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Evento em Vila Franca, Santarém, divulgou projetos e produtos extrativistas

Organização das associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns
Autor: Rita Vaz da Silva
09 de Ago de 2004

Copa de futebol une Resex Tapajós-Arapiuns.

O goleiro limpa as mãos aos shorts. O artilheiro ajeita a bola. Em segundos, o árbitro irá apitar, e a angústia do pênalti se transformará em alegria para uns e tristeza para outros.
Idenilce e Renita não param de falar. "Ai, ai, eu não boto fé no compadre Ara!", gritava uma das duas, cerrando os olhos e deitando as mãos na cara: "Não vou nem olhar, eu não boto fé no compadre... ai, ai". Algumas dezenas de pessoas, vindas de todos os cantos da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns (Resex), rodeiam a trave. Em breves instantes, se conhecerá o time masculino vencedor da primeira Copa de Futebol entre comunidades da reserva, realizada entre os dias 6 e 7 de Agosto, em Vila Franca, no município de Santarém.
Idenilce Moura e Renita Basílio, de Surucuá, rio Tapajós, já são campeãs entre as mulheres. Uma hora antes tinham batido a equipe de São José, rio Arapiuns, e conseguido ganhar o troféu prateado, que todo o dia reluziu sob um sol escaldante na bancada de honra, e mil reais (os segundos classificados receberam 500 reais, os terceiros 300 e as restantes equipes uma bola de futebol), que muito vão ajudar a equipe. "Nós somos o primeiro time feminino da região do Tapajós a ter uma sede, mas por causa disso ficámos sem nenhum recurso. Investimos tudo na sede. Aí a gente recebeu essa carta convidando para o torneio e pensámos: vamos lá enfrentar. Estamos sem nada, vamos lá vencer", conta Idenilce. Tomando o embalo, Renita continua: "Sabe, a gente nem dormiu nada essa noite. O barco andou por esse Tapajós meio perdido por causa do vento forte. Não deu para a gente deitar na rede. Mas mesmo assim com esforço e coragem a gente decidiu que ía chegar aqui com espírito de ganhar e não de
perder. E não é que ganhamos mesmo?"
Enquanto isso, no campo o compadre em que ninguém tinha fé marcava o gol. O Náutico de Retiro, comunidade vizinha de Surucuá no Tapajós, vencia Nova Vista do Arapiuns nos pênaltis. Renita, Idenilce e suas colegas no time saíram correndo e gritando pelo campo fora, para abraçar seus vizinhos. "Vamos chegar na comunidade soltando pistola. Minha nossa que alegria!", repetiam várias vezes umas para as outras, não conseguindo conter a alegria.
Com o objetivo de estreitar a relação entre as comunidades, a Tapajoara (organização que representa as 39 associacões da Resex) e o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS) em parceria com o Projeto Puxirum, um projeto de PNUD financiado pelo governo da Finlândia, decidiu u promover um torneio de futebol entre todas as 70 comunidades da reserva e apresentar a I Feira Ambiental e Cultural da região.
Na praça de Vila Franca, com uma vista privilegiada sobre o Tapajós, perto de duas dezenas de barraquinhas ofereciam, não só comes e bebes (desde a cerveja ao churrasquinho e ao munguzá) mas também uma pequena amostra do trabalho que diversas organizações, em conjunto com as comunidades, promovem na região, procurando a melhoria das condições de vida dos extrativistas através do desenvolvimento sustentável. Num dos stands, vários bancos de madeira e pequenos móveis mostravam o resultado das Oficinas de móveis rústicos que se fazem um pouco por toda a Resex, como forma de aproveitar madeira morta. O Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Santarém, distribuindo panfletos e informação, o Grupo de Defesa da Amazônia, apresentando a publicação com o resultado do Projeto de Capacitação de Educadores Ambientais e o projeto Puxirum, revelando os mapas e as fotos das primeiras trilhas de Ecoturismo da Resex, ocupavam alguns dos stands vizinhos.
A Cooperativa Agro-Extrativista de Santarém (ACOSPER) apresentava, por seu lado, amostras de borracha, nas suas diversas fases de produção desde a borracha em estado bruto até à borracha beneficiada. A cooperativa transforma cerca de 28 mil toneladas de borracha por mês e vende o produto para uma empresa fabricante de pneus em São Paulo. Nos últimos dois anos, a ACOSPER e alguns parceiros do projeto Puxirum têm incentivado com oficinas e equipamentos a produção e compra de outros produtos agro-estrativistas. Expostos nas barraquinhas de palha podiam encontrar-se, por isso, inúmeros frascos de mel de abelhas nativas sem ferrão e de óleo de cumaru, andiroba, piquiá, sucuba e copaíba e artesanato em palha de tucumã e de sementes. Neida Pereira, representante de associação de produtores da Coroca, no rio Arapiuns (APRUCIPESC) explicou que "a Feira é importante para divulgar o trabalho das comunidades". "A gente pega encomenda de comunidades vizinhas e de gente de fora. Este encon tro mostra que quando a gente se organiza as experiências podem ir muito longe", acrescentou.
Da mesma opinião, o gerente-executivo do IBAMA em Santarém, Paulo Maier Souza disse que "toda a vez que se consegue ter relações pessoais, em que as pessoas podem ser elas mesmas, é mais fácil construir coisas boas". Referindo-se à Copa de Futebol, afirmou ainda que "o lazer é uma das melhores coisas da vida e que o futebol representa o que é um trabalho de equipe e uma oportunidade de conhecer outras pessoas e lugares diferentes".
Nesse sentido, o presidente da Tapajoara, Nazareno Oliveira, manifestou vontade de voltar a realizar a Copa e a Feira Ambiental e Cultural no próximo ano. Se isso acontecer, os extrativistas vão agradecer, como fez Odilson Miguel, técnico do time feminino de Tucumã: "A gente só tem a ganhar com eventos assim. É muito bom para nosso time poder se apresentar aqui, na primeira competição da RESEX. Isto serve para unir mais as comunidades. É um incentivo ao lazer e à diversão e o esporte dá saúde. Para mais, o melhor presente é que a gente ganha uma entrada franca para uma festa com homens e mulheres". Não é por acaso que os preservativos masculinos e femininos que se distribuíam na banca da Tapajoara desapareceram em tempo recorde.
Odilson não era o único extrativista animado com a noite cultural, que se desenhava ao pôr-do-sol. O brega e o forró, que desde a manhã animaram os jogos da copa, subiram de volume à noitinha. Antes da premiação, do baile e do namorico, alguns comunitários deram uma espreitada no barracão comunitário onde estavam expostas cerca de 30 fotos de Christian Knepper. O trabalho do fotografo alemão deliciou toda a gente, com imagens de famílias extrativistas, animais da floresta, dos rios e dos projetos desenvolvidos pelo Puxirum e seus parceiros. Depois de um último relance às fotografias e aos produtos das populações tradicionais, e já com as chuteiras arrumadas, começou o pé de dança. Todos os jogadores estavam lá. Mesmo Renita e Idenilce, que tinham passado a noite às claras. Mexendo o pé ao compasso da música, como durante o dia tinham acertado na bola. Com eficiência, garra e alegria.

Texto: Rita Vaz da Silva, Alter do Chão
Fotos: Jorge Bassi, Alter do Chão cel: + 93 9651 5819 (mais fotos disponíveis)

Mais informações sobre Copa e Feira Ambiental:
Regicleida dos Santos, Organização das associações da Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns tel: (93) 9124 0211
(-Rita Vaz da Silva-09/08/04)

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