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Escassez mundial de água ameaça paraísos ecológicos

O Globo, Ciência e Vida, p. 36
19 de Set de 2006

Escassez mundial de água ameaça paraísos ecológicos

Pantanais, regiões costeiras e santuários de vida selvagem podem ser destruídos como parte da luta mundial para ampliar as fontes naturais de água doce, num planeta em que um sexto da população não tem acesso à água potável - e em que as estimativas apontam para um aumento considerável do consumo nos próximos anos. O maior dano previsto é para os países pobres.

O diretor-executivo do Programa Ambiental das Nações Unidas, Achim Steiner, disse que ecossistemas preciosos, como o delta de Okavango, em Botswana - o maior delta do mundo, localizado no interior de um país e com uma grande diversidade de peixes e aves - pode se tornar fonte de água se a escassez se tornar mais grave.

- Botswana já é um país que enfrenta escassez de água. A pressão para extrair essa água, que mantém o paraíso ecológico, será imensa - afirmou.

Bacias na região africana do Sahel, especialmente o lago Chade, também estariam ameaçados ao se transformarem numa opção fácil de obtenção de água, se as secas se intensificarem em países como o próprio Chade, além de Sudão, Somália, Etiópia, entre outros.

- Escolhas difíceis de serem feitas ocorrerão - disse.

Um bilhão de pessoas no mundo, um sexto da humanidade, não tem acesso a água potável, e uma em cada três vive em regiões atingidas pela escassez de água, segundo dados da ONU.

Segundo Steiner, o consumo de água deve aumentar 40% nos próximos 20 anos com o crescimento da população mundial e o aumento da demanda por parte de sociedades mais ricas.

As secas, que segundo os cientistas tendem a se tornar mais freqüentes em razão do aquecimento global, devem contribuir para agravar ainda mais o quadro.

Na análise de Wolfgang Grabs, coordenador da divisão de águas da Organização Meteorológica Mundial, países que não têm recursos paia aprimorar seus sistemas de obtenção de água tenderão a tomar decisões perigosas do ponto de vista ambiental.

- Eles terão que se perguntar: "Garanto água para produção agrícola e consumo ou protejo o meio ambiente?" - disse. - A conseqüência imediata, se o meio ambiente for afetado, será a redução de espécies nessas regiões.

Usos e metas

Agricultura:
A irrigação absorve 74% da água doce consumida no planeta e haverá um aumento de 60% a 90% neste gasto até 2050, dependendo do tamanho do crescimento populacional e da produtividade das colheitas.

Saúde e consumo:
Governos assumiram o compromisso de reduzir à metade (para 500 milhões), até 2015, o número de pessoas sem acesso à água potável. Alcançar a meta exigirá de US$ 10 bilhões a US$ 30 bilhões por ano, além do que é atualmente investido. A diarréia e a malária (principais doenças ligadas à água) mataram, respectivamente, 1,8 milhão e 1,3 milhão em 2002.

Indústria:
Pode reduzir seu consumo de água entre 40% e 90% se receber os incentivos apropriados, segundo a ONU.

O Globo, 19/09/2006, Ciência e Vida, p. 36

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