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Expedição realiza inventário da biodiversidade em rios do Amazonas

Portal Amazônia - http://portalamazonia.com
05 de Ago de 2015

Esta é a segunda expedição realizada pelo Inpa. Trecho analisado está localizado entre Nova Olinda do Norte e Maués, no Amazonas

Uma expedição de nove dias em três rios do Amazonas, localizados na bacia do rio Madeira onde foram construídas as hidrelétricas de Santo Antônio e Jirau (Rondônia) iniciou na última segunda-feira (3). A finalidade é fazer um inventário das espécies de peixes, insetos, aves, plantas, algas e também caracterizar os tipos de água nos rios Canumã, Abacaxis e Marimari, na região entre os municípios de Nova Olinda do Norte e Maués, no Amazonas.

A expedição faz parte de um projeto do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa) que busca caracterizar e prospectar novos insumos da biodiversidade do Médio Rio Negro com potencial biotecnológico e é financiado pela Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia (Sudam).

Envolve 23 especialistas de diferentes áreas do conhecimento que realizarão estudos sobre a biodiversidade dos locais onde existe contato de diferentes tipos de águas (pretas, claras e brancas) e que poderá, eventualmente, refletir na composição da biodiversidade.

Complementação

O trabalho de coleta amostral é também uma complementação de uma expedição realizada em setembro de 2014 para outra região, entre os rios Marauiá (Santa Isabel do Rio Negro) e Jufari (Barcelos). Ambos são na margem esquerda do rio Negro, onde é estudada a possibilidade de instalação de hidrelétricas na Amazônia. Além do inventário, a proposta é entender as diferenças entre os animais e plantas nos diferentes tipos de águas e ecossistemas.

Segundo o responsável pela expedição, o pesquisador do Inpa Efrem Ferreira (ao lado), a área entre os rios Canumã e Abacaxis, situados entre os municípios de Maués e Nova Olinda do Norte - afluentes de água preta e de água clara que deságuam no Paraná do Urariá, de água branca - são os mais interessantes. "Essa área é interessante para a prospecção da biodiversidade, pois estudos anteriores mostraram uma relação entre a fauna de peixes do rio Abacaxis e do rio Negro", conta.

O rio Abacaxis é um rio de água preta, onde há ocorrência de peixes que só eram conhecidos para a bacia do rio Negro, como o cará-papagaio (Hoplarchus psittacus) e cardinal (Paracheirodon axelrodi). "Aparentemente, o Abacaxis pode ter tido uma antiga conexão com o rio Negro", afirma o pesquisador.

Segundo Ferreira, a primeira expedição na margem esquerda do rio Negro foi realizada durante cerca de 20 dias na época da vazante. A ideia inicial era repeti-la nos mesmos locais, porém, na época da enchente. Isso, segundo o pesquisador, permitiria estudar, por exemplo, outras espécies de plantas (que já estariam florescendo), de peixes (que estariam se movimentado em diferentes épocas) e a própria qualidade da água (que poderia ser diferente).

"Como os recursos disponíveis não eram suficientes para refazer a expedição nos mesmos moldes e locais, pensamos em realizar outra que envolvesse água preta, em diferentes tipos de água com a biodiversidade", explica Ferreira.

Recursos hídricos

Durante a expedição, a equipe de estudo das águas (Limnologia) irá verificar se os rios são realmente de águas claras ou de águas pretas, ou ainda se possuem características 'mistas', como foi observado em 2014 em alguns rios da margem esquerda do rio Negro. "Também serão coletadas amostras de macroalgas e plâncton [organismos microscópicos que vivem 'flutuando' naturalmente na água] para observar se eles mudam de local para local", explica a pesquisadora de Recursos Hídricos do Inpa, Domitila Pascoaloto.

"Os estudos que estão sendo realizados nos rios da Amazônia são importantes para que consigamos compreender melhor as características físicas e químicas e suas interações com variáveis hidrobiológicas dos rios da Amazônia, mas principalmente para encontrar padrões nos rios de águas 'mistas'. Os estudos são importantes também para que consigamos entender a relação dessas águas com o plâncton e macroalgas, comunidades que podem, direta ou indiretamente, estarem relacionados com a composição da entomofauna aquática ou com a ictiofuana no local", disse Pascoaloto.

De acordo com a pesquisadora, espera-se ter informações suficientes a respeito da qualidade da água e sobre a diversidade de espécies de algas planctônicas obtidas em cada amostra de ambiente para verificar até que ponto a tonalidade da água é explicada pelos sólidos em suspensão. Além disso, espera-se também, saber se a cor verdadeira e demais características químicas da água dos rios de água escuras, associadas ao rio Madeira e adjacentes, são semelhantes àquelas observadas na bacia do rio Negro, em 2014.

A pesquisadora explica que, na década de 1950, o pesquisador alemão Harold Sioli classificou os rios da Amazônia em três tipos: água preta (rio Negro), água branca (rio Solimões) e água clara (rio Tapajós). "Atualmente, alguns rios com características químicas de água clara podem, em sua aparência ('cor visual'), serem confundidos com os de água preta, como acontece com o rio Trombetas, em Oriximiná (PA), ou com os de água branca, como o rio Branco (RR) em alguns períodos do ano", contou a pesquisadora.

Ornitologia

Outra vertente que também será estudada durante a expedição é o estudo de aves (ornitologia). De acordo com pesquisador do Inpa Mario Cohn-Haft, o objetivo nessa expedição será catalagar os pássaros de igapó, a mata alagada ao longo do rio. "Estou muito curioso para saber se algumas das espécies que a gente costuma associar com o rio Negro estão nessa região de Maués, porque também tem água preta, já que não estamos mais na bacia do rio Negro", revelou Cohn-Haft.

Segundo o especialista em pássaros, o bacurau-de-cauda-barrada (Hydropsalis leucopyga), conhecido pelo povo como 'tabaco-fraco' por conta do canto, por exemplo, ocorre na Amazônia inteira, principalmente na região de águas brancas. Outro bacurau (H. latifascia), quase idêntico, mas que recentemente descobriu-se tratar de outra espécie e que nem sequer foi batizado com nome popular, está mais presente na água preta.

"Este bacurau que tem um canto bem diferente, lembrando um sapo cururu, foi descoberto na região do Alto Rio Negro, mas estou apostando que terá na região de Maués também quando a gente estiver na água preta e que na água branca terá o outro, o bacaurau-de-cauda-barrada. Vai ser gostoso confirmar isso", comenta Cohn-Haft.

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