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Engenheiro relata pressão de mineradora por laudo

FSP, Cotidiano, p. B1
07 de Fev de 2019

Engenheiro que atestou estabilidade de barragem diz ter sido pressionado pela Vale
Relatório da Polícia Federal apontou que Vale foi alertada sobre falhas; mineradora não comenta

SÃO PAULO
Em depoimento à Polícia Federal, o engenheiro Makoto Namba alegou ter sido pressionado pela Vale para dar um laudo que garantia a estabilidade da barragem 1 da mina do Córrego do Feijão, em Brumadinho (MG), que se rompeu meses depois, numa tragédia que deixou pelo menos 150 mortos.

Namba trabalha para a companhia Tüv Süd e foi preso, junto de outras quatro pessoas, quatro dias após a tragédia. Eles tiveram sua soltura determinada pelo Superior Tribunal de Justiça nesta terça-feira (5).

Um funcionário da Vale teria interpelado o engenheiro, questionando-o: "A Tüv Süd vai assinar ou não a declaração de estabilidade?" Segundo o relatório da PF, Namba declarou ter sentido que a frase foi "uma maneira de pressionar o declarante e a Tüv Süd a assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perderem o contrato."

O depoimento à Polícia Federal foi revelado pelo R7 e pela TV Record Minas e seu teor foi confirmado pela Folha.

O engenheiro relatou à PF que assinaria o laudo de estabilidade se a Vale seguisse suas recomendações -foram 17 delas no documento, o maior número pelo menos desde 2006. O laudo citou problemas de erosão e drenagem da estrutura.

A Polícia Federal também questionou o engenheiro sobre uma troca de emails entre funcionários da Tüv Süd, da Vale e da empresa de tecnologia Tec Wise no dia 23 de janeiro (dois dias antes do rompimento) em que a mineradora era alertada sobre falhas em cinco piezômetros (instrumentos que medem a pressão do líquido sobre a estrutura).

Engenheiros ouvidos pela Folha, no entanto, disseram que isso não necessariamente significa que a estrutura estava sob risco, já que barragens têm dezenas de piezômetros e é comum que alguns deles estejam inoperantes.

De acordo com o relatório, o delegado questionou Namba sobre o que faria se seu filho estivesse na barragem, ao que o engenheiro respondeu que "ligaria imediatamente para seu filho para que evacuasse do local bem como que ligaria para o setor de emergência da Vale responsável pelo acionamento do Paebm [Plano de Ações Emergenciais de Barragens de Mineração] para as providências cabíveis", segundo o documento.

A defesa de Makoto Namba não quis comentar o depoimento.

A Vale afirmou, via assessoria de imprensa, que colabora com as investigações e que não faria comentários sobre "particularidades" para preservar a apuração das causas do rompimento.

"Como maior interessada no esclarecimento das causas desse rompimento, além de materiais apreendidos, a Vale entregou voluntariamente documentos e e-mails, no segundo dia útil após o evento, para procuradores da República e delegado da Polícia Federal. A companhia se absterá de fazer comentários sobre particularidades das investigações de forma a preservar a apuração dos fatos pelas autoridades."

A reportagem havia questionado a mineradora se houve fraude no laudo dos engenheiros, o que a empresa descartou.

" A Vale acredita e confia na retidão de conduta e responsabilidade funcional dos renomados profissionais que contrata, todos integrantes de consultorias externas altamente especializadas, que emprestam seus conhecimentos técnicos sob uma premissa de confiança, baseada nos deveres de cautela, o mesmo se aplicando aos seus funcionários, com o que não acredita, minimamente, nessa possibilidade, que ao que tudo indica trata-se de uma especulação precipitada."

FSP, 07/02/2019, Cotidiano, p. B1

https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/02/engenheiro-que-atestou-…

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