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Falta de técnicos especializados facilita exploração ilegal do mogno

Radiobrás-Brasília-DF
Autor: Camila Cotta
05 de Fev de 2003

Considerado o país de maior biodiversidade do mundo, o Brasil tem sua riqueza natural constantemente ameaçada pela ação humana que, na grande maioria das vezes desemboca no fator econômico. Muitas espécies vegetais brasileiras, já estão comercialmente extintas em decorrência da exploração descontrolada das últimas décadas. O mogno brasileiro (Swietenia macrophylla, King) é a próximoa da lista. Pelo alto valor comercial e grande aceitação no mercado internacional, a espécie já desapareceu de grandes extensões da Amazônia Brasileira e resiste apenas em regiões de difícil acesso e em áreas protegidas, como as reservas indígenas, onde se busca manter vigilância mais estreita sobre os madeireiros.

Para o Ibama, órgão encarregado de proteger a fauna e a flora, é muito difícil fazer o controle e a fiscalização das árvores exploradas comercialmente, principalmente porque poucos conhecem a anatomia das diversas espécies. Tentando minimizar essa falha, o Laboratório de Produtos Florestais (LPF), do Ibama, oferece treinamento na área de anatomia vegetal, primeiro passo para a identificação da espécie que está sendo extraída.

De acordo com Vera Rawer Coradin, bióloga e doutoranda em ecologia, o mogno é conhecido com vários outros nomes, fato aproveitado por muitos para vender outras madeiras em seu lugar, pois não se conhece a sua anatomia. "Uma espécie é comercializada no país com vários outros nomes, ou seja, várias espécies de diferentes árvores possuem, ás vezes, a mesma nomenclatura comercial", explica Vera.

Além do Ibama existem no Brasil outros órgãos que pesquisam e fazem a análise anatômica como os institutos de Pesquisas Tecnológicas (IPT), em São Paulo, o Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em Manaus, e a Embrapa Amazônia Oriental, em Belém (PA).

A exploração excessiva é apontada pela bióloga como o principal fator hoje a incluir a espécie na lista das ameaçadas de extinção. "Na verdade, não é que o mogno esteja extinto, mas se resolveu dar um basta porque as principais áreas de ocorrência de mogno natural são as indígenas, onde é proibida a extração", diz Vera. "Infelizmente a fiscalização é bem precária, pois há exploradores que põem no mogno outro nome, que muitas vezes se passa despercebido por conta da coloração, e como não se tem gente suficientemente preparada para identificar a anatomia da madeira, o mogno continua sendo arrancado da natureza de forma ilegal", informa Vera.

O mogno é comercializado no Brasil também com o nome de cedro, aguano, acaju, mogno branco, mogno brasileiro, entre outros. E já existe uma outra espécie de cedro, que tem características semelhantes ao mogno sendo comercializado em seu lugar. Por conta dessa confusão de nomeclatura há muita troca entre a madeira comercializada. A bióloga do Ibama conta que quando o mogno tinha cotação de preço muito alta, os exploradores extraíam o cedro e vendiam como mogno. Mas agora que sua derrubada está proibida, os madeireiros cortam mogno e vendem como cedro ao preço que querem. "Para detectar esse tipo de fraude é preciso se recorrer a pessoas especializadas em madeira", diz ela.

Além disso, Vera ressalta que há poucas pessoas com treinamento e dessas nem todas têm aptidão ou dom para enxergar as diferenças. "Num curso para vinte pessoas, você consegue selecionar no máximo umas cinco. É necessário ter uma visão muito apurada, saber observar minuciosamente", explica a bióloga.

De acordo com a bióloga, em 2202 o LPF deu um curso para o pessoal da Polícia Federal, que se tem mostrado muito interessado nessa área, pois a PF tem uma unidade para combater crimes ambientais e outra contra o patrimônio histórico. "Os policias estão começando a se preocupar e não querem ser apenas meros acompanhantes do Ibama nessas operações, querem ser autônomos. Nisso eles que estão certos, pois já se tem um quadro de fiscais reduzido e quanto mais gente para ajudar melhor. Quanto mais gente treinada, mais fácil combater o problema".
enfatiza Vera.

