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'Explosão do desmatamento deve resultar na Amazônia em chamas em 2020', avisa cientista

O Globo - https://oglobo.globo.com/sociedade
09 de Jan de 2020

'Explosão do desmatamento deve resultar na Amazônia em chamas em 2020', avisa cientista
Especialista em efeitos das queimadas sobre a floresta alerta: 'única saída é fazer trabalho de manejo do fogo e ter fiscalização mais eficiente'

Ana Lucia Azevedo
09/01/2020 - 10:04 / Atualizado em 09/01/2020 - 16:36

RIO - A Amazônia começa 2020 à mercê do fogo. O desmatamento de 2019 deixou no chão da floresta combustível para imensas queimadas na estação seca, que começa em maio. O alerta é da ecóloga brasileira Erika Berenguer, das universidades britânicas de Oxford e Lancaster.

Especialista nos efeitos das queimadas sobre a floresta amazônica, ela destaca que no ano passado o tempo úmido colaborou para evitar que o fogo se alastrasse ainda mais. Entretanto, o ano teve 30% mais focos de fogo do que 2018 devido, sobretudo, ao desmatamento ilegal.

- A explosão do desmatamento em 2019 fará com que este ano vejamos a Amazônia em chamas. A não ser que se faça manejo do fogo e um trabalho de fiscalização eficiente, rigoroso - afirma a cientista.

Para este ano, não há previsão de seca na região. Porém, há a herança incendiária do aumento do desmatamento de 2019 - 29,5%, o maior percentual em duas décadas, com 9.762 km² de florestas arrasadas. E isso se for considerado apenas o período até 31 de julho, pois os números oficiais do Inpe analisam o período de 1o de agosto de um ano a 31 de julho do seguinte.

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Dados do sistema Deter, do Inpe, não são consolidados, pois servem apenas como alerta. Porém, oferecem uma ideia da dimensão do problema. De 1o de agosto a 17 de dezembro (última data com dados disponíveis), foram emitidos alertas para uma área de 4.420 km² de desmatamento.

- Há uma quantidade colossal de galhos, folhas e troncos de árvores derrubadas deixada no chão da mata. Na Amazônia quase todo o desmatamento é ilegal e não dá para imaginar que desmatadores ilegais farão manejo do fogo, com incêndios controlados, para impedir que mais floresta seja destruída - destaca Erika Berenger.

Ela acrescenta que as matas nas bordas das áreas queimadas também se tornam vulneráveis, enfraquecidas pelo fogo. Naturalmente úmida, a floresta não tem resiliência aos efeitos dos incêndios.

Floresta se transformou
As queimadas produzem um ciclo vicioso que deixa a floresta cada vez mais vulnerável, mostrou um estudo do grupo de Erika Berenger no Oeste do Pará. Os pesquisadores investigaram o impacto do fogo em unidades de conservação onde foram registradas queimadas em 2015, ano em que um dos maiores El Niños registrados provocou uma seca violenta, que facilitou a propagação do fogo.

Após quatro anos, em 2019, o verde havia voltado. Mas a floresta era outra.

As árvores gigantes, marcas registradas do bioma, deram lugar a uma vegetação rasteira e emaranhada. Essa mata nanica pós-fogo abriga menos espécies de plantas e animais e presta menos serviços ambientais. Nasceu também prisioneira do fogo, pois por ser seca, densa e fina é mais vulnerável e espalha mais as chamas do que a floresta úmida.

- São matas assim que muito provavelmente vão queimar na próxima estação seca - adverte a pesquisadora.

Diferentemente dos incêndios florestais da Austrália, causados por fatores meteorológicos - seca e calor extremos associados, em parte, a mudanças climáticas -, as queimadas que consumiram florestas na Amazônia no ano passado estão ligadas ao desmatamento.

As queimadas são usadas tanto para degradar a floresta justificando sua derrubada posteriormente, como para limpar as áreas onde a mata já foi derrubada. O fogo faz cinza das árvores caídas e abre caminho para pastagens e invasões de grileiros em unidades de conservação, terras públicas não destinadas e terras indígenas.

De modo diverso do da Austrália, que tem uma vegetação mais seca e sujeita a incêndios, a Amazônia é extremamente úmida. O fogo não faz parte da dinâmica dela, precisa ser provocado, diz Erika Berenger. Mesmo em anos excepcionalmente secos, como 2010 e 2015, não aconteceu na Amazônia nada semelhante à dimensão dos incêndios australianos.

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