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Falo em umutina para ela saber como é que fala'

Diário de Cuiabá-Cuiabá-MT
22 de Abr de 2003

Quando voltou de seu exílio voluntário, 20 anos após a morte dos pais, Julá Paré descobriu que apenas uma índia umutina, Kozakaru, ainda mantinha a capacidade de conversar no idioma materno. Os demais, a maioria órfãos criados pelos agentes do SPI, haviam sido educados apenas em português.

A índia remanescente, porém, evitava dizer qualquer palavra no idioma Umutina. As lembranças de sua gente a faziam chorar de tristeza (há relatos de órfãos que morreram de saudade). Isso ampliou o isolamento de Julá Paré, que passou a se comunicar apenas com o falar dos brancos.

Hoje, além dele, os únicos a guardar referências da língua são os índios Antônio Apudonepá e Joaquim Kupudonepá, chefes das duas famílias de umutinas "legítimos" que restaram no Posto Indígena. Eles tentam passar aos filhos e netos algumas palavras do antigo vocabulário.

"Quando peço uma panela para minha filha, falo em umutina para ela saber como é que fala. Eu quero que ela aprenda para passar aos outros", justifica o índio, que conta ter nascido "no meio dos brancos". "O Julá Paré fez empenho para ensinar a criançada a falar, mas eles não se interessaram". (RV)

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