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Estudo faz ligação de índios do Brasil a asiáticos

Estado de S. Paulo-São Paulo-SP
Autor: EVANILDO DA SILVEIRA
24 de Out de 2002

Pesquisadora mostra semelhanças por comparação genética dos povos

Índios brasileiros e povos do sudeste da Ásia e ilhas do Pacífico têm algo mais comum além dos olhos puxados. Uma pesquisa realizada pela bióloga Daniela Maria Ribeiro, para sua dissertação de mestrado, apresentada à Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Unicamp, mostra que os índios paracanã e xicrin, que vivem no sul Pará, são aparentados geneticamente com populações da China, Índia e Indonésia. É mais um indício de que as Américas foram colonizadas por povos vindos da Ásia, passando pelo Estreito de Bering, há cerca de 11 mil anos.

O estudo reforça essa teoria, que não é a única a buscar uma explicação para a origem dos nativos americanos. Há uma outra corrente de cientistas que defende que os primeiros humanos a povoar a América descendem de povos africanos e chegaram aqui bem antes. "Meu trabalho não acaba com a polêmica", diz Daniela. "Mas é uma contribuição às discussões sobre a ancestralidade dos ameríndios. Ele não trata da época de chegada dos primeiros habitantes da América, nem se eles foram africanos ou asiáticos, mas corrobora as teorias de que eles de fato descendem dos segundos."

Para chegar a essas conclusões, a bióloga analisou o marcador genético alfa-MRE (alpha-Major Regulatory Element), um segmento de DNA de 300 pares de base. O objetivo era determinar os polimorfismos (variações genômicas responsáveis pela diversidade genética entre os indivíduos de uma mesma espécie) presentes nessa pequena seqüência de DNA e compará-los aos encontrados nas populações já investigadas por cientistas estrangeiros, particularmente as asiáticas.

Amostras - Para isso, Daniela analisou amostras de DNA de 70 índios paracanã e de 95 xicrin. Depois de seqüenciar todas as amostras, ela identificou apenas os haplótipos (combinações de polimorfismos que são transmitidos em bloco de geração para geração) dos tipos A e B, os mesmos presentes em povos asiáticos. Há ainda, em populações humanas, os haplótipos C, D, E e F. Em povos africanos, por exemplo, encontram-se o E e o F. Entre os europeus é mais comum o C.

Daniela observou que, em 330 cromossomos dos indígenas estudados, havia o predomínio do haplótipo A (80% contra 20%), justamente o que é mais freqüente nos asiáticos. "A análise que fiz me permitiu concluir que os paracanã não diferem de nenhum dos povos do Sudeste Asiático e da Indonésia já estudados", explica. "A tribo Xikrin, por sua vez, que apresentou a freqüência do haplótipo A extremamente elevada (87%), diferiu significativamente dos chineses e indianos, mas não dos indonésios, que apresentam maior prevalência do haplótipo A (78%) entre todas as populações já analisadas."

Parentesco - Pesquisas anteriores também apontam para esse parentesco genético entre os índios. "A originalidade do trabalho de Daniela está no marcador genético que ela usou", diz sua orientadora, Maria de Fátima Sonati. "Essa pequena seqüência de DNA, que controla todo um agrupamento de genes, é muito pouco estudada no mundo, e não há registro de iniciativa anterior no Brasil."

Financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), a pesquisa teve sua importância reconhecida pela American Journal of Physical Anthropology, uma das revistas científicas mais conceituadas do mundo no segmento da antropogenética, que o aceitou para publicação. O trabalho deverá sair numa de suas próximas edições.

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