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'Estamos morrendo à míngua', denuncia líder indígena a Pedro Bial

Gshow - gshow.globo.com
09 de Jun de 2020

Conversa de segunda, 08/06, expôs como povos indígenas estão vulneráveis ao novo coronavírus
Por Gshow

09/06/2020 03h00 Atualizado há 3 anos

No texto de abertura do Conversa com Bial de segunda-feira, 8/6, Pedro Bial conta que, mais do que pólvora, armas e aço, foram os vírus que decidiram a conquista da América em favor dos europeus. Naquela invasão, há cinco décadas, os nativos americanos morreram em epidemias de proporções bíblicas. Agora, mais uma vez, os índios estão entre as populações mais vulneráveis ao novo coronavírus. Para falar sobre a urgência de sua proteção, o programa recebeu a vice-presidente da Federação Indígena do Povo Kokama, Milena Kokama, e o presidente da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro, o cacique Marivelton Baré.

O coronavírus chegou ao Brasil por São Paulo, em fevereiro, e um mês depois já tinha contaminado indígenas. O primeiro caso foi uma jovem de 20 anos do povo Kokama em Santo Antônio do Içá, no Alto Solimões (AM). Milena conta que, desde então, foram cerca de 2 mil casos de contaminação, e 55 mortes. Ela se emocionou ao contar do falecimento de um dos principais líderes tradicionais, Guilherme Padilha Samias: "um dos primeiros professores da língua do meu povo".

"A gente tá morrendo à míngua."

Ela lamentou que não estejam sendo enterrados de acordo com o seu ritual de passagem, já que em Manaus seus mortos por Covid-19 vão para sepulturas coletivas. Milena conta que o atestado de óbito traz outra briga que definiu como uma agressão: não são identificados como indígenas nas certidões, mas como pardos.

"O que é pardo? Eu não sou parda, eu sou Kokama. Quem tem que me reconhecer é meu povo."

A dupla falou sobre a situação dos povos Kokama, Baré e outros da região norte do Brasil. O cacique Marivelton conta que quando a doença chegou no território do Alto Solimões, em 26 de abril, já foi como uma epidemia comunitária. A única unidade hospitalar de São Miguel da Cachoeira, que dispõe apenas de sete respiradores, já tinha dificuldades em dar conta da demanda de pacientes antes mesmo da epidemia. A UTI mais próxima, em Manaus, fica a 870 km do município.

"Se o Brasil não está preparado, imagine na nossa região que temos uma unidade hospitalar que faz o atendimento pra tudo?"

Ele conta que, com as equipes de saúde próprias, apoio do exército e da Funai, montaram barreiras sanitárias para viabilizar o isolamento social. Mas criticou a postura do governo federal, que vê os povos indígenas como inimigos, e não como comunidades autônomas em seus territórios, com suas formas de gestão.

"Nós estamos combatendo através da nossa medicina tradicional porque se fosse esperar da Sesai ou do Governo Federal, não chegariam. Assim como não chegaram medicamentos o suficiente, não chegaram testes o suficiente."

Milena também criticou os missionários que, ainda hoje, tentam levar a fé cristã aos povos indígenas. Alguns desses pastores, segundo Milena, estimulam a formação de pequenas aglomerações ao incentivarem a ida aos cultos.

"No Alto Solimões, hoje, temos pastores ainda dizendo que não tem Covid-19, que é uma gripezinha."

O cacique enfatizou que o cuidado com indígenas deveria ser uma obrigação, pois além de serem parte da sociedade, são os verdadeiros povos originários.

https://gshow.globo.com/programas/conversa-com-bial/noticia/estamos-mor…

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