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Evento começa no Equador; desafio é integrar para resistir

Carta Maior-Brasília-DF
26 de Jul de 2004

Sacerdote quechua celebra ritual de boas-vindas na abertura do Fórum Social Américas, em Quito, Equador. Integração da América Latina, o acirramento da militarização e combate ao livre-comércio são marcas do evento, que faz parte do calendário do Fórum Social Mundial. Verena Glass

Quito, Equador - O primeiro Fórum Social Américas (FSA), evento regional que compõe a agenda do Fórum Social Mundial (FSM), foi aberto oficialmente neste domingo (25) na Praça São Francisco, centro velho de Quito, Equador, com uma cerimônia de boas vindas celebrada por sacerdotes e sacerdotisas indígenas. O ato quebrou a tradição dos discursos políticos que normalmente marcam o início dos eventos do FSM.
Não que não houvessem, nas falas dos indígenas, críticas ao neoliberalismo e aos seus impactos - como ameaça à soberania das nações, à crescente intervenção dos EUA na região e ao recrudescimento das investidas das grandes corporações transnacionais sobre recursos naturais e políticas domésticas dos Estados -, mas o que predominou na cerimônia foram os valores ancestrais das nações originárias, como a celebração do "amor incondicional entre os seres humanos" (huy ya yay, em quechua), e a defesa de conceitos como o respeito à Terra (Pachamama) e à vida.
Essa primeira atividade do FSA traduziu, por assim dizer, o espírito do evento. Contando com uma forte representação de países da região andina e mesoamazônica, o Fórum pretende aprofundar propostas referentes à integração regional e à situação de indígenas e afrodescendentes, na perspectiva de, a partir destes objetivos gerais, fortalecer as articulações e lutas contra as ameaças representadas pelo chamado neocolonialismo norte-americano e seus projetos militares e econômicos para a região (principalmente tratados de livre comércio como o TLC (EUA, Colômbia, Equador, Peru), Alca (Américas), Cafta (América Central), Nafta (América do Norte) e Plano Puebla Panamá, e as intervenções armadas e políticas em países como Cuba, Haiti, Venezuela e Colômbia).
A realidade política e as lutas específicas de alguns países, principalmente na Venezuela (onde ocorre, em 15 de agosto, o referendo que deve decidir a permanência ou não do presidente Hugo Chávez, considerado o chefe de Estado mais comprometido com as causas dos movimentos sociais na América Latina), também entrou na pauta (a delegação venezuelana é uma das maiores do evento).
Neste sentido, o debate sobre as relações de poder na região (tema do eixo 2 - A face violenta do projeto neoliberal: hegemonia imperial, militarismo, controle estratégico da biodiversidade, violência de discriminação depreciativa em relação a um sexo em detrimento a outro - e do eixo 3 - Poder, democracia e Estado: mudanças, permanências e visões de futuro) centraliza grande parte das atividades do evento.
Por outro lado, a proposta originária do FSA de reforçar a aproximação do FSM com movimentos e organizações sociais dos EUA acabou enfraquecida em função das eleições norte-americanas, que concentra momentaneamente todas as atenções da entidades locais.
Metodologia
Dividido em conferências, painéis e atividades propostas pelas cerca de 700 organizações de 45 países presentes (dados preliminares), o FSA tentará, no último dia, sistematizar os debates para que possam servir de base das ações e lutas resultantes do processo. Os eixos do evento, além dos já citados, são:
- A ordem econômica: empobrecimento humano e ambiental, dívidas, corrupção, mercado comum; espaço público e direitos econômicos; economia reprodutiva. Resistências, visões de futuro e construção de alternativas.
- Culturas e comunicação: as resistências, a memória, a construção de identidades; espaços e práticas de criação; linguagens críticas e alternativas; democratização da comunicação.
- Povos indígenas e de ascendência africana: territórios; autonomia; diversidade e pluriculturalidade; conhecimentos e propriedade intelectual.

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