OESP
25 de Ago de 2003
Uma pesquisa realizada com moradores da cidade de São Paulo mostrou que os paulistanos estariam dispostos a pagar R$ 7 milhões por ano para conservar o Parque Estadual do Morro do Diabo, no Pontal do Paranapanema. Coordenado pelas pesquisadoras Cristina Adams e Cristina Ebersbach Aznar, o estudo foi divulgado sexta-feira, na Secretaria Estadual do Meio Ambiente, e teve o objetivo de medir a valoração econômica de uma unidade de conservação.
Pela pesquisa, 35% dos entrevistados declaram-se dispostos a pagar uma determinada quantia por mês, seja na conta de água, de luz ou como colaboração a uma organização não-governamental [ong], para preservar o Parque Estadual. A quantidade média de contribuição por habitante, conforme o resultado do trabalho, seria de R$ 0,19. O orçamento real do parque é de 4% do total sugerido pelos entrevistados.
"Embora a metodologia empregada deixe claro às pessoas que elas não vão pagar realmente o valor declarado, é capaz de dar uma idéia para o gestor público da relação entre o que se gasta com uma área de preservação e o que a população acha que ela vale", disse John Reid, presidente da Conservation Stragey Fund [CSF], entidade financiadora do projeto. Atuando no Brasil desde 2000, a ong norte-americana trabalha na capacitação de gestores para aplicar teorias econômicas em trabalhos ambientais. "As ações de conservação têm mais chances de sucesso quando levam os fatores econômicos em conta", acredita.
O trabalho, que contou também com o apoio da Faculdade de Educação Ambiental do Senac e do Instituto Florestal, responsável pela gestão das unidades de conservação estaduais, procurou medir o valor econômico atribuído à unidade de conservação para parâmetros como uso direto [como visitação, por exemplo], uso indireto [benefícios ambientais, como preservação dos mananciais ou estabilidade climática], opções futuras [benefícios de longo prazo, como a diversidade genética] e o valor existencial [aquele dissociado do uso e ligado apenas a questões culturais ou éticas, como a beleza cênica ou a proteção ás baleias].
Segundo Cristina Adams, esses valores são tão importantes para a população que, apesar de 91% dos entrevistados nunca terem ouvido falar do Parque Estadual do Morro do Diabo [PEMD], 96% consideraram que deveria ser preservado. "O valor de pagamento atingido pela pesquisa é considerado baixo pelos economistas, mas foi influenciado pela crise econômica e pelos votos de protesto, de pessoas que disseram que não dariam nada, mesmo hipoteticamente, para um governo que já cobra muito imposto, como a CPMF, sem dar retorno", disse a pesquisadora.
Uma análise do perfil do indivíduo que está disposto a pagar os valores mais altos pela preservação do parque mostra que ele tem entre 16 e 24 anos, tem segundo grau, é estudante e a renda familiar é de mais de 10 salários mínimos. A pesquisa mostrou ainda que 53% dos paulistanos têm interesse pessoal em assuntos relacionados a meio ambiente, 79% acham que a preservação ambiental é muito importante e 64% acreditam que o governo não se preocupa com o meio ambiente no Brasil.
Para 33% dos entrevistados, o maior responsável pela conservação deveria ser o governo federal, mas 37% acham que é a população em geral. "Esses dados revelam um grande potencial para políticas públicas ambientais que envolvam a população e mostram uma oportunidade de aproveitamento de voluntariado na área ambiental", analisa a pesquisadora.
Segundo Cristina Adams, o Parque Estadual do Morro do Diabo foi escolhido pela sua relevância ambiental e pelos problemas em seu entorno, na região do Pontal do Paranapanema. "Este parque é o maior remanescente da floresta estacional, um dos ecossistemas mais ameaçados da Mata Atlântica, no interior do Estado de São Paulo. Atualmente restam menos de 2% das florestas estacionais originais e 85% estão no Pontal, sendo a maior parte no Morro do Diabo", diz.
(-Estado de S. Paulo-São Paulo-SP-25/08/03)
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