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Estrutura de engenharia de Belo Monte será desmontada

O Liberal (Belém - PA)
12 de Dez de 2001

A Centrais Elétricas do Norte do Brasil (Eletronorte) está desmontando sua estrutura de engenharia no município de Altamira. A decisão foi anunciada pelo presidente da estatal, José Antonio Muniz Lopes, em encontro com empresários e políticos paraenses na sexta-feira, 7. Na prática, é um recuo no maior projeto hidrelétrico nacional: a usina de Belo Monte.
De imediato, graves conseqüências são esperadas. A pior delas é a demissão, em janeiro próximo, de todos os profissionais que prestavam serviço para a empresa em Altamira. As pressões políticas e o embargo judicial aos estudos ambientais são apontados pela direção da empresa como as razões que a forçaram a tomar uma decisão. Toda a infra-estrutura da Eletronorte será transferida para o município de Itaituba, no norte do Pará.
Muniz Lopes lamenta que a decisão venha causar grandes transtornos para a população de Altamira e para os onze municípios no entorno da barragem do Complexo Hidrelétrico de Belo Monte. Eles aguardavam para o início do próximo ano a alocação de recursos para obras de infra-estrutura nos municípios. Belo Monte está projetada para gerar 11.182 MW de energia, com um reservatório de 400 quilômetros quadrados - o que lhe dá status de um dos melhores aproveitamentos hidrelétricos do mundo.
Desde a década de 80, a hidrelétrica vem provocando polêmica. Naquela época, ambientalistas organizaram uma grande manifestação para impedir a construção da então usina de Kararaô, prevista para alagar 1,2 mil quilômetros quadrados, o que provocaria a remoção da aldeia indígena Paquiçamba. As pressões fizeram com que a Eletronorte voltasse atrás e refizesse os estudos.
Este ano, a empresa divulgou substanciais modificações no projeto, entre elas medidas que reduziriam o impacto ambiental, diminuiriam a área alagada e deixariam a aldeia indígena a 50 quilômetros da barragem. Mesmo assim, as ações judiciais visando o embargo dos estudos se sucederam. No momento, a obra está paralisada em decorrência de uma nova liminar.
Há mais de um ano, a Eletronorte vem complementando os Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental do que atualmente passou a se chamar Complexo Hidrelétrico Belo Monte. Para isso foi enviada ao local uma equipe de engenharia que contratou diversos profissionais da região. São barqueiros, motoristas, secretárias, técnicos em informática, faxineiros e seguranças. Estes serão os demitidos em janeiro próximo e a equipe de engenheiros transferida para Itaituba, onde vai iniciar os estudos de inventário das bacias dos rios Tapajós e Teles Pires, que juntos deverão somar a geração da usina de São Luiz do Tapajós, de 14 mil MW. A Eletronorte não quis informar o número de demitidos.
Terror - O presidente Antonio Muniz explicou que não pretende criar um clima de terror no município. "Já estamos sentidos demais por estarmos nos afastando de Altamira. Gostaríamos muito de poder trabalhar também no projeto básico da usina mas, com o embargo da Justiça, não podemos manter nossa estrutura parada, aguardando os trâmites judiciais", declarou.
Ele lembrou que a empresa está sendo questionada, entre outras razões, por ter firmado convênio com a Fundação de Amparo ao Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) da Universidade Federal do Pará (UFPA) para fazer os estudos de impacto ambiental. "Estão colocando em dúvida a inteligência paraense. Nós contratamos a Fadesp por acreditar na capacidade e competência de seus técnicos. Não permitiram nem mesmo que eles nos entregassem os resultados para que fossem avaliados. O trabalho só deveria ser julgado quando estivesse pronto e não a priori", criticou.
A notícia do desmonte da equipe de engenharia do Complexo de Belo Monte teve grande impacto sobre a bancada federal paraense. Os deputados Anivaldo Vale (PSDB), Socorro Gomes (PC do B), Paulo Rocha (PT), Nicias Ribeiro (PSDB) e Zenaldo Coutinho (PSDB) reagiram com surpresa e disseram que tentarão, ainda esta semana, coletar mais informações sobre a questão e evitar não apenas as demissões, mas também o desmonte de um projeto que deverá trazer desenvolvimento para o Estado. "A região do Xingu vai perder muito", disse Anivaldo Vale. "É gravíssimo. É um projeto estratégico para o País e não pode ser abortado dessa maneira", observou Zenaldo Coutinho. "Vamos brigar e exigir que a Eletronorte fique na região", reagiu Paulo Rocha. "Um absurdo", sintetizou Nicias Ribeiro.

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