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ESTUDIOSOS, AUTORIDADES E LIDERANÇAS DISCUTEM QUESTÃO XAVANTE

Cimi-Brasília-DF
29 de Jan de 2004

"Eu estou aqui. Tirei a camisa para mostrar onde o fazendeiro me esfaqueou. Sangrei muito, mas não morri. Não estou à toa, venho buscar soluções para terra Maráiwatsedé". Ao apontar para as cicatrizes dos ferimentos em seu abdome e sua cabeça, feitos com golpes de faca por invasores de sua terra e pronunciar estas palavras em sua língua, o cacique Xavante, Raul Fxeretsu, contagiou de emoção todos aqueles que estivam presente no seminário: "Terras Indígenas em Mato Grosso: o caso Maráiwatsedé do povo Xavante", realizado ontem (27) no auditório do Museu Rondon, na Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), em Cuiabá.

Em seu depoimento, Raul ainda explicou que os ferimentos aconteceram em um conflito, quando, além daquelas facadas, cinco índios foram assassinados.

Os Xavante foram expulsos da terra Maráiwatsedé onde surgiu, no ano de 1967, a fazenda Suiá Missú. Em 1998, o trabalho de demarcação foi concluído. No entanto, mesmo com a situação de sua terra demarcada, homologada e registrada há 5 anos, 80 Xavante aguardam acampadas às margens da BR-158 -- próxima ao município de Alto Boa Vista, 1.063 km de Cuiabá -- uma decisão judicial que faça com que enfim os índios possam gozar de seu direito sobre a terra garantido pela Constituição.

Na opinião de uma das palestrantes do seminário a Sub-procuradora da República e Coordenadora da 6ª Câmara do Ministério Público Federal, Ela Wiecko, no judiciário o que tem prevalecido é o direito de propriedade, não o direito da vida e indígena. Por isso a procuradora acredita que, "por parte dos índios não deve haver negociação. O direito às terras é dos índios, sem dúvida. Eles possuem um direito originário anterior ao direito de propriedade e anterior à criação do Estado brasileiro",

Durante o seminário o reitor da UFMT, Paulo Speller comprometeu-se a organizar um abaixo-assinado em favor da luta do povo Xavante de Maráiwatsedé à ser recolhido pelo Museu Rodon.

Além da subprocuradora e do reitor participaram do seminário secretário adjunto do Conselho Indigenista Missionário, Sebastião Moreira, o antropólogo da 6ª Câmara do Ministério Público Federal, Marco Paulo Schettino e a professora da UFMT, a antropóloga Edir Pina.

Hoje (29), acontece em Cuiabá a audiência de justificação para comprovação de que a área se trata de terra indígena, convocada pelo Juiz da 5ª Vara de Cuiabá, José Pires. Durante a audiência, decisiva para o caso, serão ouvidas dez testemunhas entre estudiosos e autoridades.

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