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Estudo revela que saúde dos índios piorou

OESP, Nacional, p. A10
14 de Nov de 2006

Estudo revela que saúde dos índios piorou
Antropólogos dizem que nível do atendimento sanitário caiu por conta da burocratização e influência política

Roldão Arruda

A primeira metade desta década foi marcada por importantes conquistas dos povos indígenas no Brasil. Eles continuaram num processo de crescimento populacional e obtiveram mais terras. Por outro lado, ocorreu uma visível deterioração no atendimento na área da saúde.

Entre os indicadores dessa piora podem ser citados o aumento do número de mortes causadas por desnutrição infantil entre os caiovás de Mato Grosso do Sul, o ressurgimento da malária entre os ianomâmis de Roraima e a maior incidência de casos de tuberculose - endemia presente em várias tribos. Também faz parte da lista o recrudescimento de epidemias, como a de doenças sexualmente transmissíveis que ocorre no Parque Nacional do Xingu, e a de hepatite B e D no Vale do Javari, no Amazonas.

Essas e outras questões relacionadas à área da saúde constituem um dos destaques do livro Povos Indígenas no Brasil, 2001-2005, lançado ontem em São Paulo pelo Instituto Socioambiental (ISA), organização não-governamental que atua nesta área desde 1994. Ao fazer um balanço do período, os organizadores da obra, os antropólogos Beto Ricardo e Fany Ricardo, observam que o atendimento sanitário piorou no governo de Luiz Inácio Lula da Silva em decorrência de dois fatores: a excessiva burocratização do setor e a influência política ao qual foi exposto.

A taxa de mortalidade infantil, importante indicador das condições de vida, aumentou entre 2004 e 2005. Ela tinha caído de maneira acentuada nos dois primeiros anos da década, perdeu o ritmo com Lula e, finalmente, recrudesceu em 2005.

TERCEIRIZAÇÃO

Para o vice-presidente do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Saulo Feitosa, um dos especialistas ouvidos no livro, a precariedade na saúde é devida à terceirização dos serviços, iniciada por Fernando Henrique Cardoso e mantido por Lula. Embora o orçamento do setor tenha aumentado, com maior repasse de verbas para ONGs, o atendimento piorou.

O dirigente do Cimi também lembra que o governo loteou entre políticos do PT e do PMDB os cargos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), a instituição responsável pelo serviço na área indígena. O presidente da Funasa, Paulo Lustosa, ouvido pelo ISA, negou o loteamento de cargos e disse que o atendimento melhorou: 'Apesar das limitações que a Funasa tem, está fazendo um excelente trabalho. Acho que tem que ser muito melhor ainda, mas está fazendo, apesar das limitações.'

O livro do ISA tem 880 páginas e foi financiado com recursos de organizações internacionais, como a Agência Norueguesa para Desenvolvimento e Cooperação e a Agência Católica para o Desenvolvimento. Além da saúde, o trabalho do ISA aponta outros impasses no meio indígena, como o aumento de grupos de brasileiros que reivindicam na Funai serem reconhecidos como índios. São os chamados índios ressurgidos.

Entre os avanços, o ISA confirma o crescimento da população, com elevadas taxas de fertilidade. Há casos em que esse crescimento foi vegetativo, como ocorreu com os xavantes, que eram 9 mil em 2000 e agora somam 12.800. No caso dos pataxós da Bahia, a razão foi outra. Sua população passou de 2.800 em 2001 para 10.897 em 2006 porque aumentou o número de pessoas que passaram a afirmar que são pataxós.

OESP, 14/11/2006, Nacional, p. A10

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