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Estudo alerta que cerrado pode sumir até 2030

O Globo, O País, p. 13
03 de Jul de 2004

Estudo alerta que cerrado pode sumir até 2030
Análise de imagens de satélites mostra que desmatamento do ecossistema já atingiu 57% da área original

Cerca de 57% do cerrado brasileiro já foi desmatado. Se o processo de destruição continuar na mesma escala, em 2030 o ecossistema não existirá mais em território nacional. Os números constam de um estudo da organização não-governamental Conservação Internacional, feito a partir de imagens de satélites americanos.
- Estamos fazendo com o cerrado em 60 anos o que se fez com a Amazônia em 200 anos - alertou o diretor regional para o cerrado da Conservação Internacional, Ricardo Machado.
A partir das fotografias tiradas por satélites em 2002, a ONG estima que 2,6 milhões de hectares de cerrado são destruídos por ano, o que corresponde a uma taxa anual de desmatamento de 1,5% do ecossistema. Diariamente, perdem-se 7,3 mil hectares, o equivalente a 6.700 campos de futebol. Esses dados foram apresentados ao Ministério do Meio Ambiente para auxiliar na elaboração de uma política pública de conservação do cerrado brasileiro.
Produção de carvão contribui para destruição
Os desmatamentos são motivados principalmente pela plantação de pastagem para gado, a produção de carvão para a usina siderúrgica e o uso da terra para a agricultura em larga escala. As áreas mais preservadas são as regiões montanhosas ou as de difícil ocupação, como a planície alagável do Rio Araguaia. Lugares de difícil acesso, sem estradas nas proximidades, também não sofreram muito com a ação do homem.
- Há uma idéia equivocada de que é preferível desmatar o cerrado do que a Amazônia. Se o cerrado fosse uma etnia, poderíamos estar falando em genocídio - avaliou Machado.
Antes dos desmatamentos, o cerrado ocupava 23% do território nacional. O cerrado brasileiro representa 95% deste tipo de ecossistema no planeta. O restante encontra-se na Bolívia e no Paraguai. O cerrado é apontado por especialistas como o tipo mais rico de savana, em que proliferam plantas medicinais. No entanto, esse potencial não tem sido utilizado. A idéia da Conservação Internacional é incentivar políticas de melhor aproveitamento da capacidade medicinal da vegetação, em vez de explorar as áreas apenas para o cultivo de soja, como ocorre atualmente.
Também está nos planos da ONG tentar convencer os produtores a investir mais nas espécies nativas do cerrado. Machado citou o exemplo de experiências da Embrapa, que produz atualmente licores e doces com frutas típicas deste ecossistema.
Viabilidade econômica ainda é obstáculo
Machado admite que a viabilidade econômica desses produtos não é a mesma da soja, por exemplo. Mas acredita que, em longo prazo, isso poderia mudar.
- Se não convencermos os proprietários de terras hoje, não vamos mais convencer. O cerrado vai acabar logo se continuar assim. Aí sim vão terminar todas as possibilidades econômicas de exploração das espécies nativas - disse o diretor da Conservação Internacional.
A entidade ainda pretende convencer o governo a criar políticas que impeçam o desmatamento de outras áreas do cerrado. A instituição também deve realizar trabalhos para tentar encontrar soluções técnicas que compatibilizem a conservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico.
A preservação do ecossistema só entrou na agenda do governo em 1999, com a publicação de um termo de compromisso entre o Ministério do Meio Ambiente, a Fundação Nacional do Meio Ambiente (FNMA), o Ibama e o Instituto de Pesquisa Jardim Botânico, no Rio de Janeiro. As entidades comprometeram-se a "estudar e propor uma rede de áreas protegidas no cerrado e no Pantanal para cobrir um mínimo de 10% dos biomas". Hoje, esse índice é de 5%.
Em 2002, decreto ampliou parque nacional
Em 2002, o Palácio do Planalto publicou um decreto ampliando o Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros de 60 mil hectares para 230 mil hectares. O lobby dos proprietários, porém, conseguiu derrubar o decreto na Justiça. Machado acredita que esse lobby é o principal inimigo das políticas de conservação. E alertou para a necessidade de o Ministério do Meio Ambiente trabalhar com outros ministérios para tentar viabilizar uma política efetiva de preservação do cerrado.
- Estamos propondo um pacto entre os ministérios. Se não for assim, nada vai funcionar - afirmou.
Segundo o mapeamento feito pela Conservação Internacional, dos 43% remanescentes do cerrado brasileiro, 20% estão localizados em áreas particulares . Outros 10% estão em áreas de preservação permanente. Além disso, 5% referem-se a unidades de conservação e 7% são terras indígenas. O 1% restante foi classificado pela ONG como "área disponível"

O Globo, 03/04/2004, O País, p. 13

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