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Exército vai ampliar proteção nas fronteiras da Amazônia

Tribuna de Imprensa-Rio de Janeiro-RJ
21 de Jul de 2003

Depois da Operação Timbó, exercício combinado das Forças Armadas realizado há 15 dias sobre os 577 mil quilômetros quadrados da Amazônia - área equivalente ao território da França, por exemplo -, o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, revelou que a prioridade é ampliar a proteção das fronteiras noroeste e norte do Brasil. A decisão do Comando do Exército ganhou justificativa na semana passada.

Contrabandistas de madeira tentaram bloquear um rio em Ayacucho, na divisa com o Peru, para impedir que a infantaria de selva resgatasse um lote de madeira nobre. Uma mulher acabou sendo agredida e o incidente foi gravado em vídeo. A fita está sendo analisada em Brasília.

A primeira providência da nova estratégia do Exército é a instalação de uma brigada de infantaria de selva. A base da unidade será construída em São Gabriel da Cachoeira, no Amazonas. O contingente inicial previsto é de pelo menos 3 mil homens. A missão dessa brigada será proteger a região conhecida como Cabeça do Cachorro, ao longo das fronteiras com a Colômbia e a Venezuela, reforçando a segurança na entrada do Rio Negro e de seus afluentes.

O general Albuquerque quer instalar mais cinco unidades do Exército no Acre e no Amazonas, "olhando para o Peru", em suas próprias palavras, numa clara alusão ao ressurgimento dos movimentos guerrilheiros locais liderados pelo grupo Sendero Luminoso. A dificuldade, reconhece o comandante, é a falta de recursos. "Se nos derem os recursos necessários, até 2006 teremos tudo pronto", disse.

A meta do Exército, segundo o general, é aumentar significativamente o efetivo militar na Amazônia, que hoje representa 12% de todo o seu contingente. A intenção é promover gradativamente a transferência de unidades do sul do País, que deixou de ser o foco de atenção principal do Exército, para a Amazônia, considerada estratégica e prioritária.

"Temos 5 mil homens na fronteira nesta região e 23 mil em toda a área amazônica. Queremos elevar para 25 mil e, aos poucos, precisamos deslocar mais gente para outros pontos estratégicos da Amazônia", reforçou o ministro da Defesa, José Viegas Filho.

Empecilho
A principal dificuldade a ser superada para a a construção das unidades militares na região é a restrita disponibilidade de recursos. O Programa Calha Norte prevê a instalação de dezenas de quartéis e o desenvolvimento de projetos sociais.

Esses projetos terão a participação de todos os ministérios para marcar a presença do Estado na região, mas não têm recebido as verbas que lhe são destinadas. No início de 2003 a previsão orçamentária inicial era de apenas R$ 14 milhões para esse programa. Graças às emendas parlamentares, a dotação do Calha Norte subiu para R$ 42 milhões. No entanto, por conta do contingenciamento determinado pelo Palácio do Planalto, quase nada foi liberado.

Ainda assim, o Exército já decidiu instalar, de imediato um pelotão avançado em Santo Antônio do Içá, também no Amazonas. Esse local é considerado ponto de passagem obrigatório nas rotas do narcotráfico do Peru e da Colômbia. A Polícia Federal também estará presente na região. As duas corporações vão atuar em conjunto no combate aos traficantes.

Traficantes
Santo Antônio do Içá é considerada uma área de grande preocupação porque ali desemboca o Rio Içá, continuação do Rio Putumayo, que corre na fronteira do Peru com a Colômbia. Como a população é pobre e não há perspectiva de desenvolvimento, os traficantes aliciam pessoas para trabalharem na atividade ilícita.

"Esperamos que o novo pelotão reduza substancialmente o tráfico na área. É claro que os narcotraficantes vão procurar outro caminho, mas vamos tratar de tapar os buracos na medida em que aparecerem", disse o superintendente da Polícia Federal no Amazonas, delegado Mauro Spósito. "Essa guerra só vai ser vencida quando não houver consumidor pagando por um quilo de droga o mesmo valor de um quilo de ouro."

