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Exposição resgata idiomas ameríndios em risco de extinção, no Rio de Janeiro

Portal Amazônia - http://www.portalamazonia.com.br
26 de Jan de 2015

AMAZÔNIA - Ao entrar nas salas expositivas, o visitante primeiro ouve um murmúrio inespecífico e polifônico, composto por várias vozes e por um tapete sonoro, que faz lembrar um ambiente sacro; depois se aproxima de cada um dos alto-falantes e ouve distintamente o som de cada língua ameríndia, dentre centenas de idiomas em risco de extinção ou em situação crítica. Painéis individuais apresentam textos com o conteúdo das falas e o desenvolvimento histórico de cada uma das línguas ali representadas, no universo dos idiomas falados pelos povos das Américas. Nas paredes das salas, listas com mais de 550 idiomas; no primeiro andar, um grande vitral exibe imagens de populações indígenas, seus costumes e rituais.

Quinze instalações sonoras compõem a mostra "O Papagaio de Humboldt", que será inaugurada em 2 de fevereiro de 2015 no Oi Futuro Flamengo, com curadoria de Alfons Hug. Idealizada pelo Instituto Goethe, a exposição resgata não apenas um precioso patrimônio linguístico, mas também uma forma de ver e viver o mundo, uma genuína visão de mundo e do ambiente, uma leitura do universo que não mais se conseguirá acessar. O patrocínio é da OI, do Governo do Rio de Janeiro e da Secretaria de Estado de Cultura, através da Lei Estadual de Incentivo à Cultura do Rio de Janeiro.

"O Papagaio de Humboldt" se inspira no mito do papagaio que o explorador e naturalista alemão Alexander von Humboldt adquiriu da tribo indígena caribe, em plena selva do Orinoco, em uma das inúmeras viagens que o levaram a países como Venezuela, Colômbia, Equador, Peru, Cuba e México, entre 1799 e 1804. Humboldt percebeu que o papagaio não falava a língua da tribo que visitava, mas a língua da tribo exterminada, os maipuré. Na verdade, o papagaio era o único falante vivo dessa língua que levava o mesmo nome da tribo extinta. Vale lembrar que Humboldt está um pouco presente na literatura brasileira por causa do papagaio do Macunaíma - aquele papagaio que fala no fim do livro, o único que conhece a língua da tribo.

Se no Brasil são faladas mais de 160 línguas, em alguns países da América Central elas se resumem a um punhado. Calcula-se que 85% das línguas que estavam vivas no ano de 1500 já tenham sido extintas.

A população indígena da América Latina soma 28 milhões de pessoas - 6% da população total. Em todos os vinte países, com exceção de Cuba, Haiti e República Dominicana, são faladas mais de 600 línguas ameríndias, o que corresponde a 10% dos idiomas falados em todo o mundo. Um terço delas está ameaçado de extinção e outro terço já se encontra em situação crítica. Enquanto os idiomas quechua (Peru, Equador, Bolívia), guarani (Paraguai), aimará (Bolívia, Chile, Peru) e náuatl (México), contam, cada um, com milhões de falantes, outros, como o arara (Brasil), bribri (Costa Rica), pipil (El Salvador) ou chorote (Argentina) somam menos de mil falantes.

O idioma yámana da Terra do Fogo hoje é falado por apenas uma pessoa, Cristina Calderón, nascida por volta de 1938, em Puerto Williams (Chile). O artista chileno Rainer Krause entrevistou esta senhora no intuito de preservar, ao menos, um vocabulário básico deste idioma. Diante de situação tão dramática, é bastante animador observar que um novo indigenismo está surgindo em diversos países do continente; as formas de vida tradicional vêm sendo discutidas com seriedade - e não apenas na Bolívia, Equador ou Venezuela, mas também no Brasil e mesmo na Argentina.

No Brasil, recentemente, foram demarcadas centenas de reservas indígenas, chamadas de "terras indígenas". Na Bolívia, os direitos da natureza foram incluídos na Constituição, expressando o "sumakkawsay", que significa na língua quéchua "buenvivir", o bom viver, ou também "vida pura e em harmonia". Trata-se de uma forma de vida que possibilita a convivência harmoniosa com os outros seres humanos e também com a natureza.

"O Papagaio de Humboldt" busca colocar as pessoas em contato com a realidade das línguas ameríndias e, ao mesmo tempo, apresentar as formas de renascimento que vêm acontecendo nesse terreno. O fato da exposição restringir-se exclusivamente ao som exige concentração intensa do visitante, que pode prescindir dos elementos visuais à medida que se dispõe a mergulhar profundamente no cosmo das línguas raras. Foram selecionados artistas que têm afinidade com o patrimônio linguístico indígena. Na seleção das línguas, foi determinante não apenas a importância histórica e cultural de uma língua e de uma etnia, mas também o grau de ameaça de extinção e seu apelo estético. Além disto, é admirável que todos os artistas participem de uma obra coletiva onde não existe hegemonia ou hierarquia.

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