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Ensaio fotográfico: a diversidade cultural indígena refletida em seus trajes e pinturas

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19 de Abr de 2024

Ensaio fotográfico: a diversidade cultural indígena refletida em seus trajes e pinturas
Neste 19 de abril, dedicado a celebrar a cultura e herança indígena, conheça trajes, acessórios e pinturas únicas que representam suas histórias, crenças, e os biomas onde estão localizados

Por Amanda Magnani, para Um Só Planeta
19/04/2024 05h03 Atualizado há 11 horas

No Brasil, os povos indígenas estão presentes em todos os 26 estados e seis biomas. Segundo um estudo do Instituto Socioambiental (ISA), são mais de 1,5 milhão de pessoas divididas em 266 povos e falantes de mais de 160 línguas. E a riqueza cultural dessas populações não cabe em números.
Cada povo possui trajes, acessórios e pinturas únicas que representam suas histórias, crenças, e os biomas onde estão localizados. O Um Só Planeta conversou com indígenas de oito desses povos para ilustrar uma parte ínfima dessa rica diversidade.
As imagens são do fotógrafo indígena Edgar Kanaykõ Xakriabá.

Bioma: Caatinga
Povo: Kiriri
Localização: Norte da Bahia
Sobre os Kiriri: Meu povo Kiriri é um povo muito resistente, é um povo que preserva muito a cultura, a organização dentro das comunidades, os trabalhos coletivos. Temos reuniões onde ocorrem todas as consultas. Mas a Caatinga, de modo geral, é uma região muito seca. Com as mudanças climáticas, os invernos têm sido ainda mais secos e isso impacta diretamente na vida das pessoas e das comunidades. Há muita gente passando fome, a insegurança alimentar é muito presente. Mas fazemos o que é possível através dos trabalhos coletivos.
Adereços tradicionais: O meu cocar é da fibra da pindoba, que é muito forte na minha região, no Crato. Também o meu traje é de palha de macambira. Mas não se trata somente de uma palha que eu vou ali e pego. Não. Tem toda uma questão espiritual, uma questão territorial. Tudo tem um significado espiritual muito forte, e eu sou muito orgulhosa do meu traje, da minha cultura, e das diferenças que nos tornam únicos.

Daiara Tukano
Bioma: Amazônia
Povo: Tukano
Localização: Alto Rio Negro, na fronteira entre Brasil, Colômbia, Venezuela.
Sobre os Tukano: Nós somos um povo transnacional que vive em uma região povoada por 23 povos. O município de São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, o município com maior população indígena do Brasil, está nessa região.
Adereços tradicionais: A nossa pintura tradicional tem um tom avermelhado e fazemos principalmente pinturas no rosto. Na minha testa, está pintada a cobra canoa, que remete ao nosso mito de origem. Os pontinhos acima representam as sementes da pimenta, que simbolizam proteção. O desenho nas minhas bochechas representa os maracás. Já a pintura nos meus braços, esses triângulos em espiral, são algo que eu estudei a partir de fotografias antigas de homens do nosso povo, porque hoje em dia é raro encontrar essa pintura.
Ela representa a ayahuasca, um capim que é uma medicina relacionada à origem do conhecimento do nosso povo. Também estou usando três colares: um de onça, que é cerimonial; um de triângulo de conchas, representando borboletas; e um de sementes brancas, conhecidas como Lágrimas de Nossa Senhora, normalmente usado por mulheres casadas.

Yasmin Nharin
Bioma: Cerrado
Povo: Krenak
Localização: Leste de Minas Gerais, às margens do Rio Doce
Sobre os Krenak: Nós temos uma relação forte com o Rio Doce. É onde a gente aprende a nadar, onde a gente se batiza. Mas com o crime da Vale em Mariana, que sujou o nosso rio, a gente não pode mais pescar, não pode mais nadar. O povo Krenak segue procurando força nos nossos rituais, nas nossas músicas, cânticos e danças. Também seguimos lutando pela demarcação dos nossos territórios.
Adereços tradicionais: Nosso traje tradicional é composto por uma tanga e um bustiê. As mulheres costumam usar um cocar branco, mas não estou usando o meu agora.