O comandante militar da Amazônia, Cláudio Figueiredo, explicou que, com esse novo destacamento, serão intensificados o patrulhamento dos rios e o controle do espaço aéreo. Figueiredo ouviu muitas queixas da prefeita da cidade, Inês Baranda Hortência (PL), que também alertou para a ação de exploradores de prostituição infantil.

Viegas garante que as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) não são a única preocupação com relação à área. "As Farc não têm nada a fazer aqui e, se tentarem chegar, serão recebidas à altura", afirmou o ministro.

Mais cinco unidades
O comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, quer instalar a curto prazo pelo menos mais cinco unidades de combate na fronteira com o Peru. "Há necessidade de mais três pelotões na fronteira do Acre com o Peru. Na região entre Estirão do Equador (AM) e Cruzeiro do Sul (AC), existem 500 quilômetros de fronteiras vulneráveis e sistematicamente utilizadas pelo tráfico de drogas, que precisam ser cobertas urgentemente", explicou. "E é preciso instalar ainda em 2003 a nova brigada de infantaria em São Gabriel da Cachoeira (AM)."

Em seguida, segundo o comandante, serão estendidos dois eixos, a partir de São Gabriel, com dois quartéis criados em Barcelos e em Santa Isabel do Rio Negro. Albuquerque disse que as duas cidades, dispostas à margem do Rio Negro, servem de entrada para traficantes da Colômbia.

"Precisamos construir ainda dois batalhões em São Salvador e Marechal Thaumaturgo (AC), na fronteira com o Peru." Ele apontou outra área que considera desprotegida: de Palmeira do Javari até Santa Rosa do Purus, no Acre, na fronteira com o Peru.

Apoio
O general afirmou que todo esse trabalho recebe apoio das forças de ação rápida do Exército, existentes em várias regiões do País - a mais nova delas está instalada em Goiânia. Também tem suporte dos helicópteros baseados em Manaus (AM) e Taubaté (SP), dos aviões da Força Aérea Brasileira (FAB) e de embarcações da Marinha.

"Estamos construindo também uma base aérea em São Gabriel e vamos transferir nove helicópteros de Manaus para lá", informou o comandante da Aeronáutica, brigadeiro Luiz Carlos Bueno. Já a Marinha dispõe de 1.700 homens na Amazônia Ocidental 8 navios e 16 lanchas rápidas. "Isto é muito pouco, é quase nada diante da imensidão da malha fluvial amazônica", reclamou o almirante Marcus Vinícius, comandante Naval da Amazônia, que também insiste na necessidade de ampliar os recursos para a região.

Exercício - Até dezembro mais um exercício militar do Exército está marcado para ser realizado na região, a Operação Ajuricaba. O treinamento será feito ao norte de Manaus, dentro de território brasileiro.

A Operação Timbó, realizada há 15 dias, teve a participação integrada de Marinha, Exército e Aeronáutica, assim como de órgãos federais que atuam na região, como Polícia Federal, Receita Federal, Sistema de Proteção da Amazônia (Sipam), Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), Fundação Nacional do Índio (Funai) e as Secretarias de Segurança Pública e Polícias Militares dos Estados envolvidos.

Hoje, o Exército tem na Amazônia 25 pelotões de fronteira, distribuídos entre Forte Príncipe da Beira (em Rondônia, na fronteira com a Bolívia) até o Oiapoque (em Roraima na fronteira com a Venezuela).

Conta ainda com 15 batalhões de infantaria de selva na região, sendo 5 no Amazonas, em Manaus, Tefé, Humaitá, Tabatinga e São Gabriel da Cachoeira, 4 no Pará, em Belém, Altamira, Marabá e Itaituba, 2 no Acre, em Rio Branco e Cruzeiro do Sul, 1 em Imperatriz (Maranhão), 1 em Guajará-Mirim (RO), 1 em Boa Vista (RR) e 1 em Macapá, no Amapá.

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