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Estrada traz impactos à RESEX de Curuçá

Agência Museu Goeldi
Autor: Maria Lúcia Morais
19 de Fev de 2008

A construção da estrada PA 136, que liga Castanhal ao município de Curuçá, no nordeste do Pará, resultou em impactos que atingem não apenas a conservação do meio ambiente, mas também a sobrevivência das comunidades tradicionais que habitam a Reserva Extrativista Marinha Mãe Grande, em Curuçá. É o que revela estudo produzido pela bolsista Elida Moura Figueiredo, do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG), na sua dissertação de mestrado.

Intitulado "Uma estrada na Reserva: impactos sócio-ambientais da PA-136 em Mãe Grande, Curuçá (PA)", o estudo foi desenvolvido sob a orientação da socióloga Edna Castro, da Universidade Federal do Pará (UFPA), e da antropóloga Lourdes Furtado, da Coordenação de Ciências Humanas do Museu Goeldi, e integra as atividades do Projeto RENAS, que pesquisa as comunidades ribeirinhas e costeiras da Amazônia.

O mestrado foi defendido ano passado pelo Programa de Pós-graduação em Ciências Ambientais, mantido pela Universidade Federal do Pará (UFPA), em parceria com o Museu Paraense Emilio Goeldi e a Embrapa Amazônia Oriental. "Investiguei os impactos da construção dessa estrada na vida das pessoas que vivem na região, com ênfase nos impactos sociais, mas que tivessem ligação com o meio ambiente daquela região", explica Elida Figueiredo.

Localizada no município de Curuçá (PA), no nordeste paraense, a Reserva Extrativista Marinha Mãe Grande é formada por manguezais nativos e abrange uma área de aproximadamente 37 mil hectares. Criada em 2002, a RESEX abriga uma população estimada em 11 mil habitantes, distribuídos em 52 comunidades tradicionais de pescadores e agricultores.

Uma das mais antigas é a comunidade de São João do Abade, fundada no século XVII. Foi nesta localidade que Elida realizou sua pesquisa de campo e entrevistou 50 famílias, a maioria de pescadores, que moram próximos à estrada e ao manguezal. "A comunidade está toda envolvida com as atividades de pesca na região e a coleta no manguezal que é o seu maior patrimônio", afirma.

Formado principalmente por pescadores tradicionais, que trabalham de forma artesanal, o Abade é um local estratégico para a comercialização do pescado da região. Barcos de outros municípios e de comunidades vizinhas se dirigem até o local para vender o seu peixe. "A pesca é a vida deles, e todos os problemas identificados com a pesquisa estão relacionados, de alguma forma, a esta atividade".

Através do relato dos pescadores, a pesquisa identificou a existência de conflitos por pontos de pesca e o uso de técnicas predatórias de pesca, fatos que interferem na rotina dos pescadores artesanais. A concorrência com a pesca industrial, que também atua na região, é outro fato que preocupa os pescadores tradicionais. "O pescador artesanal tem que cada vez mais longe pra buscar o pescado. O resultado é o aumento no esforço de pesca e, consequentemente, no consumo de álcool e drogas, principalmente, entre os pescadores mais jovens, para agüentar a carga de trabalho", revela.

A construção da estrada facilitou a entrada de caminhões frigoríficos de outros estados que se dirigem até a localidade para comprar pescado. O problema é que não há fiscalização. A saída do pescado não tem controle e não deixa divisas para o município. "Quem vive lá já sente esse impacto no aumento do preço do pescado", afirma. A retirada ilegal de caranguejos por pessoas de outras localidades também é outra ação que passou a ser facilitada pela criação da estrada.

Segundo Elida, a pesquisa não identificou apenas impactos negativos. "O comércio melhorou bastante", afirma. A estrada também facilitou o acesso à comunidade, que vem crescendo muito, principalmente devido à imigração de famílias de pescadores. "Por ser uma área de pesca, muitas famílias de estão migrando para lá".

A mudança pode ser vista na paisagem, com o surgimento de novos bairros em áreas protegidas de mangue. Lixo e fossas sanitárias também são depositadas, sem nenhum tratamento, nessas áreas, degradando ainda mais os manguezais. "A comunidade não tem para onde crescer. Ou cresce para o mangue ou para a estrada, em direção à Curuçá".

Em seu estudo, Elida alerta para a necessidade urgente de implantação de ações de educação ambiental e de recuperação de áreas já degradadas. Outra prioridade apontada é a melhoria da organização social dos pescadores que, na opinião da pesquisadora, ainda não têm uma noção do que é uma reserva extrativista e no que as suas vidas mudam com sua implantação. "Falta um maior envolvimento das comunidades na gestão dos recursos da RESEX. Eles precisam entender que aquele ambiente é deles e, por isso, precisam participar do seu gerenciamento".

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