VOLTAR

Exército limita ato com 4.000 que apóiam greve de bispo

FSP, Brasil, p. A13
10 de Dez de 2007

Exército limita ato com 4.000 que apóiam greve de bispo
Bloqueio foi perto de usina; padre não come há 13 dias

Fábio Guibu
Da agência Folha, em Sobradinho (BA)

Homens do Exército bloquearam ontem a pista sobre a barragem de Sobradinho (a 540 km de Salvador, BA) e impediram a passagem da romaria de apoio ao bispo de Barra (BA), dom Luiz Flávio Cappio, em greve de fome há 13 dias contra a transposição das águas do rio São Francisco.
A barreira, montada com cavaletes de ferro e guardada por militares armados, foi erguida a 200 metros do acesso à hidrelétrica, em área de segurança nacional. Os cerca de 4.000 manifestantes, segundo avaliação da Polícia Militar, pararam a carreata a cem metros do bloqueio e promoveram um ato público no local.
Militantes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) e do PSTU chegaram a se aproximar dos militares, agitando bandeiras, mas não houve confronto.
Pouco antes do final da manifestação, o Exército recuou sua tropa para uma área de pista mais larga para permitir que os veículos manobrassem e retornassem a Sobradinho.
O carro que conduzia d. Luiz foi o primeiro a manobrar, seguido de duas ambulâncias. O bispo não comentou o bloqueio. Em seu discurso, sobre um carro de som aberto, pediu paz e união. "Não podemos ceder à pressão daqueles que querem ser mais fortes que nós", afirmou, sob aplausos.
Em seguida, ele abençoou o lago da barragem, que hoje acumula apenas 13% da sua capacidade de armazenamento, devido à estiagem. Logo depois, abençoou também um punhado de feijão em uma peneira.
D. Luiz aparentava cansaço. Com a romaria, que levou caravanas de oito Estados a Sobradinho -mas não reuniu as 10 mil pessoas esperadas pelos organizadores-, ele começou a rotina de cumprimentos às 7h30. Do lado de fora da igreja de são Francisco, onde faz a greve de fome, uma fila de 50 metros se formou logo cedo para vê-lo.
Familiares do religioso controlavam a entrada e a saída das pessoas da sacristia. Sentado em frente a uma mesa de fórmica azul coberta com uma toalha de renda branca, o bispo apertava mãos e posava para fotos.
Às 9h30, escoltado por parentes e amigos, ele deixou a sala para discursar em um palco montado ao lado da igreja. No trajeto de 30 metros, passou por um cordão de isolamento enfeitado com cactos, para diminuir o assédio direto dos romeiros e curiosos.
Em entrevista, o bispo reafirmou sua disposição de manter a greve de fome até que o governo pare a obra -que está sendo feita pelo Exército- e arquive o projeto da transposição. "Quando vocês virem as tropas saindo de lá, eu estarei saindo daqui. Se não saírem, permanecerei", disse. O governo diz que a obra prosseguirá.
A Via Campesina, entidade que reúne movimentos de lavradores sem terra, quilombolas e índios, planeja realizar hoje manifestações de apoio ao religioso em diversas capitais.
Em Sobradinho, as entidades que apóiam o protesto do bispo enfrentam dificuldades financeiras. Há dívidas, admitem os organizadores, sem revelar valores. Uma campanha de arrecadação de recursos está sendo realizada. Grupos ligados à Igreja Católica na Áustria e na Alemanha teriam se comprometido a ajudar.

FSP, 10/12/2007, Brasil, p. A13

As notícias aqui publicadas são pesquisadas diariamente em diferentes fontes e transcritas tal qual apresentadas em seu canal de origem. O Instituto Socioambiental não se responsabiliza pelas opiniões ou erros publicados nestes textos. Caso você encontre alguma inconsistência nas notícias, por favor, entre em contato diretamente com a fonte.