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Energia verde

CB, Opinião, p. 21
Autor: LEAL, Geraldo
15 de Fev de 2007

Energia verde

Geraldo Leal
Engenheiro florestal graduado pela Universidade Federal Rural de Pernambuco

O recente anúncio do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês) das Nações Unidas não deixa mais dúvidas sobre a influência humana na escalada do aquecimento global. Diante desse preocupante fato, os países não devem medir esforços para reduzir as emissões dos gases estufa - alterando as matrizes energéticas, usando novas tecnologias ou freando o desmate.

A contribuição histórica brasileira para o aquecimento global é relativamente baixa. No entanto, em 2004, o país já respondia por 3% das emissões globais. Hoje o Brasil é considerado grande poluidor devido às queimadas e ao desmatamento. Por isso, ganham valor os projetos baseados no uso sustentável e na manutenção da cobertura vegetal do país.

Em sintonia com as questões ambientais, o projeto Energia Verde está sendo desenvolvido na caatinga nordestina, abrangendo parte dos municípios de Redenção do Gurguéia, Curimatá, Bom Jesus e Morro Cabeça no Tempo, no sul do Piauí. É baseado no uso sustentável da vegetação para produção de carvão e mel orgânico: algo totalmente distinto da conversão definitiva para a agropecuária.

A iniciativa é reconhecida como projeto âncora do Plano de Ação para o Desenvolvimento Integrado do Vale do Parnaíba (Planap), como modelo de uso sustentável da caatinga. De acordo com o plano de manejo, as formações florestais serão aproveitadas de forma gradativa. Cada área trabalhada será novamente utilizada após 13 anos. Esse tempo permitirá a recuperação vegetal e assegurará a manutenção da biodiversidade e das fontes de água, protegidas pela vegetação da Reserva Legal. Trata-se de novo modelo de desenvolvimento, exemplo para mudar a ocupação do solo e viabilizar uma reforma agrária sustentável.

O Energia Verde é o primeiro projeto empresarial para uso sustentável da caatinga, em uma das maiores áreas conservadas contínuas do bioma. Lá, serão mantidos aproximadamente 35 mil hectares de Reserva Legal e 2 mil hectares de Áreas de Preservação Permanente (APPs), além de corredores ecológicos que serão implementados depois da exploração. No manejo sustentável, em cada área trabalhada anualmente, permanecerá de pé a média de 300 mil árvores, cerca de 50 árvores por hectare.

Áreas do projeto mostram que as espécies manejadas na caatinga rebrotam normalmente por meio do toco (cepa), sementes e raízes e, em menos de dois anos, atingem mais de dois metros de altura. O crescimento natural da vegetação absorve gases estufa, fazendo que a iniciativa tenha balanço quase nulo de emissões, o que auxilia o Brasil a cumprir as metas definidas pelo Protocolo de Kioto e geram créditos de carbono, que poderão ser negociados no mercado global.

Além das vantagens ambientais, projetos de uso sustentável são fundamentais para regiões que demandam muita biomassa na matriz energética. Para se ter uma idéia, lenha e carvão são a segunda fonte de energia do Nordeste. O ecólogo Vasconcelos Sobrinho, cujo aniversário é referência para o Dia da Caatinga, chamava a atenção para a importância do bioma a fim de atender à demanda energética, sempre de forma sustentável.

O Nordeste desenvolve a técnica de utilização sustentável da caatinga há mais de 15 anos. No moderno plano de manejo, são incorporados programas de educação ambiental e integração socioambiental, de prevenção e combate a incêndios e de monitoramento da fauna - medidas similares às adotadas em parques e reservas federais.

Até em países de clima frio como a Finlândia, o manejo florestal é tido como um dos carros-chefe da economia. No caso do Brasil, o poder desenvolvimentista e de preservação da prática é incalculável. Levando ainda em conta que, diante do aquecimento global, o uso sustentável é mais estratégico porque reduz o desmatamento e, nas técnicas de manejo utilizadas, as árvores em crescimento absorvem grande quantidade de gases estufa, contribuindo significativamente para frear o aquecimento global.

CB, 15/02/2007, Opinião, p. 21

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