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Entidades lamentam exoneração de diretor do Inpe; veja a repercussão

G1 - https://g1.globo.com/natureza/noticia
02 de Ago de 2019

Entidades lamentam exoneração de diretor do Inpe; veja a repercussão
Notícia da troca da diretoria do órgão que mantém os sistemas oficiais de monitoramento do desmatamento na Amazôna foi dada pelo próprio diretor, após reunião com o ministro Marcos Pontes.

Por G1
02/08/2019 14h37

Entidades que atuam na área ambiental vieram a público na tarde desta sexta-feira (2) para lamentar a exoneração de Ricardo Magnus Osório Galvão da diretoria do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe). À frente da sede do Inpe, em São José dos Campos (SP), servidores e sindicalistas se reuniram para protestar contra a exoneração.

A notícia foi anunciada pelo próprio Galvão, em uma entrevista a jornalistas em Brasília, após reunião com o ministro da Ciência e Tecnologia, Marcos Pontes, pela manhã. Em entrevista ao G1, na tarde desta sexta, Galvão afirmou que Pontes se comprometeu a não interferir na linha de trabalho do Inpe.

Veja abaixo declarações de entidades a respeito do tema:

Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC):

"A exoneração de Ricardo Galvão é lamentável, mas era esperada", afirmou Carlos Rittl, secretário-executivo do Observatório do Clima (OC), ao G1. "Ele selou seu destino ao não se calar diante das acusações atrozes de Jair Bolsonaro ao Inpe."

"Ao reagir, Galvão também preservou a transparência dos dados de desmatamento, ao chamar a atenção da sociedade brasileira e da comunidade internacional para os ataques sórdidos, autoritários e mentirosos de Bolsonaro e Ricardo Salles à ciência do Inpe", continuou o secretário do OC.

"Nos próximos meses, Bolsonaro e seu ministro do Ambiente descobrirão, do pior jeito, que não adianta matar o mensageiro, nem aparelhar o Inpe: a única maneira de evitar más notícias sobre o desmatamento é combatê-lo." - Carlos Rittl, Observatório do Clima
Marcio Santilli, sócio-fundador do Instituto Socioambiental (ISA):

"É a verdade sobre o desmatamento que está sendo exonerada."

Márcio Astrini, coordenador de Políticas Públicas do Greenpeace:

"Bolsonaro sabe que seu governo é o principal responsável pelo atual cenário de destruição da Amazônia. A exoneração do diretor do Inpe é apenas um ato de vingança contra quem mostra a verdade. O novo governo vem implementando no país um projeto antiambiental, que sucateia a capacidade do Estado de combater o desmatamento e favorece quem pratica o crime florestal. E agora, na hora de encarar as consequências de suas decisões, tenta esconder a verdade de maneira vergonhosa e culpando terceiros."

Após embate com Bolsonaro sobre desmatamento, diretor do Inpe anuncia exoneração

Rogério Egewarth, diretor-financeiro da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema):

Rogério Egewarth, diretor-financeiro da Associação Nacional de Servidores Ambientais (Ascema), afirmou que a exoneração é mais um episódio de "uma situação de desmanche e desqualificação das instituições que historicamente têm um papel importante dentro do estado brasileiro". Segundo ele, "são instituições técnicas que estão sendo desqualificadas por achismos ou mecanismos que simplesmente vão contra a lógica do Estado fazer o papel dele de forma correta e transparente, baseados em princípios legais".

Egewarth ressaltou, ainda, que as críticas atuais do governo federal ao trabalho dos órgãos técnicos são uma forma de desviar a atenção pública para a consequência de manifestações do presidente Jair Bolsonaro desde sua eleição, como o anúncio de que ele iria acabar com a "festa" de multas do Ibama. Para o diretor da Ascema, essas falas estimularam o aumento de crimes ambientais como o desmatamento, e a consequência deve atingir os empresários do agronegócio que atuam de maneira legal, mas devem ser prejudicados pela retaliação do mercado internacional.

"Estão querendo desviar o foco não só da sociedade, mas também do agronegócio, e jogar a responsabilidade em cima dos técnicos, como se a gente tivesse o direito de mentir sobre informações que historicamente foram públicas", disse ele. "[Os outros países] vão taxar o produto e [o Brasil] vai perder competitividade. Quem vai pagar a conta é o agronegócio, que não tem nada a ver com o desmatamento."

Ivanil Barbosa, presidente do Sindicato dos Servidores do Setor Aeroespacial (Sindct):

"Nosso receio agora é que o novo diretor do Inpe, escolhido pelo governo, venha a atuar como um tipo de interventor. Sobretudo depois da manifestação do general Augusto Heleno [Segurança Institucional] sobre a inconveniência das nossas publicações, dos dados divulgados pelo Inpe. Será que o Inpe, com a saída do Galvão, vai ter um 'cala-boca'? Vamos poder ofertar, internamente e internacionalmente, o serviço que prestamos, com liberdade?"

Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, em rede social:

"O diretor do Inpe não foi demitido por incompetência. Está sendo demitido por sua extrema competência, altivez e por dirigir uma instituição de Estado que prima pelo interesse público e não se acovardou diante das ameaças da tríade (Ricardo Salles, General Augusto Heleno e Bolsonaro), que se levantou para intimidar e desmoralizar a instituição."

"Tentaram sem êxito desacreditar o seríssimo trabalho de monitoramento do desmatamento da Amazônia feito pelo Inpe há mais de 30 anos e que virou a maior referência internacional no assunto. Sem conseguir apresentar nenhuma evidência técnica e nem científica, ficaram com frases toscar e vazias, eivadas de mentiras e preconceitos. Bolsonaro tenta destruir uma instituição de 50 anos de existência, tentando impor a lei da mordaça e do autoritarismo."

Fundo Mundial para a Natureza (WWF-Brasil):

"Lamentamos a exoneração do presidente do Inpe, Ricardo Galvão, e nos solidarizamos a ele na defesa do Inpe como instituição científica e na defesa da elaboração e da divulgação pública e apolítica dos dados de desmatamento. Vemos com preocupação a dispensa de um quadro técnico de alta e reconhecida excelência, esperando que não seja um prenúncio de que as informações -estratégicas sobre o desmatamento no nosso país - serão censuradas ou alteradas."

"Neste momento, o Palácio do Planalto e o Ministério do Meio Ambiente deveriam se preocupar em efetivamente combater o desmatamento descontrolado, uma chaga que aflige a sociedade brasileira e vem causando imensos prejuízos a todos, inclusive para a agricultura de regiões do centro-sul do país, que depende diretamente das chuvas produzidas pela floresta para poder existir."

Maria Dalce Ricas, superintendente executiva da Associação Mineira de Defesa do Ambiente (Amda):

"A exoneração do diretor do Inpe é mais uma demonstração que o presidente Jair Bolsonaro não governa para o Brasil, ele governa para uma minoria. Esse ato de desacreditar a ciência é porque essa minoria sabe que o estudo e a ciência são obstáculos aos seus interesses econômicos imediatos, especialmente à depredação da floresta amazônica. Então este foi mais um ato que mostra que nós estamos beirando o mergulho total na escuridão do desprezo à ciência e à história."

"É uma pena que o presidente do nosso país não consiga ou não queira entender que os ativos naturais do Brasil são um poderoso e quase inigualável instrumento no mundo para que o Brasil seja protagonista, tanto na área econômica quanto na ambiental."

Nívio de Freitas Filho, subprocurador-geral da República:

"É inaceitável que eventual inconformismo com a exposição de dados oficiais, que, por força de comando constitucional são públicos, e que desvelam quadro de sensível aumento no desmatamento, possa justificar a descontinuidade de serviços e ações de interesse do Estado brasileiro", afirmou o procurador Nívio de Freitas.

"Especialmente quanto às aferições do desmatamento na Floresta Amazônica, os laudos, produzidos há longos anos, são totalmente confiáveis, e cientificamente inatacáveis. Por sinal, constituem fundamental instrumento de controle na defesa da Floresta Amazônica e, como tal, dão suporte à atuação do [MPF] no combate e responsabilização cível e criminal, especialmente no projeto 'Amazônia Protege'", completa Freitas na nota.

Antonio Nobre, pesquisador sênior do Inpe:

Especialista em rios voadores da Amazônia, o pesquisador Antonio Nobre classificou a demissão de Ricardo Galvão como "uma violência injustificável".

"Em 20 anos, nunca um diretor foi demitido. Eles são escolhidos em um processo meritocrático, inspirado nas universidades americanas, que determina que a direção do órgão só pode ser exercida por quem passou por uma avaliação científica", disse Nobre.

"A comunidade internacional está horrorizada com o que estão fazendo conosco. É muito grave que o governo queira suprimir informações que são públicas desde 2003. A intenção do governo é manipular os dados, os fatos não interessam", denuncia o cientista.

DADOS SOBRE O DESMATAMENTO
19/7: Após alertas de desmatamento, Bolsonaro diz: 'dados são mentirosos'

20/7: Diretor do Inpe reafirma consistência dos dados e diz que não vai se demitir

22/7: Para Bolsonaro, dados sobre desmatamento dificultam negociações comerciais

22/7: Ministro Marcos Pontes convoca reunião com diretor do Inpe

31/7: Ricardo Salles admite aumento do desmatamento, mas critica uso dos dados

1/8: Augusto Heleno diz que governo deveria cuidar do problema 'internamente'

2/8: Após reunião com Marcos Pontes, diretor do Inpe diz que será exonerado

2/8: 'Ministro se comprometeu a não interferir no Inpe', diz diretor do instituto ao G1

5/8: Marcos Pontes diz que cogita oficial da Aeronáutica no Inpe

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Veja a repercussão da exoneração do diretor do Inpe

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