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A exploração de piaçava pelos werekena do Xié

O Paraense (Belém - PA)
24 de Jun de 2002

A exploração da piaçava pelos werekena do Xié
Os frutos da Floresta Amazônica são retirados pelos índios do alto rio Xié, garantindo a preservação

A piaçava, "cabelos que saem de dentro do coração da árvore", na tradução literal do antigo nheengatu, é o mais novo filão comercial dos índios werekena. A fibra da palmeira, abundante no alto rio Negro, Estado do Amazonas, fronteira com a Colombia, era uma das "drogas do sertão" mais procuradas durante o período colonial. Hoje, a piaçava é utilizada para a fabricação de cordas utilizadas em embarcações, vassouras e similares. A fibra era comercializada no Brasil e exportada para a Inglaterra até a década de 60, quando foi substituída pelo nylon.
Na primeira semana de junho, em plena Copa do Mundo de futebol, na Ásia, representantes de oito comunidades dos índios Werekena reuniram-se no povoado de Anamoim, no alto rio Xié, Amazonas, para discutir o uso e a comercialização da piaçava (Leopoldínia Piassaba Wall).
Cortar piaçava é um trabalho duro, que envolve homens e mulheres. A piaçava serve de ninho para animais peçonhentos e corre-se sempre o risco de acidentes. Uma vez explorada, uma piaçaveira pode ser reexplorada após 10 anos de "descanso", quando as fibras retomam um bom tamanho para a comercialização.
O corte da piaçava acontece durante as cheias no alto rio Negro. Começa em março e acaba em julho nas cabeceiras de igarapés. É um trabalho árduo: depois de duas horas de caminhada pela mata - dependendo da localização do piaçaval - até chegar à área onde se inicia a limpeza das árvores para soltar suas fibras e afugentar animais peçonhentos.
Depois, as fibras são alisadas e limpas com as mãos sem nenhuma proteção para, em seguida, serem cortadas com faca. As fibras da piaçaba são juntadas em pacotes chamados de "piraíba". A produção diária de cada índio jovem pode chegar a até 100 quilos por dia. Os mais velhos chegam a cortar de 25 quilos a 40 quilos/dia, que são transportados na cabeça para as canoas.
Anualmente, as comunidades do alto rio Negro chegam a produzir de 60 a 70 toneladas da fibra, que é comprada em estado bruto por comerciantes de Manaus, Belém, Rio de Janeiro e São Paulo. O quilo custa R$ 0,40. Pequenas indústrias, com investimentos de U$3 mil, e utilizando 4 ou 5 funcionários e cinco máquinas podem produzir até de 480 vassouras por dia, que são revendidas em sua grande maioria para supermercados. O trabalho dos índios conta com a assessoria técnica da organização não governamental Instituto Sócio Ambiental (ISA).
Sem atravessador - De acordo com Edilson Martins Melgueiro, índio baniwa, 33 anos, diretor da Foirn (Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro) a reunião foi realizada com o objetivo de discutir os diversos usos para a piaçava, bem como novas formas de comercialização da fibra, além de repassar aos mais jovens o manejo e beneficiamento do produto da palmeira. Antigamente, segundo Melgueiro, a fibra era comprada pelos comerciantes em troca de mercadorias. Mas os índios sempre estavam devendo aos comerciantes em função dos preços baixos pagos pela piaçava não beneficiada.
Agora, com a articulação dos índios do alto Xié, as comunidades da região podem ter como gerar uma receita muito maior. "Nós pretendemos eliminar a figura do atravessador. Vamos vender a fibra já beneficiada como vassouras ou artesanato diretamente aos grandes centros", anuncia Edílson Melgueiro.

O Paraense, 24/06/2002

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