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Exploracao ameaca castanha-do-para: atividade sustentavel precisa ter ponto de equilibrio, diz estudo na 'Science'

OESP, Geral, p.A12
19 de Dez de 2003

Exploração ameaça castanha-do-pará Atividade sustentável precisa ter ponto de equilíbrio, diz estudo na revista 'Science'
HERTON ESCOBAR
A tradicional atividade de coleta de castanha-do-pará na Amazônia - vista como uma das melhores opções econômicas para a preservação da floresta - não é tão sustentável quanto parece. A superexploração do recurso em várias regiões dificulta a reprodução das castanheiras, segundo estudo publicado hoje na revista Science. A coleta dos frutos é tão intensa que, em alguns casos, não sobram sementes para dar origem a novas árvores.
"Nessas áreas há árvores cada vez mais velhas que não estão sendo repostas, o que pode levar a um colapso", explica o ecólogo paraense Carlos Peres, da Universidade de East Anglia, Grã-Bretanha, que coordenou o estudo. "Isso não quer dizer que a castanha-do-pará vá desaparecer da Amazônia amanhã, mas é preciso repensar a sua exploração."
Construída em dez anos de trabalho de campo, a pesquisa analisou 23 áreas no Brasil, Peru e Bolívia. Participaram pesquisadores da Universidade de São Paulo, Embrapa, Museu Paraense Emílio Goeldi e Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, cientistas da Holanda, dos EUA e Peru.
Parte dos dados remete ao início do século 20. Quanto mais intensa e antiga a exploração, menor o número de árvores jovens. "As práticas atuais de coleta em muitos pontos da floresta não são sustentáveis a longo prazo", escrevem os pesquisadores. Eles ressaltam, porém, que a atividade é benéfica e deve ser incentivada - com adaptações.
A castanha-do-pará é a única semente no mercado internacional extraída exclusivamente de florestas naturais. A atividade movimenta US$ 33 milhões e depende totalmente da coleta dos frutos - os ouriços - que caem das árvores, realizada por comunidades tradicionais. Segundo Peres, várias tentativas de estabelecer plantações já foram feitas, sem sucesso. As castanheiras podem superar 50 metros de altura e têm o caule mais grosso da Amazônia - nas árvores maiores, o diâmetro na base ultrapassa 5 metros.
Em alguns casos, a coleta chega a mais de 90% dos frutos. A melhor solução, diz Peres - cuja família foi pioneira na atividade -, seria um regime de rotação, deixando de coletar nas áreas críticas por dois ou três anos. "A má notícia é que o problema existe. A boa é que podemos resolvê-lo rapidamente."

OESP, 19/12/2003, p. A12

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