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Exposição em SP reúne estudos médicos de indígenas huni kuin

FSP, Ilustrada, p.C10
06 de Dez de 2017

Mostra reúne estudos médicos de aldeias indígenas Acre

Com mais de 13 mil pessoas, os huni kuin representam a maior população indígena do Acre. Entre eles, há uma divisão de 36 tribos, cada uma das quais com sua própria história, ensinamentos e diferentes métodos de cura.

Em 1988, o pajé Agostinho, da Centro de Memória Aldeia São Joaquim, teve a iniciativa de reunir pesquisas realizadas pelas tribos da região, como o registro de plantas medicinais.

Parte deste resultado pode ser visto na exposição "Una Shubu Hiwea - Livro Escola Viva", a partir desta quarta (6), no Itaú Cultural. O acervo exposto reúne desenhos, estudos, histórias e vídeos produzidos pelos próprios índios.

"Essa é a forma que encontramos de unir nossos conhecimentos para que nossa tribo nunca perca a cultura", explica o pajé Dua Buse, da aldeia Coração da Floresta, que idealizou o projeto.

"Aqueles que estão nascendo não sabem que já fizemos bastante pela medicina e pesquisamos várias espécies da natureza", diz Buse.

Os índios consideram a proteção cultural não apenas uma forma de manter a história mas de fortalecê-la.

Uma das curadoras da exposição, a editora Anna Dantes acompanha os povos da região desde 2011.

Na época, ela participou do lançamento do primeiro livro com estudos dos huni kuin,"Una Isi Kayawa - Livro da Cura" (2014). Agora, a mostra disponibiliza uma reedição.

Após período de aprendizado com os índios, Dantes analisa que falta formação às crianças que estudam em escolas tradicionais e que não têm conhecimento sobre mitos e diferentes culturas.

"Percebo que nas tribos, por mais que haja aulas, como de matemática, as crianças têm liberdade. Fica muito claro que o ensino sobre os cantos, por exemplo, as motiva e as anima", diz Dantes.

CINCO TEMPOS

Longe da cronologia tradicional, a história dos huni kuins é dividida em cinco tempos, contemplados na mostra: o primeiro é o das malocas, quando viviam nus, antes do contato com os brancos.

O segundo é o tempo da correria, quando foram contatados por homens com armas de fogo e foram reduzidos a cerca de 300 pessoas.

O tempo do cativeiro é o terceiro; nele, os índios se tornaram reféns dos seringalistas que implementaram o sistema escravistas dos barracões, sob o qual nasceram todos os huni kuins atuais.

A partir da década de 1970, foi instaurado o tempo dos direitos, a partir de formulações dos antropólogos na constituição das cooperativas e na delimitação dos territórios.

Atualmente, eles vivem o novo tempo, que alia a transmissão das tradições entre velhos e jovens a intercâmbios com o mundo do século 21.

Hoje em dia, mesmo o contato com as novas tecnologias pelos índios tem como objetivo a manutenção da própria cultura, diz a curadora.

A relação com animais sagrados da cultura, como a jiboia, propicia um exemplo. Tadeu Siã Txana Hui Bai, da aldeia São Joaquim e filho do pajé Agostinho, explica que "a jiboia simboliza o planeta, o ensino, a ciência e o conhecimento da medicina".

"Eles não têm interesse na tecnologia para deixar a cultura para trás. Os jovens já elaboraram, por exemplo, um videogame com a história da jiboia", explica Dantes.

UNA SHUBU HIWEA
QUANDO nesta quarta (6), às 20h, até 13/2; de ter. a sex., 9h às 20h, e sáb., dom. e feriado, 11h às 20h
QUANTO grátis
ONDE Itaú Cultural, av. Paulista, 149; tel. (11) 2168-1777
CLASSIFICAÇÃO livre

FSP, 06/12/2017, Ilustrada, p.C10

http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2017/12/1940929-mostra-reune-est…

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