam
27 de Jun de 2018

Falta reparação efetiva

A atitude das empresas envolvidas no pior desastre ambiental da história do país, o de Mariana, sempre foi a de tentar se desvencilhar dele. A Vale, no primeiro momento, disse que prestaria apoio à Samarco. Como se não tivesse responsabilidade direta, já que é dona de 50% do seu capital. A BHP mandou seu principal executivo vir ao Brasil para mostrar aos acionistas que ela se importava, depois manteve-se à distância.

As duas juntas criaram a Fundação Renova, deram a ela recursos, e lavaram as mãos. Foi uma terceirização do passivo ambiental, social e humano. É como se ele tivesse deixado de existir. A Vale trocou o presidente, dando a ele gorda indenização pelos bons serviços e trouxe para a presidência Fábio Schvartsmam. No começo deste ano, o executivo disse, para os aplausos de uma plateia de alienados do mercado financeiro, que a recuperação de Mariana era "extraordinária" e que em dois anos a Fundação pagaria todas as indenizações.

Não é isso que os repórteres vêem quando vão lá. Há paisagismos sobre a lama, que permanece no lugar onde foi depositada. E há a continuação das tragédias familiares das pessoas que perderam suas casas, suas terras, seu modo de viver. O rio Doce atingido de Minas Gerais até a foz no Espírito Santo nunca foi recuperado. As jornalistas Ana Lúcia Azevedo e Márcia Folleto deste jornal têm mostrado em sucessivas viagens ao local da tragédia que as pessoas continuam desterradas e enfrentando a depressão pelas perdas. Acabam de voltar de lá.

Agora vem a notícia de que haverá um TAC das empresas com o poder público. Elas se comprometem a melhorar a governança da Renova, colocando representantes dos atingidos no conselho da Fundação. E pronto. Ganharão a extinção imediata dos processos aos quais a empresa responde. O problema da Renova não é apenas de governança, é de ser efetiva em suas ações de reparação, de funcionar, de ter senso de urgência. Ela não pode mais ser um biombo atrás do qual as empresas se escondem de suas responsabilidades. O único TAC aceitável é aquele que faça o que o termo significa: que as empresas responsáveis pelo pior desastre ambiental do país mudem a sua conduta.

O que houve em Mariana foi trágico. Dezenove pessoas morreram, toda uma comunidade foi removida do mapa, o rio Doce foi violentamente afetado. Para extinguir os processos que os governos de Minas e Espírito Santo iniciaram - ou o processo do Ministério Público - é preciso que haja muito mais do que dar voz aos atingidos no conselho da Renova. As empresas responsáveis têm que realmente resolver o problema e prestar contas do que têm feito.

O Globo, 27/06/2018, País, p. 7

https://oglobo.globo.com/brasil/analise-tres-anos-depois-falta-reparaca…

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