VOLTAR

Exposição 'Os Olhos do Xingu' revela belezas e ameaças

Ciclo Vivo - https://ciclovivo.com.br/fique-ligado/eventos/exposicao-os-olhos-do-xingu-revela-beleza
05 de Dez de 2024

Exposição 'Os Olhos do Xingu' revela belezas e ameaças
Com curadoria de Kujaesãge Kaiabi, mostra reúne 20 fotografias e 20 vídeos de oito membros da Rede de Comunicadores Xingu+

Por: Redação CicloVivo - 5 de dezembro de 2024

O Museu Nacional da República, em Brasília (DF), recebe, a partir do dia 6 de dezembro, a exposição Os Olhos do Xingu, que fica disponível para visitação até 2 de fevereiro de 2025. São 20 fotografias e 20 vídeos de oito membros da Rede de Comunicadores Xingu+ que vivem em Terras Indígenas na Bacia do Rio Xingu, entre Pará e Mato Grosso.

Com curadoria de Kujaesãge Kaiabi e dos comunicadores indígenas, a exposição é uma realização da Rede Xingu+, da União Europeia e do Instituto Socioambiental (ISA); e conta com apoio da Fundação Rainforest da Noruega.
Imagem aérea mostra área que era do povo Khisetje, hoje ocupada por plantações de soja, a 1 km da Terra Indígena Wawi. Expansão agrícola e agrotóxicos ameaçam pesca, banho e práticas tradicionais desse povo
Imagem aérea mostra área que era do povo Khisetje, hoje ocupada por plantações de soja, a 1 km da Terra Indígena Wawi. Expansão agrícola e agrotóxicos ameaçam pesca, banho e práticas tradicionais desse povo. Foto: Renan Kisedje

A exposição convida o público a mergulhar no olhar dos comunicadores xinguanos sobre os modos de vida e as ameaças enfrentadas pelos povos do Corredor de Áreas Protegidas do Xingu diante da crise climática. Além das fotografias, a exposição se expande com a exibição de 20 vídeos, em que indígenas e ribeirinhos compartilham as histórias por trás das fotografias.

Cada vídeo traz relatos dos comunicadores que oferecem uma perspectiva direta sobre o cotidiano, os rituais, os desafios e as belezas da bacia do Xingu. Essa combinação de fotografia e narrativa audiovisual cria uma ponte entre o espectador e a realidade vivida pelos comunicadores, estimulando uma reflexão mais profunda sobre a importância do respeito aos direitos dos povos indígenas e das comunidades tradicionais.
comunicadores do Xingu
Em pé, da esquerda para a direita, parte dos comunicadores e suas fotos: Kubekàkre Kayapó, Po Yre Mekragnotire, Kamatxi Ikpeng, Kokoyamaratxi Renan Suya e Tauana Kalapalo. Sentados, da esquerda para a direita: Joelmir Silva e Silva, Nharapa Juruna e Yamony Muriki Yawalapiti Kuikuro. Foto: Paula Mercedes e Marcelo Lacerda, Bebinho Salgado | ISA

Os Olhos do Xingu foi inaugurada em julho deste ano no centro de Oslo, capital da Noruega. É a primeira vez que os comunicadores xinguanos apresentam o resultado de seus trabalhos em Brasília.

As 20 imagens e os vídeos direcionam o olhar da sociedade envolvente para além da fronteira do imaginário popular, destacando a relação intrínseca entre o bem viver e a proteção dos territórios. As imagens produzidas pelos comunicadores ainda propõem uma reflexão sobre como os diferentes modos de produção de registros visuais incentivam as novas gerações de comunicadores a fazer fotografia a partir do pensamento dos povos do Xingu.
Ngrenhkàmôrô Kayapó, também conhecida como Dilma Kayapó, cacica da aldeia Aukre, da Terra Indígena Kayapó, fotografada durante a 3ª Marcha Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade Pelas Raízes Ancestrais, realizada em Brasília
Ngrenhkàmôrô Kayapó, também conhecida como Dilma Kayapó, cacica da aldeia Aukre, da Terra Indígena Kayapó, fotografada durante a 3ª Marcha Mulheres Biomas em Defesa da Biodiversidade Pelas Raízes Ancestrais, realizada em Brasília. Foto: Yamony Muriki Yawalapiti Kuikuro

A seleção de fotos apresentadas na mostra inclui registros de mobilizações em Brasília, como a 3ª Marcha Mulheres Indígenas, realizada em setembro de 2023, além de retratos feitos em reuniões e em danças e festividades realizadas nos territórios.

