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Estudo avalia impacto do aquecimento na Mata Atlântica

Gazeta de Limeira
Autor: Daniela Calderaro
20 de Jan de 2008

Dezenas de espécies de árvores da mata atlântica poderão ter sua sobrevivência comprometida pelo aquecimento global nas próximas quatro décadas, incluindo aquelas que estão dentro de unidades de conservação, segundo um estudo da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

A pesquisa é uma das primeiras a avaliar o impacto das mudanças climáticas sobre a biodiversidade do bioma, considerado um dos mais ameaçados do mundo.
O pesquisador Alexandre Colombo analisou a área propícia de ocorrência de 38 espécies arbóreas da mata atlântica, levando em conta condições ideais de temperatura e precipitação. Depois, lançou sobre elas as previsões do Painel Intergovernamental de Mudança do Clima (IPCC) para o ano 2050. "A pesquisa foi realizada em dois anos e meio e foi parte integrante do projeto "Biota Gradiente Funcional", coordenado pelo professor dr. Carlos Alfredo Joly", disse.
No cenário mais otimista, com aumento de temperatura menor ou igual a 2oC, quase todas as espécies (37) deverão perder, em média, 25% das áreas hoje propícias para sua sobrevivência. Uma única espécie seria beneficiada, com um pequeno ganho de 8% de área. No cenário mais pessimista, com aumento menor ou igual a 4oC, todas as 38 espécies sofreriam redução média de 50% de sua área potencial de ocorrência - um duro golpe para um bioma que já teve 93% de sua cobertura florestal devastada.
"Todas as espécies, nos dois cenários, sofrem um deslocamento para o sul do País, em direção a áreas mais frias", afirma Colombo, que defendeu o trabalho como sua tese de mestrado no Instituto de Biologia da Unicamp. "O impacto não será catastrófico, mas será grande. Nossos filhos verão a mata atlântica, mas ela não será a mesma que vemos hoje", determinou.

Espécies mais Atingidas

As espécies da mata atlântica já estão em uma situação de risco devido à grande devastação decorrida nesses últimos 50 anos. Suas áreas de ocorrência são hoje fragmentadas e isoladas umas das outras, o que dificulta a dispersão e o deslocamento natural desse Bioma. "Já o aquecimento global irá contribuir para a redução significativa dessas áreas, fazendo com que as áreas atuais se tornem impróprias para a sobrevivência. Com impossibilidade de migração e dispersão dessas espécies, agravados pela fragmentação e o grande ciclo de reprodução de outras, acaba gerando um processo de extinção para a sobrevivência do Bioma como um todo, prejudicando não só a flora mas a fauna também", alertou. Entre essas podemos citar a Euterpe edu lis (palmito Jussara) por ser endêmica, sua redução é drástica no cenário pessimista, cerca de 59% da pequena área já existente. E no cenário otimista a redução é menor (16%), mas em análise com sua pequena área de ocupação potencial é uma grande redução. O Inga sesselis (Inga) é segundo o pesquisador, uma das espécies de menor área potencial de ocorrência, chega a ocupar apenas os estados do Sudeste. A redução do cenário otimista é de 24%, entretanto é preocupante. A Guapira opposita é outra espécie endêmica que já sofre o impacto das mudanças climáticas, afinal tem 37% da área potencial ocupada. No cenário otimista a redução é de 35%, restringindo-se em alto grau de probabilidade de ocorrência aos estados litorâneos do Sul e Sudeste brasileiro.

Fragmentação

O estudo é conservador, pois se baseia na área potencial total de ocorrência das espécies, e não na área real de ocorrência atual - muito menor, já que a maior parte do bioma não existe mais. As florestas que sobraram estão fragmentadas, separadas por cidades, pastos e plantações. Por causa disso, aponta Colombo, muitas espécies estão ilhadas e não serão capazes de fazer as migrações necessárias naturalmente. O Parque Estadual da Serra do Mar, maior unidade de conservação de mata atlântica do País, no litoral paulista, é um dos que deverão sofrer com a mudança do clima.
A solução seria recompor áreas degradadas e estabelecer corredores florestais para que sementes de espécies pressionadas se dispersem para áreas de clima mais favorável. A pesquisa faz parte de um grande projeto temático financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), chamado Biota Gradiente Funcional, iniciado em 2005.

O que fazer?

Alexandre Colombo afirma que existem diversas alternativas e diferentes esferas de atuação. Os governantes poderiam criar novas áreas de preservação, além de políticas ambientais e maior fiscalização das áreas protegidas. Além disso as secretarias de meio ambiente precisam se empenhar mais em manter as matas ciliares e Áreas de Preservação Ambiental, para o correto deslocamento das espécies. E a população em geral também deve se sentir responsável pelo Planeta. Associações de Bairros, escolas, empresas e todos os outros núcleos sociais devem repensar de maneira consciente os hábitos de consumo, de transporte e de alimentação. Além da relação homem-natureza. Pequenas ações individuais e coletivas fazem a diferença e contribuem com a preservação.

Clima: La Niña traz pouca chuva em janeiro

A baixa quantidade de chuvas no último trimestre de 2007 fez os reservatórios de água do País registrarem os níveis mais baixos dos últimos quatro anos. Apenas na região Sul houve aumento. Um dos principais fatores que influenciaram a alteração foi o fenômeno climático conhecido como "La Niña".
Neste início de 2008, o forte calor na região Sudeste e Centro-Oeste e a pouca probabilidade de chuvas nos próximos dias, faz com que os reservatórios registrem índice de 46% da capacidade máxima. Em janeiro de 2007, o valor chegava a 54,1%.
E as previsões não são nada animadoras. O risco de seca grave deve permanecer no País até março. Dados do Ceptec (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos) mostram um cenário preocupante. De qualquer forma, os técnicos só trabalham com previsões confiáveis de no máximo cinco dias.
Até o final de semana deve chover em todo o país exceto em uma faixa no Nordeste que vai do sul da Bahia até o leste do Ceará.
O "La Niña" ocorreu no Brasil pela última vez em 2001. A principal característica do fenômeno é o resfriamento das águas na faixa equatorial do Oceano Pacífico. Isso provoca mudanças no regime de chuvas no país. É exatamente o oposto do "El Niño", que aquece as águas do oceano.

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