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Esquema ilegal abate 3 milhões de árvores no PA

OESP, Geral, p. A12
28 de Nov de 2003

Esquema ilegal abate 3 milhões de árvores no PA
Apesar da denúncia do Ibama, madeireiros prometem voltar a fechar estradas hoje

Carlos Mendes e Edson Gillet
Especial para o Estado

O Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) decidiu partir para o confronto com o setor madeireiro, que promete realizar hoje um grande protesto em várias regiões do Pará contra a fiscalização federal. Divulgou em Belém uma auditoria que constatou a "ação criminosa" de 182 empresas, com a falsificação de documentos e sonegação de R$ 45 milhões. O volume do abate clandestino, de 3 milhões de árvores, corresponde a 2.500 caminhões, que, enfileirados ocupariam 50 quilômetros de estrada.
A auditoria, feita por procuradores e analistas ambientais do Ibama de Brasília e Belém, durou seis meses. O resultado das fraudes em 1.263 Autorizações de Transporte de Produtos Florestais (ATPFs) foi a comercialização ilegal de mais de 45 mil metros cúbicos de madeira.
De acordo com o gerente-executivo do Ibama no Pará, Marcílio Monteiro, as madeireiras vão responder a inquérito administrativo e ação penal por dilapidar patrimônio ambiental e fomentar o desmatamento indiscriminado da floresta amazônica. A primeira providência após a conclusão da auditoria foi o encaminhamento imediato de 462 autos de infração no valor total de R$ 4,5 milhões contra as empresas envolvidas nas fraudes. O Ministério Público Federal, por sua vez, vai processá-las por utilização indevida, adulteração e falsificação de documentos públicos.
Somente duas madeireiras são responsáveis por mais de R$ 2 milhões em ATPFs adulteradas: Indústria de Madeiras Rio Guamá, em São Miguel Guamá, e Pérola Madeiras do Pará, de Tailândia, no sudeste do Estado. A Operação Belém, como foi batizada a auditoria, apurou que Tailândia é a nova rota da ilegalidade na extração e venda de madeira: 30% das empresas investigadas estão localizadas no município.
Com a auditoria no Pará, explicou Monteiro, foi mostrada apenas a "ponta do iceberg" de irregularidades na venda de madeira no mercado interno. "Os danos à biodiversidade e aos ecossistemas são irreversíveis e quem perde com a dilapidação do patrimônio ambiental são as populações rurais desses municípios paraenses."
Transamazônica - Os madeireiros desocuparam ontem parcialmente a rodovia Transamazônica e levantaram o bloqueio de estradas vicinais na região de Altamira. Também desocuparam a sede do Ibama. Mas os dirigentes dos sindicatos de empresas madeireiras estavam empenhados ontem na mobilização para fechar outras estradas do Estado hoje. Eles não quiseram comentar a auditoria do Ibama.
Em Brasília, o presidente do Ibama, Marcos Barros, atribuiu o conflito em Altamira a uma maior atuação do poder público. Ele avalia que problemas semelhantes podem ocorrer em outros locais, como Rondônia e Roraima. "O Estado começa a atuar em uma área totalmente desgovernada. Não é de estranhar que grupos prejudicados se mobilizem", disse. "Eles se aproveitam de pessoas excluídas passando falsas informações de que, por exemplo, o mercado de trabalho irá escassear."
Barros afirmou que tais conflitos só podem ser evitados com medidas como reforma fundiária e adoção de projetos de exploração sustentável. (Colaborou Lígia Formenti)

OESP, 28/11/2003, Geral, p. A12

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