Alenilza Miguel André
Bioma: Amazônia
Povo: Makuxi
Localização: Roraima
Sobre os Makuxi: Nós temos lutado bastante para que os brancos reconheçam a nossa cultura. Eles dizem que estamos aqui desde 1988 [com o Marco Temporal], mas a verdade é que já existíamos nesta região muito antes disso.
Adereços tradicionais: No nosso traje, nós usamos as sementes de Santa Luzia, que é uma semente muito sagrada para o nosso povo. Também tem a taboca, como aqui na minha saia. O bustiê pode ser feito de fibra de buriti ou de barbante. O meu cocar é de penas de arara, mas também é trançado com fibra de buriti.

Diego, Suelver, Eldiney e Alexandre
Bioma: Pantanal
Povo: Terena
Localização: Mato Grosso do Sul
Sobre os Terena: O povo Terena é bastante espalhado por todo o estado. Então, nós estamos em diversos territórios, alguns demarcados, outros não. Isso para nós ainda é uma grande dificuldade e um processo de luta.
Adereços tradicionais: Nosso traje típico usa muitas penas das emas. O que os nossos anciãos nos contam é que nós, Terena, começamos a pegar as penas as emas porque elas têm um passo muito silencioso, e os nossos trajes são para que os guerreiros possam se esconder nas guerras. O povo Terena teve um papel importante durante a Guerra do Paraguai, uma coisa que a gente não lê nos livros de história. A dança tradicional dos guerreiros Terena também é conhecida como a dança da ema.

Leodaiane Paimy Rikbaktsa
Bioma: Cerrado
Povo: Rikbaktsa
Localização: Norte de Mato Grosso
Sobre os Rikbaktsa: Hoje, nós enfrentamos um problema muito grande com a chegada das hidrelétricas na nossa região. Elas trazem muitas mudanças no ambiente e ameaçam espécies que são importantes para fazermos os nossos adereços, como as conchas usadas para os colares de casamento das mulheres, que para nós é um patrimônio. Também temos sido muito afetados pela chegada de grandes lavouras.
Adereços tradicionais: Nossos cocares tradicionais, que só são usados pelas lideranças, são feitos com penas do gavião real.

Îasytatáratã, Tesa-una, Îasy
Bioma: Mata Atlântica
Povo: Tupiniquim
Localização: Aracruz, no estado do Espírito Santo
Sobre os Tupiniquim: A mata, para nós, é muito importante. Ela é a nossa vida, literalmente. A gente precisa da força da terra para conseguir manter a nossa cultura viva todos os dias. Mas nossos territórios têm sido afetados pelas monoculturas, especialmente de eucalipto, que vai deixando o solo infértil, e estamos perdendo muito espaço. O que a gente tem feito é plantar mudas, desenvolver agroflorestas, além de que já não desmatamos.
Adereços tradicionais: Os trajes de todos os povos são feitos a partir do que a gente tem em maior abundância nos biomas. No nosso caso, o bioma da Mata Atlântica é rico na embira, que é a fibra que compõe a minha saia, a minha tanga, e mesmo o meu cocar. Geralmente, colocamos no cocar penas de arara, mas como não tem sido fácil conseguir, às vezes usamos penas tingidas. Nós também gostamos muito de usar sementes nos nossos adereços. Não costumamos usar miçangas, mas sim coisas naturais, que tiramos do nosso próprio bioma.

Alan Xakriabá
Bioma: Cerrado
Povo: Xakriabá
Localização: Norte de Minas
Sobre os Xakriabá: Nosso povo é um povo guerreiro. Sabemos que o território que conquistamos não veio de graça. Foi através de muita luta, sangue, sacrifício, da coragem e da garra do nosso povo.
Adereços tradicionais: O cocar, para nós, é um símbolo muito forte, um símbolo de sabedoria e conhecimento. Também trago aqui essa bolsa de couro de gado, que costumo usar para carregar coisas que a gente usa, como o rapé. Para a pintura, a gente usa o jenipapo, e existe todo um modo de preparo para que a tinta fique mais forte, mais escura. Quando você faz a tinta em época de lua cheia, por exemplo, ela fica mais resistente. A pintura tem uma função de proteção solar, mas também espiritual.

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