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Ex-governador e preso: Neudo Campos, de Roraima, e acusado de desviar R$ 320 milhoes

JB, País, p. A6
27 de Nov de 2003

Ex-governador é preso
Neudo Campos, de Roraima, é acusado de desviar R$ 320 milhões

Hugo Marques

A Polícia Federal prendeu ontem o ex-governador de Roraima, Neudo Campos, e outras 40 pessoas, entre ex-deputados, empresários e servidores, todos acusados de desvio de dinheiro da folha de pagamento do Estado. Neudo foi preso de manhã, na residência, em Brasília, e depois levado para Boa Vista, em um avião da PF.
Segundo os procuradores que ajudaram nas investigações, estavam presos até o final da tarde de ontem os ex-deputados estaduais Barak Bento, Berinho Bantin, Cabo Sebastião, Aurelina Medeiros e Suzete Mota. As investigações tiveram o auxílio dos procuradores Carlos Mazzoco, Darlan Dias e Rômulo Conrado.
Neudo Campos é apontado pelo Ministério Público Federal como o chefe da quadrilha, o mentor de todo o esquema de desvio de dinheiro, estimando em R$ 320 milhões. Segundo os procuradores, há depoimentos de ex-assessores de Neudo, confirmando o envolvimento do ex-governador nos desvios de verbas públicas. São réus colaboradores, que terão eventual pena reduzida.
A operação da PF e do MPF teve tanta repercussão em Roraima que o povo foi para as ruas com bandeiras, comemorar a prisão de Neudo Campos e dos ex-deputados.
A operação para prisão dos envolvidos, chamada de Praga do Egito, contou com o apoio de 150 policiais federais de todo o país. Foram montadas 55 equipes de policiais para realizar todas as prisões e operações de busca e apreensão. O governo usou dois aviões Hércules C-130 para transportar os agentes. Além de Roraima e Distrito Federal, ocorreram prisões em Rondônia e no Amazonas. Ao todo, são 55 acusados de participar do esquema.
A partir de 1998, políticos, empresários e funcionários do primeiro escalão do governo de Roraima montaram esquema para extorquir o Estado. Foram incluídos milhares de não servidores na folha de pagamento. Para isso, os laranjas assinavam uma procuração para recebimento do salário. Alguns laranjas nada receberam, outros pegavam parcela do pagamento.
Os laranjas eram conhecidos em Roraima como ''gafanhotos'', alusão à folha de pagamento. A quadrilha chegou a utilizar índios e analfabetos como laranjas. Há procurações com a impressão digital do outorgante.
Para prender a maior parte dos envolvidos em flagrante, a PF investigou o esquema por três meses. Os pagamentos aos procuradores dos laranjas foram todos feitos pela empresa Norte Serviço de Arrecadação e Pagamentos Ltda. É uma empresa particular, responsável pelo pagamento dos salários do Estado, além da arrecadação de tributos e taxas.
Os mandados de prisão foram expedidos pelo juiz da 2ª Vara da Justiça Federal de Roraima, Hélder Barreto. É na Justiça Federal que o ex-governador Neudo Campos vai prestar depoimento.
Flamarion também é acusado

SÃO PAULO - O governador Flamarion Portela (PT), exonerou na manhã de ontem todos os acusados presos pelos agentes da Polícia Federal e que faziam parte do primeiro e segundo escalões de seu governo. Entre os demitidos está o chefe da Polícia Judiciária do Estado, delegado Ângelo Paiva.
Autoridades em exercício do poder estão na mira das investigações da força-tarefa que atua em Roraima. Além de deputados estaduais e federais , o atual governador é suspeito de participar do esquema gafanhoto.
Por pelo menos nove meses, de abril de 2002 - quando assumiu o lugar de Neudo Campos no governo do Estado - a dezembro, Portela teria sido conivente com os desvios de recursos públicos. O nome do petista aparece em diversos dos cerca de 500 depoimentos colhidos pela força-tarefa. Flamarion Portela nega as acusações.
- Não exonerei essas pessoas antes porque precisava esperar alguma ação que me apontasse elemento concreto contra elas. Assumi o governo em abril. Não poderia sair demitindo todo mundo sem critérios - disse.
Agência Folha

JB, 27/11/2003, p. A6

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