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Etnia se tornou dependente dos brancos

Diário de Cuiabá-MT
Autor: Orlando Morais
04 de Nov de 2001

Contato com o branco quase dizimou os nambikwára; luta agora é para garantir a independência

Exímios caçadores e coletores, os índios nambikwára do Sararé e do Alto rio Guaporé sempre gostaram de correr o seu território em busca das melhores iguarias. Por este costume, foram injustamente batizados pela população branca que começava a invadir o seu território, desde o início do século 18, de "bandos errantes de selvagens". Pois se os índios eram assim chamados, o que dizer então dos próprios bandeirantes, que tinham por hábito andar em grupo, não ter rumo certo e ainda usar boas doses de violência em suas incursões?

O que dizer, então, de madeireiros e garimpeiros, que posteriormente invadiram o território indígena em busca de uma riqueza ilusória - que só enriquece atravessadores e donos de indústrias? E o que dizer, por fim, dos homens encapuzados que, em novembro de 1996, invadiram a Reserva Sararé para roubar e espancar quatorze índios nambikwára, não poupando na ação nem mesmo as crianças?

O episódio desencadeou um desejo de vingança presente até hoje na comunidade nambikwára. Mas registros históricos do século 18 já apontavam a tentativa de preamento dos índios e de apropriação de suas terras por parte dos brancos - e falavam das estratégias de fuga dos nambikwára para se manterem independentes dentro do próprio território. Segundo o indigenista Ariovaldo Santos, a colonização desenfreada fez com que "os nambikwára fossem passando da condição de autônomos em seu território, para a de dependentes dos bens e dos serviços prestados pelos não-índios", afirma ele. "No rastro desta ocupação, os pioneiros construíram estradas, fazendas, sítios e assentamentos fundiários e trouxeram para a região um número considerável de imigrantes, capaz de disseminar entre os índios epidemias como sarampo, gripe, malária e tuberculose".

Se em 1960 havia em torno de 600 nambikwáras na região do rio Sararé, na década seguinte só restavam 50 indivíduos. Foi, no entanto, a partir deles que se formou o grupo de cem índios existentes em Sararé. O atendimento no posto de saúde da aldeia diminuiu muito a incidência de doenças. Faltam aos índios alguma noção de higiene - a experiência da escola na aldeia ainda é recente. Mas "a esperança na aldeia é forte", diz o cacique Américo Katitaurlu, sobrevivente das doenças de 1960, da invasão dos anos de 1990 e do espancamento de 1996.

"Naquela época, coração de índio chorava muito, até com o barulho do garimpo", diz Américo. "Hoje, índio só preocupa em deixar o mato crescido, que é saúde". Segundo o cacique, para vigiar melhor o território, as famílias se espalharam em quatro aldeias colocadas pela Funai em pontos estratégicos. Os índios vivem hoje da caça de animais silvestres, como o macaco, das roças de milho, cará, mandioca e banana e da assistência da Funai.

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