Em uma potente fotografia monocromática, a comunicadora Tina Yawalapiti retratou o centro cultural Umatalhi, importante espaço para o fortalecimento do modo de vida alto xinguano pela realização de atividades como o ensino da língua yawalapiti - atualmente com poucos falantes -, aulas de artesanato e cursos de formação para comunicadores.
Construção de Umatalhi, centro cultural na aldeia Tuatuari, no Alto Xingu
Construção de Umatalhi, centro cultural na aldeia Tuatuari, no Alto Xingu. Foto: Tina Yawalapiti | ISA
A curadora: Kujaesãge Kaiabi

Kujaesãge Kaiabi vive na aldeia Guarujá, no Território Indígena Xingu (TIX), onde se destaca como uma das mais promissoras figuras femininas do audiovisual. Todos os dias acorda cedo, toma banho no rio e prepara a alimentação da sua família. Junto com as mulheres de sua comunidade, coleta mandioca, amendoim, torra farinha, faz artesanato e cuida de sua aldeia.

Seu principal papel enquanto comunicadora é apoiar os caciques e lideranças kaiabi a compreender os retrocessos governamentais e ameaças que tramitam no Congresso Nacional. "Sou uma porta-voz do povo Kaiabi", conta a comunicadora. Para isso produz vídeos e áudios informativos.
Kujaesãge Kaiabi registra encontro de mulheres indígenas em agosto de 2017.
Kujaesãge Kaiabi registra encontro de mulheres indígenas em agosto de 2017. Foto: Marilia Garcia Senlle | ISA

O desejo de se tornar comunicadora surgiu quando foi convidada para atuar no filme A história da Cutia e do Macaco, do Instituto Caititu. Desde então, Kujaesãge passou a se inspirar nas produções que viu durante a sua atuação. "Para mim não foi fácil, pois naquela época não havia mulheres na área audiovisual", relatou.

A imagem tem um poder muito significativo para o povo Kaiabi. "Quando tiramos uma foto ou fazemos um vídeo, é esse registro que servirá como dicionário ou lembrança da família que se foi", disse a comunicadora, que também pesquisa imagens do seu povo em arquivos históricos de conteúdos produzidos também por cineastas não-indígenas.

Desde 2018, realiza a cobertura audiovisual da Mobilização das Lideranças Indígenas, no Acampamento Terra Livre (ATL) em Brasília. Em 2022, foi curadora do 1o Festival de Cinema e Cultura Indígena do Brasil e no mesmo ano expôs no Instituto Moreiras Salles fotos e um filme em que apresenta a trajetória do seu avô, Prepori Kaiabi, um dos principais pajés da história do Parque Indígena do Xingu (PIX).

Atualmente, Kujaesãge Kaibi se dedica à produção de um longa-metragem que conta a história de Prepori Kaiabi.
Comunicadores da Rede Xingu+

Composta por 53 membros, a Rede de Comunicadores Indígenas e Ribeirinhos do Xingu integra a Rede Xingu+, uma articulação entre organizações de povos indígenas, associações de comunidades tradicionais e instituições da sociedade civil atuantes na bacia do Rio Xingu.

Ao se apropriarem do uso de equipamentos e tecnologias sociais, os comunicadores da Rede Xingu+ assumem o protagonismo na comunicação interna e articulação política entre diferentes povos da Bacia do Rio Xingu, e contribuem para a prevenção, emissão de alertas e monitoramento de atividades ilegais nas Áreas Protegidas do Xingu.

Siga os @comunicadoresxingumais no Instagram!
Olhos do Xingu
Cartaz da exposição 'Olhos do Xingu'. Imagem: Divulgação
Exposição Os Olhos do Xingu

Abertura: 6 de dezembro de 2024, às 11h
Local: Museu Nacional da República - Setor Cultural Sul, Lote 2, Brasília (DF)
Visitação: 6 de dezembro de 2024 a 02 de fevereiro de 2025
Entrada gratuita
Realização: Rede Xingu+, União Europeia, Instituto Socioambiental (ISA)
Apoio: Fundação Rainforest da Noruega
Produção: Incentivem Soluções Culturais
Parceria: Secretaria de Relações Internacionais e Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Governo do Distrito Federal

Com informações de Silia Moan e Roberto Almeida, Jornalistas do ISA
ISA
Imagem: Reprodução | ISA
Quer apoiar os povos indígenas do Brasil?

Para apoiar a luta pelos direitos dos povos originários, você pode contribuir com o ISA que há décadas trabalha com ações de comunicação, articulação e mobilização política na defesa dos direitos dos povos indígenas e das populações tradicionais. Os recursos serão direcionados para o Fundo de Defesa dos Direitos dos Povos, além de iniciativas para adesão de novos apoiadores.

https://ciclovivo.com.br/fique-ligado/eventos/exposicao-os-olhos-do-xin…

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.