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Estado quer tratar rios que desaguam na Baia

O Globo, p.24
02 de Mar de 2005

Estado quer tratar rios que deságuam na Baía
Paulo Marqueiro e Tulio Brandão
O governo do estado apresentou ontem, durante reunião com o Banco Japonês para Cooperação Internacional (JBIC), um dos financiadores do Programa de Despoluição da Baía de Guanabara, um projeto que prevê a construção de sete estações de tratamento de esgoto na foz de alguns dos rios mais poluídos da bacia. Segundo o JBIC, a proposta só será analisada depois que o governo concluir a primeira fase das obras de despoluição, cujo prazo termina em 25 de dezembro de 2006. O custo do novo projeto é de US$ 160 milhões (cerca de R$ 416 milhões).
As sete estações se somariam às oito existentes. Hoje, pelo menos metade delas opera abaixo da capacidade. As novas unidades tratariam o esgoto de rios com vazões de até 13.700 litros por segundo. A estação com maior capacidade do programa, a de Alegria, tem capacidade para 5.000 litros por segundo, mas funciona com 1.500. O projeto apresentado ontem prevê estações nos rios Iguaçu, Sarapuí, Caceribu e Meriti e nos canais Irajá, do Cunha e do Mangue, além da dragagem do Canal do Fundão.
O secretário estadual de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Luiz Paulo Conde, explica que o projeto é complementar à segunda fase das obras de despoluição:
— Resolvemos apresentar este aditivo tendo em vista os Jogos Pan-Americanos. Com esse projeto, poderíamos acelerar, por exemplo, a despoluição do Canal do Cunha.
O representante do Banco Japonês no Rio, Takao Ono, disse esperar que as obras da primeira fase do programa de despoluição, que estão atrasadas seis anos, sejam concluídas até o fim do ano que vem.

Estação do Rio Carioca usa o mesmo processo
A tecnologia prevista no projeto apresentado pelo governo do estado ao Banco Japonês é a mesma usada na Estação de Tratamento de Esgoto do Rio Carioca, que está parada há pelo menos quatro meses. A unidade — que custou R$ 3,7 milhões e cujas fotos ilustram o documento entregue ontem aos japoneses — só funcionou adequadamente durante nove meses desde a inauguração, em 30 de setembro de 2002, como admite o próprio estado.
Apesar dos problemas na estação de esgoto do Rio Carioca — construída e operada por uma empresa privada — o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano, Luiz Paulo Conde, acredita que eles não serão um obstáculo:
— Ela vai voltar a funcionar. O que existe é um problema de gestão. Havia um financiamento da Petrobras, que deixou de repassar recursos. Mas é o mesmo procedimento dos piscinões de Ramos e de São Gonçalo, que funcionam bem.
A estação do Flamengo foi construída para tratar cerca de 300 litros de esgoto por segundo com a promessa, feita pelo estado na época da inauguração, de despoluir a Praia do Flamengo. Em 2004, segundo levantamento da Feema, o índice no lugar chegou a 90 mil coliformes fecais por 100 mililitros, 90 vezes acima do limite tolerado. A poluição do Rio Carioca é causada por ligações clandestinas de esgoto.
O presidente da Serla, Ícaro Moreno Júnior, defende a tecnologia, chamada de flotflux”, devido ao processo de flotação (bolhas que levam os resíduos da água à superfície):
— Tem patente nos Estados Unidos e, em São Paulo, está sendo usada na construção de uma estação com capacidade para 10 mil litros. Trata com eficiência, sem desviar ou represar o curso dos rios. Não considero um projeto paliativo, já que mesmo depois que o programa de despoluição estiver pronto, vai haver uma descarga residual de esgoto de cerca de 30% nos rios.
Projeto inclui até o tratamento do Rio Caceribu
Especialistas costumam dizer que estações próximas à foz dos rios são soluções temporárias e não devem substituir a necessidade da rede coletora e tratamento do esgoto. Parte do dinheiro para a construção dos troncos e redes deveria sair do governo do estado. Como até hoje as obras são realizadas em ritmo lento, as estações estão prontas mas sem esgoto para tratar.
Na estação de Alegria, dos 21,8 quilômetros de troncos e redes previstos, foram executados apenas 8,98 quilômetros, ou 41%. No sistema Pavuna, de 446,7 quilômetros, foram implantados 88,6 quilômetros, cerca de 20%.
A apresentação do projeto inclui até um dos poucos rios parcialmente preservados da baía, o Caceribu.

O Globo, 02/03/2005, p. 24

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