O único problema é que a partir do momento que acaba o treinamento, os fiscais devem continuar exercitando para não perder a prática. "Quando se tem grandes operações, o pessoal do Ibama acompanha para dar apoio, pois há casos de madeiras que se parecem muito visualmente, mas quando se analisa, constata-se que são apenas semelhantes. E para isso é necessário se recorrer aos especialistas", explica Vera.

Mesmo assim, opina Vera, a ajuda da PF é essencial, pois caso o policial olhe e pela pequena experiência que tenha na área observa que a madeira fiscalizada não é a que os exploradores dizem ser, já ajuda bastante a aprender ou não o carregamento.

No momento se realiza um estudo visando substituir o mogno no mercado, já que para Vera o mogno hoje é uma madeira considerada de "moda" e assim que essa fase passar outras madeiras passarão a sofrer pressão e ficarão tão ameaçadas quanto o mogno. "A nossa floresta tem que ser explorada como um todo, para evitar justamente esses casos de extinção. Não adianta fazer uma exploração seletiva, pois sempre haverá a proibição da madeira mais explorada", alega a bióloga.

Infelizmente no Brasil ninguém se preocupa em reflorestar as espécies. Geralmente as grandes empresas investem mais nessa ação do que as pequenas, pois dependem do produto para continuarem crescendo. A pequena empresa, vai cortando e mudando de espécie de acordo com sua necessidade, e não se importa se o manejo é certo ou errado. Ao se somar várias empresas pequenas, se concluí que elas são mais destruidoras que as grandes empresas.

O paísl tem a melhores das leis ambientais, o problema, segundo os especialistas, é que não há condições de fazer com que a lei se cumpra. Na visão da bióloga Vera não é por falta de leis que as coisas estão erradas, e sim por falta de consciência. No Brasil não se tem a cultura dos países do norte da Europa como a Finlândia, a Rússia, onde o crescimento das árvores é muito devagar e eles conseguem produzir e exportar mais que nós.

Na Finlândia uma árvore para chegar a 50 centímetros de diâmetro leva 100 anos. No Brasil não leva 15 anos. "Os finlandeses sabem manejar as florestas e dão valor ao produto que irá sustentá-los para o resto da vida", diz Vera. Eles têm uma cultura, são agrosivilcultores. Mantêm uma agricultura de subsistência de onde tiram o sustento próprio do dia-a-dia e quando precisam de investimentos é que eles recorrem às florestas.

Diferentemente do Brasil, o setor florestal finlandês está vinculado ao Ministério de Agricultura e Floresta. No Brasil essa ligação e com o Ministério do Meio Ambiente. O Ministério de Agricultura e Floresta finlandês tem um departamento (de florestas) para atender exclusivamente as questões relacionadas ao setor. O Departamento de Florestas é composto por cinco unidades, produção florestal, pesquisa florestal e florestas nacionais, assuntos internacionais e desenvolvimento sustentável, assuntos econômicos e financeiros e assuntos legais e administrativos.

Para a bióloga Vera, o que falta é a consciência nacional. Se o Brasil continuar desse jeito, as florestas acabarão. "As pessoas só pensam nos negócios, é uma forma muito egoísta de raciocinar. Você só pensa em você e não nas gerações futuras. Falta conscientização", ressalta.
"Por um lado, acho que as coisas já estão mudando. Pois, a partir do momento que você começa desde o princípio, ou seja, a conscientizar as crianças, as coisas tendem a evoluir", ensina a bióloga.

Para os interessados em conhecer as diversas nomenclaturas comerciais que as espécies de árvores brasileiras têm, basta consultar o livro "Catálogo de Árvores do Brasil", que está disponível no site do Ibama www.ibama.gov.br, na seção de bibliografias.

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